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Crónica ICBAS News | One Health | novembro 2023

A cólera dos novos tempos

coleraGuiné-Bissau, epidemia de cólera 2012. Enfermaria de cólera (Foto AABordalo)

O conceito One Health, actualmente adoptado pelo ICBAS, considera que na ausência de um ambiente saudável, não é possível mantermos as plantas e animais com saúde e, por arrastamento, a saúde das pessoas fica em risco. Afinal os humanos são parceiros iguais de uma complexa organização chamada Natureza.

A abordagem One Health não surgiu do nada. A revolução industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, veio alterar a relação com os meios de produção. Do ambiente retiravam-se, vorazmente, as matérias primas e o ambiente recebia o refugo doméstico, industrial, agrícola e comercial, quantas vezes tóxico. As pessoas, nas cidades e nos campos, passaram a ser peças descartáveis da engrenagem produtiva, almejando apenas o lucro.

A ganância pelas matérias primas conduziu ao abate das florestas na Europa, em África e no Novo Mundo, à medida que a atmosfera se saturava em gases tóxicos e as águas e solos se inquinavam. O papel moderador do clima e a produção de oxigénio pelo oceano ficou comprometida. Surgiram novas doenças locais ou transportadas de além-mar, para as quais a visão antropocêntrica da saúde não estava preparada.

Desde 1961 está em marcha a sétima pandemia de cólera. Não consta dos títulos da imprensa, mas infecta, debilita e mata milhões em África, Subcontinente Indiano e América Latina. O vibrio responsável, de origem marinha, passou a viver, também, na água doce e, assim, dissemina-se mais rapidamente, acompanhando a pobreza. Vasco da Gama esvaiu-se em fezes na véspera de Natal de 1524, frente a Cochim, por ter bebido água indiana contaminada, usada como arma de guerra. O aquecimento dos mares e oceanos e a redução da salinidade fruto do degelo leva os primos vibrios a emergirem com um potencial tóxico superior. E eles estão bem presentes, e em grande número, nas nossas praias. Água - bivalves/crustáceos - humanos, uma troika potencialmente mortífera. Como não são de origem fecal, o espaço Europeu ignora-os.

Seria possível fazer diferente? Claro que sim!  Mas a consciência ambiental dos humanos ainda hoje não é universal. Os negacionistas recusam as alterações climáticas apesar de as sofrermos no dia-a-dia, os mais pobres entre os pobres procuram apenas sobreviver num ambiente miserável, a ganância pelos recursos e os lucros continuam a dominar as nossas sociedades, sob a batuta, agora, dos fundos de investimento sem rosto. Se os decisores políticos não estiverem ganhos para os desafios actuais e futuros da saúde na vertente One Health, esta nossa permanência no planeta Terra será bem mais curta, fruto da acelerada degradação do ambiente que vamos deixando às gerações seguintes.

Nota: o autor são segue o acordo ortográfico em vigor

Adriano Bordalo e Sá
Coordenador do Gabinete One Health do ICBAS
Diretor do Departamento Estudos de Populações 

ICBAS, 28.NOV.2023

[Texto anexo à newsletter de novembro 2023 - https://mkt.up.pt/icbas/email/preview/98

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