Resumo (PT):
O acto de ‘comprar e vender’ deixou há muito de ser considerado uma mera necessidade para ser visto
como um dos principais geradores de riqueza das sociedades pós-modernas. Deste modo, a actividade
comercial não só tem sido a causa de um acérrimo debate (muitas vezes pouco substanciado) por parte
de uma grande panóplia de actores, como também tem sido, cada vez mais, objecto de uma detalhada
(e substanciada) investigação. Se à primeira vista poderá parecer que já tudo foi dito no que respeita ao
papel desta actividade na cidade moderna, existem contudo dois elementos cruciais que aparentam não
fazer parte do pensamento teórico e das execuções práticas desta vertente de investigação. Primeiro, o
comércio é considerado, a maior parte das vezes, como uma variável dependente, isto é, a sua
localização, caracterização e performance é tida como uma mera consequência das condições de
mercado e dos padrões de consumo. Poucos são aqueles que assumem que o comércio poderá ter um
papel activo, em vez de reactivo, na estruturação do espaço urbano. Segundo, em consequência da
primeira razão, a maior parte dos estudos sobre o comércio têm-se focado nas vertentes geográficas,
económicas e sociais, muitas vezes apenas com o intuito de maximizar a rentabilidade dos
estabelecimentos. A vertente morfológica aparenta estar, geralmente, ausente da investigação sobre
comércio. Apenas nos últimos dez anos um conjunto de autores tem tentado abordar esta problemática,
mas mesmo assim esta contribuição tem aparecido de uma forma esporádica, através de visões muito
focadas (análise de uma só variável numa só cidade) mas que contudo não abordam a micro-escala, e
com uma clara falta de integração inter-disciplinar. Paradoxalmente, esta falta de integração tem como
consequência a falta de informação disponível sobre comércio, o que contribui para a falta de um
conhecimento geral sobre as dinâmicas da actividade, o que bem poderá justificar a falta de adequação
de muitas decisões tomadas, mesmo que bem-intencionadas, e a inexistência de políticas públicas
convenientemente ajustadas.
Consequentemente esta investigação considera como basilares dois factos: que o comércio poderá não
ser (sempre) uma variável dependente e que a componente ‘morfológica’ poderá contribuir, mais do
que normalmente é considerado, para a compreensão dos padrões comerciais nas cidades. Com isto em
mente a revisão da literatura tem como objectivo mostrar que um elo teórico pode ser estabelecido
entre a forma e a estrutura das cidades, e a paisagem comercial que elas possuem, através da
contribuição integrada das várias disciplinas que abordam este tema. Uma vez isto estabelecido, e
focando particularmente nas cidades Portuguesas de média dimensão, provas concretas da existência
deste elo são obtidas através de uma análise de casos de estudo que contempla mais do que uma
cidade, compila informação e usa técnicas de investigação provenientes de mais do que uma
disciplina, e introduz novas metodologias. Consequentemente, quatro bases de dados/modelos virtuais,
um para cada cidade, completamente originais, contendo informação comercial, morfológica,
estrutural e temporal, foram construídos, explorados e comparados numa base SIG. Se estes modelos
permitem contribuir para eliminar a falta de dados existentes sobre a actividade comercial, a sua
interpretação, à micro-escala, pode revelar quais as variáveis morfológicas dos espaços urbanos que
podem afectar (e ser afectadas por) o comportamento dos espaços comerciais. Neste sentido, esta
investigação pode oferecer a justificação para fenómenos (...)
Abstract (EN):
The act of buying and selling has evolved from being considered a simple need to being regarded as
one of the principal wealth generators of post-modern societies. Commercial activity has therefore not
only been the cause of much (most of the times unsubstantiated) debate by a large array of actors but
also, increasingly, been the object of detailed (and substantiated) research. If at first glance it appears
that everything has already been said regarding this activity’s role in modern cities, there are
nonetheless two crucial elements that seem to elude current theories and practices. First commerce is
more than often considered as a dependent variable, that is, its location, characterization and
performance is taken to be a mere consequence of the city’s market conditions and consumer behavior
patterns. Few have assumed that commerce can actually have an active, rather than a reactive, role in
the structuring of the urban realm. Second, due to the first reason, most commercial studies have
focused on the geographical, economic and social fields of research, more than often merely
concerned with maximizing market shares. The morphological sense seems to be generally absent in
commercial research. Only in the last 10 years have authors addressed this issue, but it has mostly
been through the form of sporadic contributions, presenting focused views (considering one single
variable in one single city) that nonetheless do not zoom on the micro-scale, and lacking
interdisciplinary approaches. This lack of integration, paradoxically, results in a lack of data available,
which also contributes to a general lack of knowledge, that can justify the inadequacy, even if well
intended, of many commerce-related decisions and the inexistence of proper public policies.
This research, therefore, acknowledges two facts: that commerce may not (always) be a dependent
variable and that the ‘morphological’ component can contribute, more than it is supposed, to the
understanding of commercial patterns in cities. With this in mind the literature review is devised in
order to show that a theoretical link between the form and structure of cities and the commercial
landscapes they possess can be established, through the contribution of various fields of research.
Once this is achieved, and focusing particularly on the Portuguese medium-sized city scenario,
concrete evidences on the existence of this link are obtained through a case-study analysis that
contemplates more than one city, compiles data and research techniques from more than one field, and
introduces new methodologies. Consequently, four original GIS city-models/databases, one for each
city, containing commercial, morphological, structural and temporal variables were produced,
explored and compared. If these models can contribute to overcome the lack of data on commercial
research, their interpretation can unveil which micro-scale morphological variables inherent to city
spaces can affect (and be affected by) commercial behaviors. In this regard this research can offer the
justification for known, but seldom proved, phenomena, contradict popular ’myths’, and provide new
findings and hypothesis. These include (i) a series of indicators concerning commercial/morphological
behaviors and needs, that can constitute values of reference or comparison for other studies or
commercial policies; (ii) the evidence that cities with more morphological (rather than statistical)
similarities will have, on the micro-scale, more commercial similarities; and (iii) at least six overall
aspects that constitute the (...)
Idioma:
Inglês
Tipo (Avaliação Docente):
Científica
Notas:
Tese de Doutoramento em Engenharia Civil – Planeamento do Território e Ambiente. Departamento em Engenharia Civil apresentada à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e orientada por Paulo Manuel Neto da Costa Pinho, Existe um outro registo da tese: https://sigarra.up.pt/flup/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=26771, inserida pelos serviços no Sigarra, com a identificação do autor enquanto aluno da FEUP (nº do aluno 200204017)
Nº de páginas:
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