Começo por apresentar as minhas saudações a todos os presentes, realçando que é com grato prazer que participo nesta cerimónia. Agradeço por isso o amável convite que me foi endereçado pelo Diretor da Faculdade de Ciências, professor António Fernando Silva a quem endereço um cumprimento especial aproveitando para reconhecer, uma vez mais, a qualidade do seu trabalho à frente de uma Faculdade que muito prestigia a Universidade do Porto.
Cumpre-me igualmente saudar os membros da equipa reitoral, os diretores de outras faculdades presentes e os membros dos restantes órgãos de gestão da Faculdade de Ciências: Conselho Executivo, Conselho de Representantes, Conselho Científico e Conselho Pedagógico.
Saúdo com particular gosto os oradores convidados desta sessão, Sua Exa Reverendíssima o Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e o Prof. Doutor João Caraça. A qualidade e interesse das respetivas intervenções engrandeceram sobremaneira esta sessão solene pelo que lhes estamos muito gratos!
As saudações são naturalmente extensíveis ao corpo docente da Faculdade de Ciências, aos seus investigadores e também aos funcionários não docentes, principais obreiros do prestígio desta entidade integrante da U.Porto.
Saúdo também os estudantes da Faculdade de Ciências cujo desempenho académico contribui decisivamente para engrandecer esta faculdade e a Universidade do Porto.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Na cerimónia que nos reúne aqui hoje celebramos o primeiro centenário da Faculdade de Ciências, a quem felicito vivamente. Trata-se de uma data de grande valor histórico e simbólico. Sobretudo porque, ao longo destes 100 anos, a Faculdade de Ciências conheceu um percurso ascendente. Percurso esse que se traduziu num ensino de maior qualidade e mais transdisciplinar. Numa produção científica crescente e internacionalmente competitiva. Numa valorização do conhecimento traduzida em investigação aplicada, inovação e transferência de tecnologia. Numa maior capacidade de afirmação e cooperação internacionais. E numa governação que preza a eficácia, a transparência e a otimização de recursos.
Na verdade, a Faculdade de Ciências tem sabido valorizar e dignificar a Universidade do Porto. Lembro a propósito que esta Faculdade esteve no cerne da história da Universidade. As raízes da Universidade do Porto remontam ao século XVIII, mais concretamente às escolas técnico-científicas sediadas nesta cidade. E uma dessas escolas, datada de 1803, designou-se primeiro por Academia Real da Marinha e Comércio e depois, em 1837, por Academia Politécnica. Esta última escola está na génese da prestigiada tradição científica portuense, que se consolidou em dois séculos e atingiu patamares de excelência com um grande contributo da Faculdade de Ciências.
Recorde-se que à data da sua constituição, em 22 de março de 1911, a Universidade do Porto foi estruturada em apenas duas faculdades: Ciências e Medicina. Este facto histórico diz bem da importância que as ciências exatas e naturais tinham no ensino superior, importância que se consolidou e expandiu ao longo do tempo. Aliás, a Faculdade de Ciências soube estar sempre na vanguarda do conhecimento científico, respondendo assim às crescentes solicitações do mundo contemporâneo.
Recordo também que ligados à Faculdade de Ciências existiram uma série de centros de investigação, que sedimentaram a elevada qualidade científica desenvolvida ao longo de um século. Falo do Observatório Astronómico, do Laboratório de Física, do Laboratório de Química, do Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio, do Instituto de Zoologia Marítima Dr. Augusto Nobre, do Instituto de Antropologia Dr. Mendes Corrêa, do Instituto Geofísico e do Laboratório Mineralógico e Geológico. Na cerimónia de hoje impõe-se a recordação e o agradecimento a todas as pessoas que, no âmbito destes centros de investigação, promoveram o avanço científico em Portugal.
Posteriormente, a Faculdade de Ciências alargou o espectro do seu conhecimento, cruzando as ciências exatas e naturais com áreas mais tecnológicas. Hoje, a Faculdade caracteriza-se também por alguma multidisciplinaridade do seu ensino e investigação. Multidisciplinaridade essa que contribui crescentemente para a excelência, dimensão internacional e aplicabilidade económica das atividades científicas desenvolvidas nesta Faculdade.
Neste ponto, deve salientar-se que a Faculdade de Ciências reúne hoje unidades de I&D que se encontram no “estado da arte” dos respetivos domínios. Algumas dessas unidades estão sediadas no campus da Faculdade, outras são unidades parceiras. Portanto, os docentes e investigadores da Faculdade de Ciências desenvolvem o seu trabalho num conjunto vasto e reputado de unidades de investigação com grande relevância científica. Daqui resulta que os estudantes têm a oportunidade de se iniciarem na atividade científica num ecossistema de excelência, proporcionado justamente por todas essas unidades de investigação.
A Faculdade de Ciências é, pois, determinante para que a U.Porto possa concretizar um dos seus objetivos estratégicos, o de consolidar-se como uma verdadeira universidade de investigação, isto é, uma universidade cujo eixo basilar é a investigação e em que a formação é alicerçada nas atividades de I&D que realiza.
A Faculdade de Ciências vem também dando um crescente contributo para outro dos objetivos estratégicos da U.Porto, isto é, contribuir cada vez mais fortemente para o desenvolvimento socioeconómico do país, fomentando o progresso não apenas pela via da investigação e da formação, mas também através de atividades de interface com a sociedade. E essa interface passa pela prestação de serviços à comunidade, por parcerias com empresas e pela transferência de conhecimento especializado. A Universidade do Porto valoriza bastante o relacionamento com a sociedade, em particular com o seu tecido empresarial. E reconhece na Faculdade de Ciências um sentimento semelhante, uma vez que é notório o crescente esforço da instituição para conferir valor económico e social à investigação realizada.
Mas nesta relação da Faculdade de Ciências com a comunidade gostaria também de destacar iniciativas nas áreas da arte, da museologia e da divulgação científica, sobretudo através da crescente divulgação pública do valioso património acumulado ao longo deste século de vida. Falo por exemplo do Fundo Antigo, do Museu de História Natural, do Museu da Ciência, do Jardim Botânico e Casa Andresen, do Instituto Geofísico ou do Observatório Astronómico, que reúnem acervos, equipamentos e espaços físicos de grande importância histórico-científica.
Por ocasião das comemorações do Centenário da Universidade do Porto, foi dada grande visibilidade pública a este património através de iniciativas de inegável interesse público, concretizando a abertura crescente da Universidade do Porto à comunidade envolvente, neste caso, facultando o acesso da população ao património, à oferta cultural e ao saber que a instituição encerra.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O país, o ensino superior português e a U.Porto atravessam um momento complexo e complicado das suas existências! O futuro parece nebuloso e pejado de dificuldades cuja solução não se vislumbra com clareza e muito menos certeza! Todos protestam! A insatisfação é grande! Procuram-se culpados! Mas na verdade todos alinhamos, uns mais do que outros, no processo que conduziu a esta situação! Alguns atuaram mesmo como autênticos predadores de outros cidadãos e de instituições!
Mas, paradoxalmente, a U.Porto vive, segundo todos os indicadores e rankings, o momento mais alto dos seus 100 anos de vida!
Duas atitudes são possíveis perante esta situação:
- Protestar na praça pública, exigir mais verbas, mostrar-se zangado… não é o meu estilo e julgo que não conduzirá a nada! Deste modo, seriam os mais poderosos, os menos escrupulosos, e as corporações com mais força política que mais uma vez ficariam a ganhar, como tanto aconteceu no passado!
- Ser pro-ativo, demonstrando no local próprio alguma irracionalidade que possa haver em algumas medidas, apresentando sugestões de medidas alternativas, mas sobretudo trabalhando mais e melhor, usando mais eficientemente os recursos que a sociedade nos atribui, evitando desperdícios que ainda há, gerando mais receitas (serviços, financiamentos externos a Portugal, fund raising) que compensem ou ultrapassem os cortes sofridos, procurando ser ainda melhor nas atividades que constituem a nossa missão para ganhar mais prestígio internacional e atrair ainda melhores estudantes, mais recursos, mais cooperação. Ver o país acima da instituição e a instituição acima de cada entidade/grupo constituinte. Dar muito menos importância ao “quintal” e mais relevo à conjugação de esforços, à organização eficiente e á utilização racional de todos os recursos, humanos e materiais.
Para vencer as dificuldades presentes, é essencial que todos os membros da comunidade académica, incluindo antigos estudantes, se empenhem ativamente na resolução desta complexa equação!
Órgãos de gestão:
Exercendo a autoridade própria de que estão investidos. Gerindo eficientemente os recursos. Procurando as soluções que acolham o interesse da U.Porto, como um todo, em primeiro lugar. Motivando a comunidade. Sendo criativos e inovadores na sua ação e nas soluções que adotam. Não temendo a mudança!
Docentes e não docentes:
Abdicando de alguns interesses individuais e de grupo em favor do coletivo, colaborando na racionalização das unidades curriculares dos ciclos de estudo da U.Porto, melhorando o desempenho pedagógico e o processo de avaliação dos estudantes de modo a contribuir para o aumento do sucesso escolar, realizando serviços e outras atividades, para além do estabelecido contratualmente, com um maior contributo para as receitas próprias da Universidade, fazendo propostas inovadoras de atividades que se insiram na missão da universidade, apresentando mais candidaturas a programas de financiamento com especial relevo externos a Portugal. Todos devem trabalhar dando o seu contributo. Há ainda muitos que dão muito menos do que seria de esperar! Há margem de progressão!
Estudantes:
- Empenhando-se ainda mais nos seus estudos de maneira a aumentar o sucesso escolar e portanto um uso mais eficaz dos recursos utilizados
- Cooperando na procura de soluções mais racionais de funcionamento dos cursos e de avaliação dos estudantes
Antigos Estudantes
Contamos muito com todos os antigos estudantes da nossa centenária Universidade:
- Divulgação da U.Porto
- Angariação de novos estudantes para todos os ciclos de estudo
- Contribuírem para o prestígio da U.Porto através do sucesso profissional
- Promoverem a realização de projetos de I&D conjuntos e de consultoria muito especializada
- Enviando críticas construtivas e propostas para melhoria dos nossos cursos e outras atividades!
- Apoiarem ativamente publicamente a U.Porto na defesa das suas casas
- Apoiarem financeiramente iniciativas da U.Porto no âmbito da sua missão
Finalmente aos Governantes,com muito respeito, pede-se para não atrapalharem. Respeitarem a nossa autonomia que temos exercido com excelentes resultados. Não criarem ou reintroduzirem burocracias irrelevantes e paralisantes. As Universidades não podem ser tratadas como meras repartições públicas, por muito respeito que estas nos mereçam. Aceitamos, por solidariedade com o país, os cortes que nos são impostos com a consciência de ficarmos nos limites das nossas possibilidades. Dispomo-nos a trabalhar para gerar mais receitas próprias para compensar.
Mas não nos criem obstáculos para gerar essas receitas próprias e para as utilizar. Preocupem-se, sobretudo, em reestruturar o sistema de ensino superior português.
Perante este cenário de dificuldades, acredito, pois, que só haverá uma atitude a tomar: Fazer desta dificuldade uma oportunidade para construirmos uma estrutura para a U.Porto renovada, mais coesa, aproveitando ainda melhor os recursos disponíveis, mais empreendedora, sem receio de enfrentar as mudanças e capaz de transmitir esse espírito aos seus estudantes, fazendo-os mais empreendedores, continuarmos a evoluir na qualidade do ensino e da investigação que realizamos e aumentarmos e diferenciarmos as fontes de financiamento, crescendo muito nas verbas obtidas fora de Portugal.
Importa sublinhar que um dos propósitos do Centenário da Universidade do Porto é fomentar a coesão interna. Uma instituição tão vasta e complexa como a nossa tem necessariamente de desenvolver um esforço constante de agregação, identificação e sinergia. Creio até que o futuro da nossa Universidade passa, em larga medida, pela capacidade de agregação que revelar nos próximos anos. Este é o grande desafio que devemos colocar a nós próprios. Temos de trabalhar mais e melhor em conjunto. Temos de partilhar melhor os nossos recursos. Temos de aproveitar melhor as nossas competências. Temos de promover melhor a inter e a multidisciplinaridade do conhecimento.
Os desafios do mundo contemporâneo e as dificuldades que o país atravessa, com reflexos perniciosos no ensino superior, obrigam as universidades a um mais assertivo espírito solidário. Considero, pois, indispensável uma maior unidade e entreajuda dentro da Universidade do Porto para que se obtenham ganhos de escala, de eficiência organizativa e de racionalidade económica e, sobretudo de qualidade a todos os níveis, absolutamente essenciais para atingirmos o ambicioso objetivo fixado para 2020. Só assim, com um verdadeiro espírito solidário, a Universidade do Porto poderá figurar entre as melhores instituições de ensino superior à escala global.
Vai neste sentido a mensagem que quero aqui deixar: que o Centenário seja não um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida para um novo patamar de relacionamento, coesão interna e congregação de vontades dentro da Universidade do Porto. E que a Faculdade de Ciências seja um dos mais fortes cultivadores dessa atitude!
Não quero terminar sem realçar que esta sessão decorre num espaço acabado de renovar e que vem colmatar uma lacuna importante! É também significativo o nome atribuído a esta sala, o do Prof. Ferreira da Silva, primeiro diretor desta faculdade, singela homenagem mas plena de significado! Por tudo isso, as minhas felicitações ao Diretor desta Faculdade.
Termino a minha intervenção desejando as maiores felicidades à Faculdade de Ciências e aos seus dirigentes, docentes, investigadores, estudantes e funcionários não docentes. Faço votos para que prossigam as reformas e renovações necessárias para dar resposta aos sinais externos que vão chegando. Os sucessos desta Faculdade serão também sucessos da U.Porto. Que mais 100 anos de excelência se repitam, para glória da U.Porto e para bem do ensino e da prática da ciência em Portugal.
Muito obrigado.