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Possivelmente devido à saliência intuitiva da unidade palavra, estudos iniciais sobre o reconhecimento lexical aventaram a hipótese de o significado de uma palavra ser reconhecido diretamente a partir do reconhecimento da forma da palavra inteira, sem recorrer a unidades menores. Atualmente parece existir consenso de que o reconhecimento de palavras se dá de forma hierárquica, a partir de unidades menores, envolvendo desde a ativação de elementos não linguísticos, como traços visuais presentes nas letras, até representações mais abstratas, como sílabas, fonemas e morfemas (Taft & Forster, 1975; Stockal & Marantz, 2006; Taft & Ardasinski, 2006; Longtin, Segui, Hallé, 2003; Rastle et al., 2000; Rastle, Davis, New, 2004). Alguns desses fatores são de particular interesse para se compreender o processamento da linguagem. Evidências advindas de laboratórios de processamento linguístico com estudos experimentais de priming (em que duas palavras são apresentadas em sequência para medir efeitos de pré-ativação) mostram que é mais rápido reconhecer uma palavra quando ela é antecedida por outra palavra semelhante (França et al., 2008; Gomes; França, 2015) - sugerindo que haja uma hierarquia nos processos sintático-semânticos que se reflete no tempo de processamento. Esses estudos sugerem ainda uma facilitação condicionada por formas idênticas aos morfemas da língua (raízes e afixos), mas sem que o significado desses morfemas seja acessado pelo falante.
Com o refinamento das técnicas experimentais, é possível investigar esses efeitos com mais granularidade. Os potenciais cerebrais relacionados a eventos linguísticos (ERPs) e os movimentos oculares têm sido muito importantes para explorar o curso temporal do processamento perceptivo e cognitivo (Carreiras et al., 2014; Dien, 2009; Grainger; Holcomb, 2009), especialmente aqueles relacionados ao processamento linguístico no nível da palavra, mas não somente (Gomes; França, 2015, 2021; Soto et al., 2015). É importante n |
Summary
Possivelmente devido à saliência intuitiva da unidade palavra, estudos iniciais sobre o reconhecimento lexical aventaram a hipótese de o significado de uma palavra ser reconhecido diretamente a partir do reconhecimento da forma da palavra inteira, sem recorrer a unidades menores. Atualmente parece existir consenso de que o reconhecimento de palavras se dá de forma hierárquica, a partir de unidades menores, envolvendo desde a ativação de elementos não linguísticos, como traços visuais presentes nas letras, até representações mais abstratas, como sílabas, fonemas e morfemas (Taft & Forster, 1975; Stockal & Marantz, 2006; Taft & Ardasinski, 2006; Longtin, Segui, Hallé, 2003; Rastle et al., 2000; Rastle, Davis, New, 2004). Alguns desses fatores são de particular interesse para se compreender o processamento da linguagem. Evidências advindas de laboratórios de processamento linguístico com estudos experimentais de priming (em que duas palavras são apresentadas em sequência para medir efeitos de pré-ativação) mostram que é mais rápido reconhecer uma palavra quando ela é antecedida por outra palavra semelhante (França et al., 2008; Gomes; França, 2015) - sugerindo que haja uma hierarquia nos processos sintático-semânticos que se reflete no tempo de processamento. Esses estudos sugerem ainda uma facilitação condicionada por formas idênticas aos morfemas da língua (raízes e afixos), mas sem que o significado desses morfemas seja acessado pelo falante.
Com o refinamento das técnicas experimentais, é possível investigar esses efeitos com mais granularidade. Os potenciais cerebrais relacionados a eventos linguísticos (ERPs) e os movimentos oculares têm sido muito importantes para explorar o curso temporal do processamento perceptivo e cognitivo (Carreiras et al., 2014; Dien, 2009; Grainger; Holcomb, 2009), especialmente aqueles relacionados ao processamento linguístico no nível da palavra, mas não somente (Gomes; França, 2015, 2021; Soto et al., 2015). É importante notar que os estudos sobre os processos subjacentes aos efeitos de composição morfológica têm contribuído para a Teoria Linguística e por isso, o protocolo experimental previsto neste projeto é o de Eletrofisiologia (EEG/ERPs) e rastreamento ocular como ferramentas na investigação da decomposição morfológica em palavras em uma série de estudos com falantes L1 de Português - variedades brasileira e europeia. |