Resumo (PT):
“Every culture defines itself at least in part by what it cherishes of its past heritage. The built environment is an important if not essential part of this legacy, though in many cities of the developing world it is being destroyed” [Serageldin, 1997].
Em contextos de escassos recursos económicos, o património construído é recorrentemente transferido para segundo plano na escala das prioridades, não considerando o seu possível papel enquanto catalisador para o desenvolvimento. Esta situação é agravada em territórios colonizados, onde a ruptura ideológica da auto-determinação e a fuga das elites coloniais de gestão arrastaram também o esvaziamento de meios técnicos especializados, reduzindo assim os meios para produção e manutenção de recursos.
Mais de três décadas depois, numa época assumidamente rendida à mundialização, o reconhecimento da multiplicidade de afiliações e referências na construção identitária, surge já de forma mais natural, e é com interesse e curiosidade que se investigam mecanismos de assimilação e de mútua influência, de que o património edificado é também testemunho.
O luso-tropicalismo constitui uma ideia intensamente relacionada com a obra de Gilberto Freyre [Castelo, 1998], nascida do estudo da construção do território Brasileiro e da percepção da actuação do português no mundo através de uma estratégia de miscigenação, de mútua influência e de síntese entre a portugalidade e os novos contextos onde se implanta.
O território São-Tomense materializa também essa abordagem: forte exportador mundial de cacau entre o fim do século XIX e os primeiros anos do século XX, constituiu o cenário de implantação de uma extensiva missão de reorganização territorial e socioeconómica, da qual resultaram estruturas produtivas – roças – de relevante valor funcional e arquitectónico [Figura 1]. A compreensão dos seus mecanismos de implantação, estratégias e sistemas construtivos [Figura 2], assim como a análise de relações e transposições a partir de diferentes influências arquitectónicas ou o seu estado de conservação, poderão contribuir para a percepção do potencial destas estruturas enquanto motores para o desenvolvimento, não só do ponto de vista cultural e da produção de conhecimento, mas também socioeconómico, de forma a transpôr os extensos desafios que se colocam neste contexto de escassos recursos .
As dificuldades estendem-se a vários níveis, partindo de uma frágil situação socioeconómica: a escassez de recursos financeiros, materiais e técnicos, a falta de preparação especializada e de meios, a pluralidade de agentes de intervenção e de decisão, e a dificuldade em assegurar a continuidade e sustentabilidade dos esforços e investimentos introduzidos, contituem alguns dos factores mais preocupantes. Estas condições agravam-se ainda com as questões territoriais: o clima, a intensa pluviosidade e a invasiva vegetação (que contribuem para a aceleração da degradação do edificado), a micro-escala e a insularidade (que dificultam a circulação de materiais e recursos humanos), a topografia, as frágeis infra-estruturas e acessibilidades, ou as dúbias questões de propriedade, constituem ainda um desafio adicional.
Através do presente estudo, pretende-se contribuir para o conhecimento e documentação das estruturas existentes, assim como para a discussão do seu potencial e de mecanismos de intervenção.
Idioma:
Português
Tipo (Avaliação Docente):
Científica
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