Resumo: |
A Agenda 2030 preconiza a promoção de: 1) "saúde e bem-estar" (META 3) por via da mitigação de um vasto conjunto de problemas de saúde; e 2) "sociedades pacíficas" (META 16) por via de redução de todas as formas de violência e insegurança. Neste contexto, a violência tem comprovadamente efeitos duradouros na saúde física e mental, representando uma ameaça à saúde pública. A psicopatia é considerada um fator de risco para a violência. No entanto, a investigação na psicopatia é marcada pela indefinição do conceito, o que limitou até recentemente a compreensão do seu papel no comportamento antissocial. Historicamente, a psicopatia foi concetualizada como um construto unitário, representando um
grupo homogéneo de indivíduos. No entanto, é atualmente aceite que a psicopatia é um construto multidimensional que inclui traços heterogéneos. Como tal, a ambição principal redirecionou-se agora para procurar correlatos distintos destes traços - nomeadamente no que diz respeito à expressão antissocial - para desenvolver intervenções mais eficazes.
Atualmente, é consensual que a psicopatia engloba dois processos etiológicos distintos que estão na base de diferentes manifestações da psicopatia: Baixo Medo (BM) e Externalização (EXT). Enquanto a EXT não é um componente específico da psicopatia e coocorre com outros distúrbios de EXT (ex: abuso de substâncias), o BM é considerado uma característica nuclear e específica da psicopatia. A EXT inclui um conjunto de características (como impulsividade, irresponsabilidade e agressão reativa) e alterações cerebrais (défices frontais) que têm um papel bem estabelecido no comportamento antissocial. Pelo contrário, a evidência é escassa quando se avalia o papel do BM no comportamento antissocial. Alguns autores propõem que características do BM (como baixa ansiedade, dominância social, charme superficial e manipulação) e alterações cerebrais (disfunção no
sistema límbico) podem predispor para padrões mais sofist |
Resumo A Agenda 2030 preconiza a promoção de: 1) "saúde e bem-estar" (META 3) por via da mitigação de um vasto conjunto de problemas de saúde; e 2) "sociedades pacíficas" (META 16) por via de redução de todas as formas de violência e insegurança. Neste contexto, a violência tem comprovadamente efeitos duradouros na saúde física e mental, representando uma ameaça à saúde pública. A psicopatia é considerada um fator de risco para a violência. No entanto, a investigação na psicopatia é marcada pela indefinição do conceito, o que limitou até recentemente a compreensão do seu papel no comportamento antissocial. Historicamente, a psicopatia foi concetualizada como um construto unitário, representando um
grupo homogéneo de indivíduos. No entanto, é atualmente aceite que a psicopatia é um construto multidimensional que inclui traços heterogéneos. Como tal, a ambição principal redirecionou-se agora para procurar correlatos distintos destes traços - nomeadamente no que diz respeito à expressão antissocial - para desenvolver intervenções mais eficazes.
Atualmente, é consensual que a psicopatia engloba dois processos etiológicos distintos que estão na base de diferentes manifestações da psicopatia: Baixo Medo (BM) e Externalização (EXT). Enquanto a EXT não é um componente específico da psicopatia e coocorre com outros distúrbios de EXT (ex: abuso de substâncias), o BM é considerado uma característica nuclear e específica da psicopatia. A EXT inclui um conjunto de características (como impulsividade, irresponsabilidade e agressão reativa) e alterações cerebrais (défices frontais) que têm um papel bem estabelecido no comportamento antissocial. Pelo contrário, a evidência é escassa quando se avalia o papel do BM no comportamento antissocial. Alguns autores propõem que características do BM (como baixa ansiedade, dominância social, charme superficial e manipulação) e alterações cerebrais (disfunção no
sistema límbico) podem predispor para padrões mais sofisticados e premeditados de condutas antissociais (ex: crimes de colarinho branco) que são essencialmente diferentes daqueles descritos na EXT (agressão reativa com elevada carga emocional). Assim, a perspetiva principal é de que os défices na aquisição do medo podem ser uma das forças motrizes por trás dos comportamentos antissociais no BM. No entanto, há um conjunto de premissas que precisam de ser testadas primeiro no nível básico antes de tal pressuposto ter implicações para a prática. Neste sentido, o principal objetivo do P-FEAR é primeiramente explorar se existe uma disfunção nos mecanismos de aquisição de medo num perfil de
psicopatia caracterizado por traços de BM (nível básico) para depois avaliar se esses défices estão relacionados a padrões de agressão premeditada (nível translacional). Para esse efeito, os mecanismos básicos de medo na psicopatia serão decompostos em dois componentes de acordo com o Modelo do Medo: respostas conscientes e respostas automáticas a situações de ameaça. Até muito recentemente, os mecanismos do medo eram estudados como um construto unitário, sendo que não existem estudos à data que avaliem a total complexidade dos componentes do medo, principalmente ao equacionar como eles se relacionam com diferentes manifestações da psicopatia e agressão. O acumular de resultados através de estudos independentes sugere que os défices de medo na psicopatia são essencialmente circunscritos ao componente automático (e não ao consciente como até então se acreditava) não ficando claro, contudo, qual é o papel específico do BM nesta associação e como tal pode afetar padrões de agressão |