Resumo: |
Este projecto visa estudar, editar e dar a conhecer a secção final da Crónica Geral de Espanha de 1344, texto historiográfico português da autoria do conde D. Pedro de Barcelos, filho natural do rei D. Dinis. Apesar de a Cr1344 ter sido criticamente editada por L. F. L. Cintra e publicada entre 1954 e 1990, a sua secção final permanece inédita. A crónica sofreu uma transmissão textual atribulada, com uma reformulação circa 1400 e sucessivas traduções para castelhano, de que resultou uma tradição manuscrita bilingue e lacunar. Estas circunstâncias tiveram consequências na difusão editorial do texto. Não há testemunhos portugueses da 1ª redacção da crónica, e os dois castelhanos existentes (M e E - referência de mss. em task1) são lacunares, estando perdido o texto posterior ao reinado de Afonso VII. Quanto à 2ª redacção, nenhum dos testemunhos portugueses representa adequadamente o texto subsequente à morte de Fernando III. Dos mss. do séc. XV, L contém, a partir daí, capítulos da Crónica de Afonso X; e P continua com um texto próprio a história dos reis de Castela e Leão até à morte de Henrique de Trastâmara. Apenas em mss. castelhanos decorrentes de um ponto mais alto da derivação textual (U, Q, S, N) se encontra uma versão da crónica íntegra no seu
final. Aí, após Fernando III, a dinastia castelhano-leonesa prossegue com os reinados de Afonso X, Sancho IV, Fernando IV e Afonso XI até ao Salado. A ed. crítica de L. F. L. Cintra incidiu no texto português da 2ª redacção, tomando como base o ms. L, mais fidedigno, corrigido com P, U, Q e M. A partir do reinado de Fernando III, não havendo correspondência textual de nenhum dos mss. portugueses com a versão preservada em castelhano, o editor deu por terminada a edição do texto da Cr1344, apresentando em Apêndice os segmentos dos mss. L e P acima referidos. A legítima secção final da crónica, relativa à história dos reis de Castela e Leão de Afonso X a Afonso XI e pr |
Resumo Este projecto visa estudar, editar e dar a conhecer a secção final da Crónica Geral de Espanha de 1344, texto historiográfico português da autoria do conde D. Pedro de Barcelos, filho natural do rei D. Dinis. Apesar de a Cr1344 ter sido criticamente editada por L. F. L. Cintra e publicada entre 1954 e 1990, a sua secção final permanece inédita. A crónica sofreu uma transmissão textual atribulada, com uma reformulação circa 1400 e sucessivas traduções para castelhano, de que resultou uma tradição manuscrita bilingue e lacunar. Estas circunstâncias tiveram consequências na difusão editorial do texto. Não há testemunhos portugueses da 1ª redacção da crónica, e os dois castelhanos existentes (M e E - referência de mss. em task1) são lacunares, estando perdido o texto posterior ao reinado de Afonso VII. Quanto à 2ª redacção, nenhum dos testemunhos portugueses representa adequadamente o texto subsequente à morte de Fernando III. Dos mss. do séc. XV, L contém, a partir daí, capítulos da Crónica de Afonso X; e P continua com um texto próprio a história dos reis de Castela e Leão até à morte de Henrique de Trastâmara. Apenas em mss. castelhanos decorrentes de um ponto mais alto da derivação textual (U, Q, S, N) se encontra uma versão da crónica íntegra no seu
final. Aí, após Fernando III, a dinastia castelhano-leonesa prossegue com os reinados de Afonso X, Sancho IV, Fernando IV e Afonso XI até ao Salado. A ed. crítica de L. F. L. Cintra incidiu no texto português da 2ª redacção, tomando como base o ms. L, mais fidedigno, corrigido com P, U, Q e M. A partir do reinado de Fernando III, não havendo correspondência textual de nenhum dos mss. portugueses com a versão preservada em castelhano, o editor deu por terminada a edição do texto da Cr1344, apresentando em Apêndice os segmentos dos mss. L e P acima referidos. A legítima secção final da crónica, relativa à história dos reis de Castela e Leão de Afonso X a Afonso XI e privativa dos mss. castelhanos, ficou inédita.
Exceptuando um reduzido número de filólogos, este texto é desconhecido da comunidade científica. Trata-se, porém, de uma peça importante no complexo entre cruzamento de textos historiográficos portugueses e castelhanos que nos anos mais recentes tem suscitado um renovado e frutífero interesse dos estudiosos de ambos os lados da fronteira. Para além dos aspectos filológicos, destaca-se pelo interesse histórico e cultural que reveste. Elaborado na década de 1340 pelo mais proeminente fidalgo de Portugal, com conhecidas ligações à nobreza castelhana rebelde, e incidindo sobre os mais recentes reinados de Castela e Leão, documenta uma visão privilegiada das relações entre os reinos peninsulares e entre a aristocracia e a monarquia nessa conturbadíssima época da história ibérica. É pois de prever que traga esclarecimentos sobre os novos equilíbrios sociais e as novas estratégias políticas que então se definiam e que vieram tornar obsoleto um ideário plenamente medieval. A ligação à batalha do Salado, marco importante na obra do Conde de Barcelos e acontecimento determinante na conceptualização e na pragmática da relação com o mundo muçulmano a nível peninsular, permite esperar avanços na área da interculturalidade.
A problemática textual e cultural suscitada por este texto exige a especialização em diversas valências técnicas e científicas, o domínio das metodologias comparativas e filológico-hermenêuticas essenciais para o tratamento adequado dos textos historiográficos medievais e familiaridade com o contexto histórico e cultural ibérico do século XIV. Os membros doutorados da equipa são filólogos especialistas em historiografia medieval ibérica e lideram ou têm integrado equipas de investigação, nacionais ou internacionais (AILP/GDRE 671 CNRS; BITAGAP), com foco nessa área de estudos, tendo um elevado número de publicações sobre estudo e edição de textos. O membro doutorando tem a sua investigação na mesma área. A investigação da IR tem-se focado na obra do Conde de Barcelos. A equipa trabalha já em rede no SMELPS, linha de investigação do IF. O Projecto reúne pois as condições para alcançar as metas que se propõe, dispondo de uma equipa adequada, usando de uma metodologia de trabalho
eficaz, identificando claramente as tarefas e os objectivos propostos, e definindo como objecto de estudo um texto compatível com a circunscrição temporal do Projecto exploratório. O resultado mais visível do Projecto será a publicação, em papel e suporte informático, da ed. crítica desse texto e de um conjunto de ensaios, proposto a um editor internacional, que irá trazer perspectivas inovadoras ao estudo da intertextualidade entre os âmbitos culturais dos reinos de Portugal e de Castela Leão, promovendo o avanço no conhecimento da historiografia e dos seus meios de escrita no espaço ibérico medieval. A divulgação dos resultados será ainda assegurada por um website dedicado, e pela participação em colóquios e publicação de artigos em revistas científicas, ambos internacionais. |