O CORPO TRANSPARENTE
Desenhar é a abertura de uma forma. É deste modo que Jean-Luc Nancy resume as principais razões porque desenhamos. Por um lado, antecipamos o que uma forma poderá ser. Por outro, desenhar envolve uma percepção que questiona ao mesmo tempo que regista. É por isso que embora os desenhos pareçam imagens, eles não nos dão apenas a imagem dos objectos, mas os objectos a serem interrogados.
Esta diferença está na base do uso continuado do desenho no campo da imagética científica: desenhar torna evidente que qualquer imagem é uma reelaboração subjectiva do que representa; e que na sua origem está uma realidade que é sempre filtrada pelo dispositivo com que se olha, mesmo quando – e sobretudo – se revela na aparência da sua neutralidade.
Desenhar é, por isso, o exercício de um pensamento que se quer tornar transparente.
A exposição “O Corpo Transparente” é o resultado de uma experiência pedagógica ocorrida nos últimos anos entre a FBAUP e o Museu de Anatomia Professor Nuno Grande, do ICBAS, em torno da prática do desenho num Museu de Anatomia.
Esta experiência envolve os estudantes de Desenho 2 das Licenciaturas em Artes Plásticas e Design de Comunicação. Recupera um espaço de transversalidade que o desenho sempre cultivou entre as diferentes áreas do conhecimento, como uma lingua franca que revela as propriedades comuns dos fenómenos investigados, entre as artes, o design e a ciência. Reflete a vontade de usar o desenho em territórios diferenciados dentro da Universidade, como parte de uma formação artística que reconhece a capacidade de o desenho informar e ser informado por outras áreas de saber.
É, por isso, uma exposição em que se mostram os processos de descoberta e invenção através dos quais cada estudante se confronta com as realidades estranhas do corpo interior, num jogo de simulações que encontra no espaço do Museu Anatómico uma metáfora epistemológica do próprio território do desenho.
O Departamento de Desenho,
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto