Resumo (PT):
Brasil do “terceiro mundo”, déspota, paternalista mas tropical. Assim seria o Brasil,
dos anos 60, percepcionado por aqueles que, conscientes da realidade politica e social do
país, não aceitavam a sua desvalorização, condenando os estereótipos e criando uma posição
anti-colonialista. Por entre as palavras imagéticas de Oswald de Andrade, fixavam-se registos
referenciais geradores de um caminho ao encontro da felicidade do Brasil anterior à chegada dos
portugueses. A necessidade de fugir ao provincialismo nordestino motivara um grupo baiano
a deslocar-se para o Rio de Janeiro. Do choque cultural provocado por essa mudança, surge um
universo criativo difundido pelas diversas componentes artísticas motivado por uma crescente
necessidade de ruptura. O subdesenvolvimento, como ferramenta recursiva, surgia como forma
de atingir progresso. O objectivo residiria na criação de uma identidade independente que
projectasse o país nas rotas artísticas internacionais, fazendo frente ao regime militar imposto
no país desde 1964. Entre os percursos domésticos da destrutiva obra Tropicália, a hipocrisia
personificada na “transa” quotidiana da peça d’O Rei da Vela, a violência política do efusivo filme
Terra em Transe e a sonoridade exótica das novas canções-manifesto - surge o Tropicalismo. Este
momento, produto da intencional experimentação, deixa marcas incontestáveis nos percursos
das artes brasileiras. Assim sendo, qual o papel da arquitectura neste contexto artístico? Estariam
arte e arquitectura em confronto ou seriam aliadas?
Na arquitectura era visível o entusiasmo motivado pelo apoteótico reconhecimento
internacional a partir de Brazil Builds (1943), e com a posterior construção da expectante
“cidade dos homens livres” - Brasília (inaugurada em 1960). No entanto, esta arquitectura não
mostrava preocupação pelo persistente problema social que se verificava no país. Estando no
auge da sua actividade, influenciada pelos ensinamentos corbusianos, atingia um patamar que,
de certa forma, se distanciava das demais artes e seus propósitos. O Modernismo mostrava ser
a presente alternativa ao passado colonial, que, no entanto, não parecia preocupado com os
flagelos sociais.
No entanto, por trás da cortina do palco planáltico de Niemeyer e Lucio Costa, brutalizado
por músicos e cineastas, parece surgir um activismo arquitectónico menos divulgado mas
não menos sereno, que, a par com as vanguardas artísticas, considerava o momento histórico
como de ruptura. Neste sentido, revela-se um oculto objectivo de complementar o sucesso
modernista, actividades experimentais que ideologicamente fariam parte de um dos mais
ricos períodos da história da cultura brasileira até então. Curto mas marcante, o Tropicalismo
dominou parcialmente a percepção do mundo sobre o Brasil. No entanto, estaria o Tropicalismo
presente na prática arquitectónica?
Abstract (EN):
Brazil from the “third world”, opressor, paternalista but tropical. That is how it would
be, Brazil from the sixties, perceived by those who, aware of the political reality of the country,
didn’t accepted it’s devaluation, condemning the stereotypes and creating an anti-colonialist
position. In between the words of Oswald de Andrade, there were referred registrations which
generated a path to the happiness of Brazil from before the Portuguese arrival. In the needing
of getting away from the northeast provincialism, a group of people from Bahia was motivated
to move to Rio de Janeiro. From the cultural impact caused by that change, a new creative
universe arises, spread by several artistic fields and motivated by the crescent need of rupture.
Underdevelopment emerges as a way to reach progress. The aim would be the creation of an
independent identity which was able to launch the country in the international art scene, going
against the military regime imposed in the country since 1964. Between the domestic routes
from the destructive Tropicália, the hypocrisy personified in the play O Rei da Vela, the political
violence from the effusive film Terra em Transe and the exotic sonority of the new manifesto
songs arises Tropicalismo. This moment, outcome of the intentional experimentation, leaves
incontestable marks in the Brazilian arts development. Therefore, which is the architecture role
in this artistic context? Would art and architecture be in confrontation or would be allied?
In architecture it was noticeable the enthusiasm motivated by the apotheotic
international recognition after Brazil Builds (1943) and the subsequent construction of
the expecting “cidade dos homens livres” – Brasília (inaugurated in 1960). However, this
architecture didn’t show concern with the persisting social issues of the country. At the peak of
its activity, influenced by Le Corbusier lessons, reached a condition which, in a certain way, was
away from the other arts and their proposals. Modernism proved to be the present alternative to
the colonial past, but, otherwise didn’t seem worried with the social situation.
Nevertheless, behind the curtain of the Planalto stage of Niemeyer and Lucio Costa,
brutalized by musicians and cinematographers, an architectonic activism, less spread but not
less serene, emerges, considering, as the other arts, the moment as a rupture. In that way, an
hidden goal to complement the modernism success is revealed, experimental activities which,
ideologically, would be a part in one of the richest periods of the cultural history of Brazil, till the
moment. Short but remarkable, Tropicalismo dominated in a certain way the world perception
of Brazil. However, would Tropicalismo be a part in the architectonic practice?
Idioma:
Português
Tipo (Avaliação Docente):
Científica
Tipo de Licença: