Resumo (PT):
Uma das singularidades da leitura de Fernando Pessoa desenvolvida por Eduardo
Lourenço consiste na apreciação atenta de uma certa afinidade (parcamente identificada
pela crítica) entre aspectos da obra do poeta português e a cultura centro-europeia.
Rejeitando a imagem reiterada de Pessoa enquanto poeta de formação quase
exclusivamente inglesa ou anglo-saxónica (tendo Shakespeare, Milton e Whitman como
mestres), Lourenço procurou sublinhar a estranha presença da figura de Luís II da
Baviera, Rei-Virgem, Rei-Sombra, Rei-Sonho no imaginário pessoano, designadamente
no âmbito do poema em prosa de recorte pós-simbolista «Marcha fúnebre para o
rei Luís Segundo da Baviera», integrado em O Livro do Desassossego. A dedicação de
Lourenço à evocação de Luís II da Baviera (mito pessoalíssimo de Fernando Pessoa, sem
expressão no contexto da cultura portuguesa) constitui a possibilidade de elaboração
de uma teoria em torno da relevância da figura do monarca centro-europeu, rei louco
apaixonado da música de Wagner, que se sonhava a si mesmo Lohengrin ou Parsifal, no
âmago do pensamento poético de Pessoa, especialmente no que concerne às temáticas
do “não-amor”, do “apelo do nada” e do “desejo de morte”, que aqui analisaremos como
expressões de uma existência pura e eminentemente poética, ou, se quisermos, uma
existência estética, exclusivamente estética, tal como desenhada pela filosofia pessimista
de Schopenhauer. Os ensaios de Eduardo Lourenço «Dois príncipes da melancolia:
Fernando Pessoa e Luís da Baviera» e «Fernando Pessoa ou o não-amor» serão os nossos
principais objectos de leitura e comentário; seguidamente, procuraremos, por nossa
conta e risco, convocar o conto Tristan de Thomas Mann como elemento de conclusão
do nosso breve estudo.
Abstract (EN):
One of the singularities of Eduardo Lourenço’s reading of Fernando Pessoa is his careful
appreciation of a certain affinity (rarely identified by critics) between aspects of the
Portuguese poet’s oeuvre and Central European culture. Rejecting the repeated image of
Pessoa as a poet with an almost exclusively English or Anglo-Saxon background (with
Shakespeare, Milton and Whitman as his masters), Lourenço emphasises the strange
presence of the figure of Louis II of Bavaria, Rei-Virgem, Rei-Sombra, Rei-Sonho in
Pessoa’s imagination, namely in the post-symbolist prose poem «Marcha fúnebre para o
rei Luís Segundo da Baviera», included in O Livro do Desassossego. Lourenço’s evocation
of Louis II of Bavaria (a very personal myth of Fernando Pessoa’s, and almost completely
absent from Portuguese culture) constitutes the possibility of elaborating a theory about
the relevance of the Central European monarch, a mad king in love with Wagner’s
music, who dreamt himself Lohengrin or Parsifal, at the heart of Pessoa’s poetic thought,
especially with regard to the notions of ‘non-love’, the ‘call of nothingness’ and the
‘desire for death’, which we analyse here as expressions of a pure and eminently poetic
existence, or, in other words, an aesthetic existence, exclusively aesthetic, as defined by
Schopenhauer’s pessimistic philosophy. Eduardo Lourenço’s essays «Dois príncipes da melancolia: Fernando Pessoa e Luís da Baviera» and «Fernando Pessoa ou o não-amor»
are the main objects of our reading, followed by Thomas Mann’s short story Tristan as a
conclusion to our brief study.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific