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Memória U.Porto

U.Porto - Edifícios com história

Jardim Botânico

Fotografia do Jardim Botânico / Photo of Botanical GardensA criação de um jardim botânico na Universidade do Porto constituiu um desejo que a Faculdade de Ciências manifestou desde muito cedo.

Em 1836, a reforma do ensino introduzida por Passos Manuel tinha conduzido à criação de um jardim botânico nas proximidades do edifício da Academia Politécnica do Porto, mais exactamente na cerca do extinto Convento de Nossa Senhora do Carmo dos Carmelitas Descalços, onde hoje se encontra a Guarda Nacional Republicana. Porém, no início do século XX, esses terrenos foram entregues à Guarda Municipal e, apesar da promessa de que seria doado um espaço equivalente à Academia Politécnica do Porto, o que é certo é que isso nunca chegou a suceder. Ainda se ponderou a possibilidade de instalar um jardim botânico nos terrenos do Palácio de Cristal, mas esta ideia também não seguiu avante.

Fotografia do Busto de Américo Pires de Lima, Jardim Botânico / Photo of Bust of Américo Pires de Lima, Botanical GardenA 31 de Julho de 1937, durante uma reunião do Conselho Escolar da Faculdade de Ciências em que se debateu largamente este assunto, foi aprovada por unanimidade a proposta de aquisição de uma propriedade que permitisse instalar de forma condigna não apenas um jardim botânico, mas também os museus de história natural da Faculdade, "um observatório ou posto astronómico", o observatório meteorológico da Serra do Pilar "agora precariamente instalado em terrenos do Ministério da Guerra" e um campo de jogos. Esta proposta ficou a dever-se aos professores Américo Pires de Lima e Gonçalo Sampaio.

A propriedade que a Faculdade de Ciências tinha em mente situava-se no Campo Alegre e tivera como donos João Henrique Andresen e Joana Andresen. Quando os herdeiros desta última colocaram à venda o terreno e a casa, a Faculdade de Ciências não só temeu ser surpreendida por outros interessados, como também receou que, no caso de haver vários compradores, o terreno fosse dividido em lotes e vendido a retalho. Outro receio, ainda, advinha da hipótese, não tão remota quanto isso, de que a Câmara Municipal do Porto tivesse projectos próprios para o local. E, se assim fosse, a edilidade portuense poderia sempre, em qualquer momento, pôr em prática uma acção de expropriação por utilidade pública.

Fotografia do Jardim Botânico - Muro que separa do acesso à Ponte da Arrábida / Photo of Botanic Garden - Wall that separates the access to Arrábida BridgeEm 1943 ainda nenhuma decisão fora tomada pela U.Porto referente à compra da Quinta e, tanto a moradia, como o parque e as estufas, mantinham-se votados ao abandono.
Entretanto, em meados desse ano, o Ministério da Educação Nacional tomou conhecimento de que a Quinta do Campo Alegre fazia parte dos terrenos a expropriar no âmbito dos planos de construção dos acessos à Ponte da Arrábida. Ouvido a este propósito, o Ministério das Obras Públicas e das Comunicações foi de parecer que, então, a propriedade não deveria ser adquirida pela Universidade do Porto. Contrariando esta opinião, o Ministro da Educação Nacional considerou que não estando, ainda, aprovado o plano definitivo de urbanização daquela zona, iria com certeza ser fixado em harmonia com o interesse público.

Os argumentos a favor da aquisição da Quinta do Campo Alegre pela Universidade do Porto eram numerosos. Por um lado, havia necessidades urgentes de assistência social aos estudantes, sobretudo aos que geograficamente provinham de locais afastados da cidade do Porto. Por outro lado, havia necessidades de educação física sentidas por toda a comunidade estudantil. E a estas necessidades vinham juntar-se as de descongestionamento do edifício ocupado pela Faculdade de Ciências, na Praça de Gomes Teixeira, as de instalação dos museus de ciências naturais e, ainda, das salas de cultura estrangeiras.

Em Maio de 1949 a Quinta foi adquirida pelo Estado, concretizando-se, assim, uma profunda ambição da Faculdade de Ciências. Em ofício dirigido ao Reitor, o Director da FCUP, Professor Augusto Hermenegildo Ribeiro Peixoto, deixou bem patente o seu júbilo e reconhecimento: "A aquisição da Quinta do Campo Alegre era uma das grandes aspirações desta Faculdade e não foi realizada sem porfiado esforço e grande tenacidade, tantos foram os obstáculos que se levantaram durante anos de longas diligências. A influência, a alma e o entusiasmo de V. Ex.ª foram decisivos e venceram, finalmente, todos os escolhos."

Fotografia de um Pormenor da vegetação do Jardim Botânico / Photo of a detail of the vegetation of the Botanic GardenSuperados novos impedimentos que atrasaram a entrega da Quinta à Universidade, em 7 de Janeiro de 1950 a Direcção-Geral da Fazenda Pública comunicou ao Reitor a autorização da cessão, a título precário, por parte do Ministério das Finanças, "da propriedade urbana e rústica (…) conhecida pela designação de "Quinta do Campo Alegre" para ser aplicada a diversos fins de interesse dos serviços desse organismo, que, entretanto, se responsabilizará pela sua guarda e conservação."
No dia 12 de Janeiro foi lavrado o auto de cessão na Direcção de Finanças do Distrito do Porto. Os jardins, o parque, as estufas e a maior parte dos terrenos aráveis foram atribuídos ao Jardim Botânico. Quase todo o pinhal ficou reservado para campo de jogos e para construção de uma residência estudantil.

Há muito que a Quinta se mostrava carenciada de uma recuperação profunda, a começar pelas zonas verdes. A primeira limpeza dos parques e dos jardins foi levada a cabo por uma turma de internados do Refúgio do Tribunal Central de Menores do Porto, que também procedeu ao conserto dos muros arruinados. Por seu turno, o Ministério das Obras Públicas concedeu a quantia de duzentos contos para reparar o palacete, ao mesmo tempo que determinou que fosse elaborado um projecto para a construção de um campo de jogos e de uma residência universitária. A reparação do exterior da moradia ficou a cargo da Direcção dos Edifícios Nacionais.

Fotografia da Casa Andresen - Fachadas sul e nascente enquadradas pelo Jardim Botânico / Photo of Casa Andresen - south and east façades seen from the Botanical GardenPara a Casa Andresen transferiram-se os herbários, a biblioteca e os gabinetes do naturalista e auxiliares, para além do gabinete do Inspector do Jardim que, até esta data, ocupavam o edifício da Praça Gomes Teixeira. Como se pretendia partilhar a propriedade com outros serviços da Universidade, defendeu-se que "entre a parte científica e a parte desportiva e residencial, a separação deve ser absoluta, visto que um jardim botânico é, ao mesmo tempo, um museu de ar livre, para ser visitado unicamente a horas próprias, sob a guarda e vigilância de pessoal competente e responsável. (…)".

Os planos de urbanização resultantes da construção da Ponte da Arrábida, projectada pelo Engenheiro Edgar Cardoso e cuja obra foi adjudicada em 1956, trouxeram consigo alguns contratempos. A Universidade acompanhou-os de perto, mas não foi possível obviar a todos os inconvenientes. No início dos anos 60 constatou-se que os serviços prestados pelo Jardim Botânico tinham sido afectados pela abertura das vias de acesso à ponte, em construção, e que as obras já haviam mutilado seriamente a área ajardinada. A estes reveses acrescentaram-se os causados pela ausência de vedações nas vias entretanto rasgadas e que faziam com que "o Jardim estivesse devassado, com todos os inconvenientes que daí resultavam."
De qualquer modo, nenhum destes problemas parecia ir ficar sem solução. A Junta Geral das Estradas encarregar-se-ia das vedações e o jardim seria compensado pela amputação que sofrera graças à entrega do terreno contíguo.

Foi assim que a Universidade do Porto ficou na posse da propriedade denominada "Quinta Burmester", comprada pelo Estado à Câmara Municipal do Porto em 1957 e também ela situada na Rua do Campo Alegre, confrontando com a Quinta Andresen pelo lado poente.

Fotografia do Jardim Botânico / Photo of Botanical GardensA recuperação do abandono a que o Jardim esteve votado durante as décadas de 30 a 50 ficou a dever-se, em grande parte, aos esforços do arquitecto paisagista Franz Koepp. Entre 1952 e 1967 desenvolveu trabalhos tão diversificados como a substituição do campo de ténis e dos pomares por pequenos jardins, a construção de estufas e a instalação de um sistema de rega semi-automático. Mais tarde, entre 1969 e 1972, o engenheiro silvicultor Renato Raul Barreto deu continuidade a esses projectos e tomou a iniciativa da construção de um grande lago, que combina a vertente estética com a utilitária, já que também é utilizado como reservatório de água.

Em 1983, a Direcção do Instituto de Botânica manifestou o seu regozijo pelo facto de o Plano Geral do Pólo 3 prever que o Instituto de Botânica seria instalado no edifício do "Complexo Pedagógico", no Campo Alegre, depois da mudança da Faculdade de Letras para as suas novas instalações, na Via Panorâmica. Mas foi precisamente neste ano que, devido ao estado de degradação atingido pelo Jardim, que este encerrou ao público as suas portas.

No final do ano seguinte, o Instituto de Botânica fez chegar ao Reitor um relato do estado das suas instalações: "Ao iniciar-se novo ano lectivo [1984-85] venho informar (…) que as estufas (…) se encontram num estado de profunda degradação (…). A estrutura em ferro, que suporta os vidros, desenvolveu forte camada de ferrugem, provocando fracturas em numerosos vidros. Mesmo substituindo vidros a água entra pela camada de ferrugem, danificando plantas e parte do calor escapa-se pelas numerosas frinchas. (…) As valiosas colecções de plantas, ainda hoje existentes nas estufas do Jardim Botânico do Porto, correm grave risco (…)."

Em 1987, a Reitoria da U.Porto manifestou junto da Câmara Municipal do Porto a necessidade de levar a cabo uma série de obras que tornassem o Jardim Botânico mais aberto aos portuenses. Entre outras ideias, havia a de construir uma casa de chá no próprio jardim.
Fotografia de uma Estufa, no Jardim Botânico / Photo of a Greenhouse, in the Botanical GardenEm 1988, a recuperação do Jardim Botânico foi inserida no programa de Recuperação de Jardins Históricos promovido pelo Instituto Português do Património Cultural e apoiado pela Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas. As intervenções não se limitaram aos espaços ajardinados, pois as edificações foram, também, objecto de beneficiação. Entretanto, outros projectos de melhoramento incidiram nas infra-estruturas do Jardim. Em 2007 decorria uma obra de remodelação integral desta área suportada financeiramente pela Universidade do Porto e por fundos europeus (FEDER). Em 2010, o Jardim reabria as suas portas.

Abrangendo uma área de 4 hectares, o Jardim Botânico é constituído por um jardim histórico de três secções divididas por sebes de japoneiras, uma zona de lagos com plantas aquáticas, um parque povoado por gimnospérmicas, faias, carvalhos, magnólias e tulipeiros entre outras espécies, um jardim de suculentas e uma zona de estufas com plantas tropicais, subtropicais e orquídeas.

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