Resumo (PT):
A Peregrinação é uma obra da autoria de Fernão Mendes Pinto, publicada pela primeira vez em Lisboa em 1614, cerca de 31 anos após a morte do seu autor. Obra de complexidade inquestionável, sobressai o esforço do autor para tornar compreensível aos seus contemporâneos e conterrâneos uma realidade distante, de um modo que não afrontasse poderes instituídos e expectativas de representação de um império e de uma presença, a portuguesa, no Oriente, construída desde 1500 e em fase de profundos desafios. Em contextos, muitas vezes improvisados, de encontros culturais, Fernão Mendes Pinto regista o que vê e procura interpretá-lo. O autor insiste no carácter testemunhal do que é relatado, e assim a experiência pessoal é apresentada como garante de verdade dos factos apresentados. Ao mesmo tempo, através das suas observações, dá a conhecer a imagem que se tinha dos portugueses no Oriente, por meio de afirmações valorativas feitas por ele mesmo, ou recorrendo à voz do outro, pondo em causa as intenções das políticas e agentes portugueses no Oriente. A Peregrinação apresenta-se como um testemunho incontornável das vulnerabilidades individuais e coletivas do projeto português no Oriente. A necessidade do outro, e a necessidade de cooperar, de tecer alianças com o outro (em mundos onde os portugueses são apenas uma entre muitas outras entidades em diálogo e em confronto) originam práticas que merecem ainda hoje a nossa atenção.
Abstract (EN):
The Peregrinação is a work by Fernão Mendes Pinto, first published in Lisbon in 1614, about 31 years after the death of its author. A work of unquestionable complexity highlights the author's effort to make his contemporaries and countrymen understand a distant reality, in a way that it does not confront the established powers, expectations of an imperial representation and the Portuguese existence in the East, built from early 1500 and in phase of deep challenges. In contexts of often improvised cultural encounters, Fernão Mendes Pinto records what he sees, and he seeks to interpret it. The author insists on the testimonial character of what is reported, and thus personal experience is presented as a guarantee of truth of the facts offered. At the same time, through his observations, he reveals an image of the Portuguese in the East, through statements made by himself, or by using the voice of other, questioning the intentions of Portuguese policies and agents in the East. Peregrinação is an unavoidable testimony of the individual and collective vulnerabilities of the Portuguese project in the East. The need of the other, and the need to cooperate, and to make alliances with the other (in a world in which the Portuguese are just one more among many other entities in dialogue or in confrontation), encourage practices that deserve even nowadays our attention.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific