Resumo (PT):
O presente relatório refere-se ao estágio curricular desenvolvido no âmbito do Mestrado em Ciências da
Educação, domínio Infância, Família e Sociedade, na FPCE da Universidade do Porto, e procura analisar, à
luz dos contributos teóricos das Ciências da Educação e da Sociologia da Infância, o processo trabalho
realizado num espaço de educação não formal, extraescolar e de tipo comercial, especialmente destinado à
infância.
O entendimento contemporâneo das crianças como atores sociais e consumidoras de bens culturais, de lazer
e entretenimento, encontrou na invenção de Parques Temáticos para a Infância uma oportunidade de
promover atividades com esse carácter e de as conciliar com objetivos educativos. Esse é o caso da
KidZania, um empreendimento multinacional recentemente implementado em Portugal, Lisboa, que
comporta até um total de 1000 crianças. Este relatório visa então compreender de que modos e até que
ponto os valores e princípios propagados pela KidZania vão ao encontro das expetativas das crianças –
terem aí acesso a todos os estabelecimentos e usufruto sem grandes condicionamentos. Assim, num
primeiro momento, analisam-se os documentos de divulgação da KidZania visando conhecer quais as
conceções de criança, de infância, de educação e de ludicidade, enquanto expressões dos direitos de
participação infantil, presentes e/ou subjacentes na sua filosofia, missão, objetivos, organização e
funcionamento. Num segundo momento, procura-se compreender, com base em observações diretas
realizadas no contexto de vários “estabelecimentos” da KidZania, e na análise de interações entre as
crianças e entre estas e os/as respetivos/as animadores/as, de que modos aquelas propostas de atividades se
realizam, a fim de aferir até que ponto conceções e práticas são (in)coerentes no que se refere ao brincar e à
ludicidade.
As reflexões críticas que se devolvem neste relatório apontam para a existência de diversas contradições e
ambiguidades: entre uma KidZania que se apresenta como um espaço de oportunidade para todos,
valorizando os direitos das crianças e a importância dos valores da sua cultura – brincar com outras
crianças - mas que, ao invés, na prática revela i) um acesso infantil altamente seletivo, predominando um
viés de classe social e económico que favorece a frequência de crianças oriundas de famílias pertencentes a
grupos da classe média alta e de instituições educativas ou escolares tanto privadas como públicas; ii) um
funcionamento dos “estabelecimentos” que limita as escolhas e ações das crianças em termos de tempo, de
recursos materiais, de idades e estaturas ou de exploração criativa das propostas. Por fim, e trazendo as
preferências e recomendações das próprias crianças, perspetivam-se sugestões relativamente ao
funcionamento de algumas atividades e à promoção de uma educação para todos mais inclusiva.
Idioma:
Português
Nº de páginas:
113