Resumo (PT):
O estudo arqueológico do mundo funerário pressupõe a abordagem
integrada aos espaços e topografi as da morte, assim como às materialidades neles
sedimentadas. No quadro dessas materialidades, a madeira ocupa um lugar
recorrentemente intangível, fruto do seu carácter perecível e do facto da sua preservação
num tempo longo só ser possível em meios muito específi cos ou fruto
da concretização de um leque estrito de processos. Não obstante, a utilização
deste material biológico foi intensa, sobretudo nos períodos que privilegiaram
o ritual de incineração dos defuntos, como o Alto Império Romano. Em contrapartida,
a partir do século III e, mais vincadamente, do IV, a crescente adesão à
inumação gerou transformações profundas na paisagem funerária. Neste âmbito,
também as modalidades de recurso à madeira se alteraram, e o papel central que
desempenhava enquanto combustível foi relegado para plano secundário. O registo
arqueológico refl ecte essa mudança, com os testemunhos correlacionados
com a Antiguidade Tardia e Alta Idade Média a tornarem-se progressivamente
mais escassos. Ainda assim, é possível arrolar um conjunto de vestígios directos e
indirectos, que demonstram a persistência do uso da madeira em ambiente funerário,
ainda que sob novas formas, nomeadamente enquanto estrutura protectora,
dispositivo de transporte ou receptáculo fi nal do corpo. Esses vestígios enformam
o foco do presente texto, que pretende constituir-se não como um arrolamento
exaustivo das ocorrências documentadas, mas como uma panorâmica sobre uma
realidade parcamente afl orada, mas prenhe de possibilidades interpretativas a respeito
de práticas e estratégias de enterramento.
Abstract (EN):
The archaeological study of the funerary world implies an integrated
approach to the spaces and topographies of death, as well as to the
materialities therein sedimented. Within the framework of these materialities,
wood occupies a recurrently intangible place, because of its perishable
character and the fact that its long-term preservation is only possible in very
specifi c environments or as a result of the implementation of a strict range
of processes. Nevertheless, the use of this biological material was intense,
especially in periods that favored the ritual incineration of the deceased, such
as in the early centuries of the Roman Empire. By contrast, from the 3rd
century and, more clearly, from the 4th, the growing adherence to inhumation
generated deep transformations in the funerary landscape. In this context, the
ways in which wood was used also changed, and its central role as fuel was
relegated to a secondary plan. The archaeological record refl ects this change,
with the testimonies correlated with Late Antiquity and the Early Middle
Ages becoming progressively scarcer. Even so, it is possible to list a set of
direct and indirect remains, which show the persistence of the use of wood
in funerary environments, although under new forms, namely as a protective
structure, transportation device, or fi nal receptacle of the body. These remains
form the focus of the present text, which does not intend to be an exhaustive
listing of documented occurrences, but rather an overview of a reality that is
barely touched upon, although full of interpretative possibilities concerning
burial practices and strategies.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
Contact:
Disponível em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/19620.pdf