Resumo (PT):
A investigação em resiliência tem contribuído para o esclarecimento dos recursos
internos e externos que favorecem um ajustamento positivo em situações de risco, como é o
caso da perceção de discriminação. Estudos prévios revelam que as associações desta
perceção variam consoante o grupo de pertença seja estigmatizado ou dominante na
sociedade. Neste estudo, foram exploradas as variações em função da orientação sexual na
saúde mental (indicador de ajustamento), na perceção de discriminação (fator de risco), nas
estratégias de coping - reinterpretação positiva e autoculpabilização (mecanismos de
proteção internos) e na qualidade das relações com o pai e com a mãe - conflito e perceção
de admiração - e o otimismo familiar (mecanismos de proteção externos). Adicionalmente,
em ambos os grupos, exploraram-se quais os mecanismos preditores da saúde mental e
também se as estratégias de coping são mediadoras da associação da perceção da
discriminação na saúde mental. A amostra é constituída por 198 participantes, adolescentes
e jovens adultos, com idades entre os 14 e os 29 anos (M = 17.8; DP = 3.21). Destes, 73.3%
são do sexo feminino e 51.8% identificaram a sua orientação sexual como lésbica/gay ou
bissexual (LGB). Não foram observadas diferenças significativas em função da orientação
sexual na saúde mental ou na utilização de estratégias de coping, mas foi observado que os
jovens LGB percecionam maiores níveis de discriminação percebidos. Os resultados
revelaram que no grupo dos heterossexuais, a variável preditora significativamente positiva
da saúde mental é o género e a preditora significativamente negativa é a autoculpabilização.
No grupo dos LGB, as variáveis preditoras significativas positivas da saúde mental foram o
género e a reinterpretação positiva e as preditoras negativas foram o método de recolha, o
tratamento injusto e a autoculpabilização. No que diz respeito ao efeito de mediação apenas
nos participantes LGB se observou que a influência da discriminação na saúde mental é
parcialmente mediada pela autoculpabilização. Nos participantes heterossexuais não foi
observada qualquer mediação. Os resultados parecem corroborar conclusões de estudos
anteriores que sugerem que a perceção de discriminação é mais frequente e tem um efeito
mais nocivo quando se pertence a um grupo minoritário, mas que alguns mecanismos de
proteção podem amortizar o seu impacto, sugerindo. Assim, os resultados deste estudo
apontam para a necessidade de adoção de estratégias de intervenção que tenham em
consideração a especificidades associadas à orientação sexual das pessoas.
Language:
Portuguese
No. of pages:
55