Resumo (PT):
Uma nota sobre o uso de indicadores estatísticos diz respeito ao papel que reservámos, na revisitação a Fonte Arcada, à cartografia e às novas tecnologias que evoluíram com esta ciência e técnica – sem dúvida, um dos domínios em que mais patentes se tornam todas as virtualidades analíticas postas ao alcance das ciências sociais pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informação.
A experiência propiciada por esta pesquisa sugere que essas virtualidades vão muito para além do potencial de objectivação gráfica, essencialmente descritivo, dos modos de espacialização de propriedades sociais associadas a um determinado território – o qual aliás não deixa de ser, em si mesmo, muito relevante.
Para dar uma ideia de tais virtualidades, é de referir, em primeiro lugar, que, graças à enorme flexibilidade de que se revestem e, sobretudo, aos usos interactivos (de carácter meramente tentativo ou mais sistemático) que promovem, as novas tecnologias cartográficas permitem jogar, com facilidade inédita, em sucessivas mudanças de escala e de unidade de análise ou em recomposições categoriais complexas sugeridas pela teoria. Nesse sentido, revelam-se muito úteis para concretizar, nos processos de pesquisa sobre fenómenos sociais, o vaivém de tipo abdutivo que, sobretudo na fase de exploração, mas também na da problematização e construção de hipóteses teoricamente sustentadas e testáveis, favorece a descoberta de fios interpretativos ajustados simultaneamente aos objectivos imediatos da pesquisa e à ambição de, através dela, obter mais-valias teóricas efectivas.
O alargamento de possibilidades de manuseamento de informação cartográfica posto ao alcance da investigação sociológica pelas novas tecnologias computacionais permitiu ainda que se chegasse, no quadro da pesquisa concreta a que estamos aludindo, à elaboração de mapas de pormenor dos locais a inquirir dotados de precisão verdadeiramente inédita. Ora, num contexto como o de Fonte Arcada, em que a presença física no espaço público de bons conhecedores dos meandros da freguesia (por exemplo, crianças e jovens disponíveis para guiar os estranhos na descoberta dos locais a inquirir) é hoje mais rara do que há algumas décadas atrás, este conhecimento sobre a configuração físico-ecológica da colectividade permitido pelas novas técnicas cartográficas acabou por dar fortes garantias de que nenhum elemento do universo sob inquirição ficava liminarmente excluído do estudo.
Mas o recurso a tais mapas acabou por revelar outro grande mérito. Verificou-se, na verdade, que, uma vez munidos de representações cartográficas dos terrenos agrícolas, casas e outros elementos do edificado que chegavam a ultrapassar, em riqueza de detalhes, sobretudo quando retocados in loco, o conhecimento prático da morfologia da colectividade ao alcance da generalidade dos autóctones, puderam os investigadores/inquiridores ir granjeando, ao longo da pesquisa, no relacionamento com sucessivos interlocutores, autoridade e capital simbólicos, posteriormente reconvertidos em capital social, que facilitaram e permitiram aperfeiçoar as exigentes tarefas da recolha de informação através de inquérito e entrevista.
E aqui está como, através da constatação das potencialidades de um original subproduto da utilização das técnicas cartográficas, regressamos a preocupações metodológicas enquadráveis na perspectiva que atrás designámos por “racionalismo alargado”.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific