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Diretor da FMUP integra a curadoria da nova exposição do Museu Soares dos Reis

DEPOSITORIUM 2 estabelece uma relação entre arte e medicina a partir de obras escolhidas da reserva do próprio Museu

O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o Reitor da U.Porto e os diretores da Faculdade de Medicina Dentária (FMDUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) são os curadores da nova exposição do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), que abriu ao público no passado dia 2 de dezembro.

Intitulada “DEPOSITORIUM 2”, a exposição apresenta um conjunto de peças das coleções de cerâmica, desenho, escultura, lapidária e pintura, escolhidas da reserva do MNSR por Altamiro da Costa Pereira (FMUP), António de Sousa Pereira (U.Porto), Miguel Pinto (FMDUP) e Henrique Cyrne Carvalho (ICBAS).

O circuito expositivo inclui desenhos de anatomia de António Soares dos Reis e pinturas a óleo do século XIX alusivas às ciências médicas e assinadas por artistas portugueses como Artur Loureiro, Aurélia de Sousa e José Malhoa. Fazem ainda parte da exposição esculturas de Soares dos Reis e de Teixeira Lopes, Pai. A peça mais antiga é uma estela funerária, datada do século II, recolhida na Serra de Santa Justa, em Valongo.

A partir desta exposição, o Museu permite não só o acesso a obras que têm permanecido longe dos olhares do público, como também propõe uma reflexão sobre a arte e a medicina, dois conceitos historicamente interligados.

A exposição, que resulta de uma parceria com a Casa Comum da U.Porto, ficará patente até ao segundo trimestre de 2022 e poderá ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00, no Museu Nacional Soares dos Reis.

Mais informações aqui.

Foto: Desenho anatómico atribuído a Soares dos Reis, uma das obras indicadas pelo diretor da FMUP para esta exposição.

“A Medicina na Arte e a Arte da Medicina”

À semelhança dos estudos renascentistas de André Vesálio e de Leonardo Da Vinci, o desenho anatómico aqui exposto - provavelmente da mão de Soares dos Reis, escultor portuense do século XIX - visa a compreensão científica e artística do corpo humano, como base do conhecimento médico. Em contraste, as figurações seiscentistas dos gémeos São Cosme e São Damião, médicos romanos do século III, ou a imagem quinhentista de Santa Luzia, mártir do imperador Diocleciano, aludem não tanto a bases científicas da medicina, mas, sobretudo, à intervenção da fé - i.e. ao poder da religião - como intercessora da cura, concebida não tanto como um triunfo da ciência médica, mas antes como um milagre mediado por divindades cristãs. De igual modo, os dois ex-votos oitocentistas constituem representações artísticas de curas milagrosas, i.e. são pinturas ingénuas e piedosas oferecidas em agradecimento a intervenções curativas - de Nossa Senhora ou de santos protetores - em favor de doentes e aflitos.

Assim, se a arte nos pode facilitar o estudo de ciências fundamentais da medicina - como a da anatomia - ela poderá igualmente contribuir para o reforço de crenças ancestrais que, não raras vezes, são igualmente importantes para a eficácia da ars medica, entendida aqui como ars curandi. Mas o que será a história da medicina senão o relato - envolvendo xamãs, feiticeiros, druidas, curandeiros, médicos, cientistas e/ou políticos, dependendo da geografia e do tempo - de um milenar confronto entre a eficácia generalizada de tecnologias oriundas da medicina enquanto ciência e os valores culturais de uma mais individualizada medicina enquanto arte?

Altamiro da Costa Pereira
Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto