Resumo (PT):
Se entendermos o pop rock como componente fundamental da música popular, é possível tomar as suas manifestações, vivências, socialidades e produções como determinantes para a compreensão e explicação da estrutura social em que ocorrem e das identidades de quem a produz e reproduz. Mais ainda, se a sociologia não se interessa por essências, mas por processos, parece-nos que o campo do pop rock, ainda que recente, será uma matriz essencial de análise das representações sociais e da memória colectiva. É neste axioma que entroncamos os objectivos estruturadores da investigação que esteve na base desta Dissertação. É também aqui que advogamos o desenho do nosso objecto de base, a abordagem do rock como prática social enquanto produção e reprodução societal no âmbito da sociedade contemporânea, designadamente na sociedade portuguesa entre 1980 e 2010. O escopo analítico situou-se nas suas vertentes mais alternativas (consumo, mediação e produção), ou, se quisermos de uma forma mais fiel à realidade portuguesa, “vanguardistas”, considerando-o como um elemento central na estruturação e reestruturação das culturas populares urbanas. Consideramos o mundo do rock na sua plenitude, com os seus diferentes agentes, práticas, contextos, lógicas de produção e de reprodução social, numa problemática próxima dos «mundos da arte» tal como é desenvolvida por Becker (1988) ou Crane (1992), complementada por uma sociologia da mediação tal como a defende Hénnion (1993), sob um pano de fundo da teoria dos campos de Bourdieu (1992; 1996; 2004). Através de um percurso pela história e pela empiria, obtivemos um património de informação e de reflexão que permitiu ir a fundo na explicação e na compreensão do modo de estruturação do subcampo do rock alternativo em Portugal. A análise do objecto fez-se através do recurso a um dispositivo coerente e complexo filiado na teoria dos campos sociais enquanto fôlego teórico de longo alcance, coadjuvado por andaimes teóricos de médio alcance emanados das perspectivas tributárias da noção de “cena” e da chamada teoria da produção cultural. Assim, os moldes de fundação de desenho do subcampo do rock alternativo em Portugal incluíram um olhar tripartido em torno da produção, divulgação e consumo/fruição de manifestações musicais ligadas ao pop rock, com ênfase no quadro representacional do rock alternativo. Não poderemos deixar de referir que a nossa definição terminológica-conceptual de subcampo se ficou a dever às limitações do seu alcance em termos de extensividade, no tempo e no espaço, e às suas relações de dependência e de correlação ainda muito vincadas com o campo da música pop rock portuguesa em geral. É ainda um subcampo porque se atribui importância a uma análise mais segmentada e plural das manifestações da cultura popular massiva no presente, considerando as contingências, pluralidades e instabilidades culturais contemporâneas.
Palavras-Chave: Campo social; produção cultural; pop rock; mediação; consumo e fruição cultural; identidades; diacronia.
Abstract (EN):
If we understand pop rock as a fundamental component of popular music, it is possible to take its manifestations, experiences, sociabilities and productions as determinant to the comprehension and explanation of the social structure in which they occur and of the identities of those who produce and reproduce it. Moreover, if sociology isn’t interested in essences, but in processes, it seems to us that the pop rock field, though recent, will be an essential matrix to the analysis of social representations and collective memory. It is in this axiom that we place the structuring aims of the investigation which originated this Dissertation. Here we also defend the definition of our base object, the approach of rock as a social practice of societal production and reproduction in the context of contemporary society, in Portuguese society between 1980 and 2010. The analytic scope stands in its more alternative element (consumption, media coverage and production), or, truer to the Portuguese reality, “vanguardists”, considering it as a central element to the structuring and restructuring of popular urban cultures. We consider the world of rock in its extensiveness, with its different agents, practices, contexts, logics of social production and reproduction, in an approach close to the «worlds of art» as developed by Becker (1988) or Crane (1992), complemented by a sociology of media coverage as defended by Hénnion (1993), backed by Bourdieu’s field theory (1992; 1996, 2004). A review of history and empiricism permitted extensive information and reflection which allowed us to go deeper in the explanation and comprehension of the structuring mode of the alternative rock subfield in Portugal. The analysis of the object was done using a coherent and complex device related to the social fields theory as long range theory, supported by medium range theoretical support resulting from contributive perspectives of the notion of “scene” and the so-called cultural production theory. Therefore, the foundations from which were created a drawing of the alternative rock subfield in Portugal included a tripartite view of the production, disclosure and consumption/fruition of musical manifestations related to pop rock, with emphasis on the representational view of alternative rock. It should be noted that our conceptual and terminological definition of subfield is due to the limitations of its range in terms of extensiveness, in time and space, and its relation of dependence and correlation, still very evident within the Portuguese pop rock music field in general. It is also a subfield because importance was given to a more segmented and plural analysis of the manifestations of the massive popular culture at present, considering the contemporary cultural contingencies, pluralities and instabilities.
Key-words: Social field; cultural production; pop rock; media coverage; cultural consumption and fruition; identities; diachrony.
Idioma:
Português
Tipo (Avaliação Docente):
Científica
Notas:
Trabalhar sociologicamente um objecto tão polimorfo e complexo como o que aqui definimos – o subcampo do rock alternativo em Portugal nos últimos trinta anos – é aceitar, à partida, que terminar não pode ser mais do que fechar uma etapa, criar um intervalo, num caminho que, aliás como na generalidade dos trabalhos em ciências sociais, está sempre em aberto a novas explorações. A instabilidade dos fenómenos que aqui abordámos confere a este esforço uma necessidade e, mais do que uma necessidade, uma obrigação de segmentar etapas e de (re)construir permanentemente, a partir dessa segmentação, desses recortes, o objecto. Na verdade, o recorte do objecto foi a tarefa heurística e epistemologicamente mais delicada que levámos a cabo, mas que nos possibilitou, uma vez realizada, o esclarecimento dos processos sociais complexos que pautam este subcampo da música em Portugal.
Nº de páginas:
1426