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História da FCUP

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No início do século XIX existiam na Cidade do Porto duas "Aulas Régias", uma de Náutica (1762), outra de desenho (1779), ambas administradas pela Junta da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.

Em Janeiro de 1803 aquela Junta dirige ao Príncipe Regente, D. João, um pedido de criação de outras quatro aulas, Matemática, Comércio e duas línguas vivas, Francês e Inglês. Pedido semelhante fora já feito, sem sucesso, à Rainha D. Maria I, em 1785.

Desta vez o Príncipe Regente concedeu prontamente seis lentes (três para o "curso matemático" e os restantes para Desenho, Comércio, Filosofia Moral e Racional) e dois professores (Francês e Inglês) – bem como iguais números de "substitutos”. O "Mestre do Aparelho e Manobra Naval" ficava subordinado ao Lente do 3º ano matemático, responsável pelo ensino de Trigonometria Esférica, Arte de Navegação, Instrumentos Astronómicos e Marítimos. Por outro lado, o Alvará Régio admitia ainda uma Aula de Agricultura, "que deverá ser frequentada quando as circunstâncias o permitirem" - o que só sucederia em 1818.
Retrato de D. João VI,
Domingos António Sequeira, c. 1807
(Salão nobre do edifício da Reitoria)
página 1
Pode lamentar-se que o projecto aprovado não fosse mais ambicioso, contemplando outras Aulas - como Física, Química, Ciências Naturais – incluídas em projectos concorrentes. Mas convém não esquecer que os programas de algumas aulas matemáticas incluíam matérias – como Estática, Dinâmica, Hidrostática, Hidráulica, Óptica - que hoje consideramos Física ou Astronomia; e, analogamente, o 1º ano de Agricultura era ocupado com noções de Química e Botânica. Por outro lado a Junta procurou, certamente, ser sóbria e objectiva no seu pedido:
  • A aula de matemática permitiria "formar com mais perfeição" os reconhecidamente "hábeis pilotos", que vinham sendo preparados; seria também útil para militares da "guarnição desta cidade", bem como para comerciantes e artistas.
  • "Sendo o comércio desta cidade o mais considerável do reino, depois do da capital", nela não existia uma "aula de comércio".
  • Muitas obras sobre matemática, comércio, agricultura, fábricas, navegação, eram escritas em inglês ou francês, línguas também necessárias para a navegação para os países do norte, e hoje felizmente para o Mar Bâltico", bem como para a correspondência comercial – e não existia estabelecimento algum no qual fossem ensinados aqueles idiomas.
Globo terrestre,
J. Addison, London, 1829
(Museu de Ciência)
página 2
Inaugurada a 4 de Novembro de 1803, a Academia Real da Marinha e Comércio da Cidade do Porto daria lugar à Academia Politécnica em 1837: quase 34 anos atribulados, com as três invasões francesas (1807 a 1811), a longa permanência da Corte no Brasil (1807 a 1821), a fratricida guerra civil (1828-1834).

As consequências para a Cidade e a Academia eram inevitáveis: a presença de tropas na 1º e 2º invasão, com o desastre da ponte das barcas (1809); a execução de liberais, a demissão de professores e expulsão de alunos (1829); a suspensão de todas as aulas e transformação do edifício da Academia em Hospital Militar, durante o cerco do Porto (1832-33), etc.

Uma vez criada, logo a Academia procurou adquirir "instrumentos" necessários para o ensino matemático e navegação, recorrendo aos agentes da Companhia em Londres. Esses instrumentos começaram a chegar em 1805 e alguns ainda se conservam na Universidade, nomeadamente no Museu de Ciência/Núcleo FCUP e na FEUP.
Teodolito, Dollond, London,
encomendado em 1804
(Museu da Faculdade de Engenharia)
página 3
Quanto à Biblioteca, o parecer do Director Literário da Academia, emitido em 1825, não se coíbe de usar adjectivos duros, como "miserável" e "vergonhosa".

A Reforma de 1825, permitindo o aproveitamento de saldos de algumas verbas, reduzindo despesas e promovendo uma dotação satisfatória, parece ter sido eficaz, pois o Inventário de 1830 menciona mais de 500 títulos (cerca de 1500 volumes). Estes aparecem classificados em Agricultura (30), Comércio (94), Filosofia Moral e Racional (61), História e Viagens (42), Literatura (54), Matemática (233); como já referido, esta "Matemática" corresponde a Matemática + Física + Astronomia + Navegação.

Por outro lado o decreto de Julho de 1833, em que D. Pedro IV criava no Porto uma Biblioteca Pública, estabelecia que duplicados de obras, provenientes de livrarias de conventos extintos, fossem entregues à Academia Real da Marinha e Comércio ou à Real Escola de Cirurgia, antecessora da Faculdade de Medicina. A Academia receberia as obras de ciências matemáticas, navegação, comércio, agricultura, industrias e artes, geografia, cronologia e história "ou quaisquer outros ramos de conhecimento particularmente ligados com aqueles". A primeira entrega ocorreu em Fevereiro de 1836, a segunda em Outubro de 1840 (já depois da transformação em Academia Politécnica), num total de cerca de 1.100 títulos (perto de 3.000 volumes).
Regulador astronómico,
Arnold, London, encomendado em 1804
(Museu de Ciência/núcleo FCUP)
página 4
Na referida classificação dos livros da Biblioteca parece faltar uma secção de "Desenho". A razão era o facto de tais livros não se encontrarem na Biblioteca mas na Aula de Desenho, inventariados juntamente com "Estampas, Colecções de Pinturas. Estátuas, Bustos, etc"; uma parte significativa desse material é conservada no Fundo Antigo (Faculdade de Ciências).

Com a criação da Academia Real da Marinha e Comércio o pintor Vieira Portuense passara à nova categoria de "Director da Aula de Desenho", coadjuvado por um lente e um substituto. Por sua morte, na primavera de 1805, sucede-lhe outro pintor conceituado, Domingos António Sequeira. Este, na qualidade de Pintor da Câmara e Corte, passava necessariamente a maior parte do tempo em Lisboa; felizmente podia contar com a dedicação do lente José Teixeira Barreto.

A "Aula de Desenho" manteve o prestígio conquistado nos primeiros anos do século XIX e os nomes daqueles três pintores não foram esquecidos: já no século XX a Câmara Municipal do Porto deu a três ruas da Cidade os seus nomes.
Lisboa: na Regia Officina Typografica,
1785, Étienne Bezout, (Fundo Antigo)
página 5
No Salão Nobre do Edifício Central da Universidade existe uma tela em que o Príncipe Regente D. João – o futuro D. João VI – aparece sentado, apoiando uma mão sobre desenhos (planta e alçado) de um projecto do Engenheiro Carlos Amarante para o edifício que se pretendia construir. O projecto é de 1807 e o retrato, atribuído a Domingos Sequeira, deve ter sido pintado no mesmo ano.

A Academia Real de Marinha e Comércio começou por atrair muitos alunos logo no primeiro ano: 145 em Matemática, 42 em Desenho, 84 em Comércio, 43 em Filosofia Racional e Moral, 195 em Francês, 115 em Inglês. A frequência média, ao longo dos anos, foi certamente menor, por vezes não atingindo a dezena em algumas matérias.

As línguas vivas foram as mais procuradas, Comércio menos do que seria de esperar, etc. Por outro lado, o "curso matemático", com as suas três cadeiras, acompanhado da Filosofia Racional e Moral e das línguas vivas, permitia, em princípio, a admissão na Universidade de Coimbra.
Lisboa: na Regia Officina Typografica,
1785, Étienne Bezout, (Fundo Antigo)
página 6
Quanto aos professores da Academia não foram muitos os que publicaram as suas lições, ou os resultados de pesquisa nas suas áreas.

No entanto houve, pelo menos, seis que foram sócios, efectivos ou correspondentes, da "Academia Real das Sciências" de Lisboa, criada por D. Maria I em 1779.

Dois foram nomeados para um novo cargo, criado em 1817, o de Director Literário da Academia. A Resolução Régia exigia que o cargo fosse ocupado "por pessoa de reconhecida probidade, literatura e prudência, e dotado de juízo maduro, exacto, sólido e zeloso do bem público, do adiantamento e progresso das ciências". E concluía: "preferindo-se a outros quaisquer indivíduos os que no longo exercício do magistério na Universidade de Coimbra houvessem mostrado possuírem em grau eminente as referidas qualidades".

Os outros quatro sócios da Academia das Ciências de Lisboa eram, simplesmente, lentes de Matemática ou de Agricultura mas nem por isso menos dignos da distinção conferida.
La theorie de la manoeuvre des vaisseaux,
1731, Henri Pitot (Fundo Antigo) .
página 7
A transformação da Academia de Marinha e Comércio em Academia Politécnica ocorre poucos meses depois dos acontecimentos políticos de 10 de Setembro de 1836. A Rainha D. Maria I presta juramento à Constituição Política de 1822 e nomeia um Governo em que o Ministério do Reino é ocupado por Manuel da Silva Passos (vulgo Passos Manuel).

Dias depois o Director da Academia é notificado que deve jurar - e imediatamente fazer jurar "pelos empregados seus subalternos" - aquela Constituição "com as modificações que as Cortes Gerais da Nação Portuguesa decretarem". O Director recusa fazê-lo e demite-se, visto considerar repugnante o juramento de uma lei que ainda há-de fazer-se. Nomeado novo Director este não aceita. Nova nomeação, desta vez de um insuspeito professor de Matemática - um dos sete demitidos por D. Miguel em 1829 e reintegrados em 1832 – ao qual se juntava, como director interino provisório, João Baptista Ribeiro, lente de desenho. Passados 12 dias sem que o indigitado Director exercesse o cargo uma Ordem Régia dirigida a João Baptista Ribeiro determinava que continuasse no exercício da Direcção da Academia. Nessa data, 22 de Outubro de 1836, já todos os lentes e professores tinham sido demitidos, ou exonerados a seu pedido. Quando, depois da publicação do decreto de 13 de Janeiro de 1837 (que criou a Academia Politécnica) João Baptista Ribeiro reúne os docentes, só restavam dois dos "antigos"; todos os outros tinham sido nomeados depois de 10 de Setembro de 1836.
Globo celeste, J. Addison & Co., London,
adquirido em 1829 (Museu de Ciência/núcleo FCUP)
página 8
Frédéric Chopin: Nocturne op.9 no.3 in B Major por Vadim Chaimovich
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