Resumo: |
A cicatrização é um processo biológico fundamental à sobrevivência dos organismos, responsável pela substituição de células e tecidos lesados. A lesão tecidular pode resultar de vários estímulos agudos ou crónicos, incluindo infeções, queimaduras, reações auto-imunes e lesões mecânicas. Embora inicialmente benéfico, o processo de cicatrização pode tornar-se patogénico, quando não controlado, conduzindo à remodelação dos tecidos e à formação de tecido cicatricial permanente. Em alguns casos, pode mesmo culminar em falência orgânica e morte. O tratamento corrente das doenças relacionadas com a formação de tecidos cicatriciais, têm como principal alvo a cascata da inflamação, mas são, na sua maioria considerados ineficazes já que se sabe hoje que os mecanismos envolvidos na fibrinogénese são distintos daqueles envolvidos na inflamação. As cicatrizes hipertróficas e cicatrizes quelóides representam duas formas de cicatrização aberrante em estruturas dérmicas em consequência de cirurgia ou queimaduras extensas. Essas lesões afetam o resultado funcional e estético nestes pacientes e a terapêutica que existe é escassa e considerada pouco eficaz. Esta realidade altera não só a esperança de vida mas também a qualidade de vida de muitos doentes com importantes consequências pessoais e sociais e económicas.
O sistema endocanabinóide é um sistema de sinalização lipídica, que inclui substâncias endógenas quimicamente semelhantes às encontradas na Cannabis, sendo os dois mais estudados a anandamida e 2-araquidonoilglicerol. Estes moduladores atuam em recetores acoplados a proteína G, os recetores de canabinóides (CB1 e CB2) com uma ampla distribuição nos tecidos.
Foram já identificados componentes do sistema endocanabinóide na pele, implicados na regulação da proliferação celular, sobrevivência e diferenciação, um balanço delicado e um determinante chave da hemóstase cutânea. O nosso grupo também mostrou recentemente uma ligação funcional entre o sistema endocanabinóide c |
Resumo A cicatrização é um processo biológico fundamental à sobrevivência dos organismos, responsável pela substituição de células e tecidos lesados. A lesão tecidular pode resultar de vários estímulos agudos ou crónicos, incluindo infeções, queimaduras, reações auto-imunes e lesões mecânicas. Embora inicialmente benéfico, o processo de cicatrização pode tornar-se patogénico, quando não controlado, conduzindo à remodelação dos tecidos e à formação de tecido cicatricial permanente. Em alguns casos, pode mesmo culminar em falência orgânica e morte. O tratamento corrente das doenças relacionadas com a formação de tecidos cicatriciais, têm como principal alvo a cascata da inflamação, mas são, na sua maioria considerados ineficazes já que se sabe hoje que os mecanismos envolvidos na fibrinogénese são distintos daqueles envolvidos na inflamação. As cicatrizes hipertróficas e cicatrizes quelóides representam duas formas de cicatrização aberrante em estruturas dérmicas em consequência de cirurgia ou queimaduras extensas. Essas lesões afetam o resultado funcional e estético nestes pacientes e a terapêutica que existe é escassa e considerada pouco eficaz. Esta realidade altera não só a esperança de vida mas também a qualidade de vida de muitos doentes com importantes consequências pessoais e sociais e económicas.
O sistema endocanabinóide é um sistema de sinalização lipídica, que inclui substâncias endógenas quimicamente semelhantes às encontradas na Cannabis, sendo os dois mais estudados a anandamida e 2-araquidonoilglicerol. Estes moduladores atuam em recetores acoplados a proteína G, os recetores de canabinóides (CB1 e CB2) com uma ampla distribuição nos tecidos.
Foram já identificados componentes do sistema endocanabinóide na pele, implicados na regulação da proliferação celular, sobrevivência e diferenciação, um balanço delicado e um determinante chave da hemóstase cutânea. O nosso grupo também mostrou recentemente uma ligação funcional entre o sistema endocanabinóide cutâneo e o efeito da radiação ultravioleta B.
Existem também evidências crescentes de que o sistema endocanabinoide está envolvido na formação patológica de tecido fibroso em estruturas dérmicas e subcutâneas, e que a sua modulação poderá limitar a resposta fibrótica. Os canabinóides podem comportar-se como agentes profibróticos ou antifibróticos, dependendo da sua interação com recetores CB1 ou CB2. Estes dados representam novas perspetivas e novas oportunidades terapêuticas para as patologias relacionadas a cicatrização. |