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Investigação da FMUP sugere novos mecanismos contra efeitos secundários da quimioterapia

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Exames de neuroimagem poderão prever doentes com cancro que terão neuropatia periférica

Isaura Tavares

Dor, formigueiros, sensação de queimadura e de choques elétricos, sensibilidade a estímulos como calor, frio ou toque e alterações motoras são alguns dos efeitos secundários mais debilitantes associados à quimioterapia, atingindo até 68% dos doentes com cancro submetidos a este tipo de tratamento.  

Uma investigação realizada por Isaura Tavares, professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), e publicada na revista científica Brain Sciences sugere que será possível prevenir ou mitigar estes efeitos da quimioterapia, conhecidos como neuropatia periférica, através do estudo do sistema nervoso central de doentes com cancro submetidos a este tratamento.

“Este estudo sugere que a lesão dos nervos periféricos provocada pela quimioterapia afeta significativamente o sistema nervoso central, nomeadamente o cérebro e a medula espinhal”, indica Isaura Tavares, que figura entre os 13 melhores cientistas portugueses em Neurociências na edição de 2024 do ranking Research.com.

Até agora, os estudos nesta área têm-se focado nos efeitos da quimioterapia no sistema nervoso periférico, sobretudo nas mãos e nos pés, onde os efeitos se fazem sentir com mais intensidade. Essas mensagens são enviadas para o cérebro, onde irão provocar alterações na transmissão e controlo da dor. Resta saber quais são essas alterações e quais as suas consequências.

Os fármacos citostáticos usados no tratamento do cancro “impedem a divisão celular e afetam os nervos periféricos, que ficam doentes e passam a bombardear o sistema nervoso central com informação errada. É muito importante perceber como é que este se adapta”, acrescenta.

Para a professora da FMUP, “os doentes poderão vir a fazer exames de imagem antes de iniciarem os tratamentos. Estes exames permitirão identificar padrões de ativação do cérebro em resposta à quimioterapia. Ao perceber quais são esses padrões, seremos capazes de prever os doentes que estão em maior risco de vir a desenvolver neuropatia periférica”.

Até à data, “não existe forma de prevenir ou fazer cessar a dor neuropática”, ao contrário do que acontece com outros sintomas (como os vómitos), o que pode afetar negativamente a sobrevivência dos doentes com cancro que necessitam de quimioterapia.

Como recorda Isaura Tavares, “a neuropatia periférica pode obrigar a reduzir a dose ou mesmo a interromper a quimioterapia devido aos efeitos secundários. Há doentes que não conseguem lavar as mãos à temperatura ambiente porque a água passa a ser dolorosa. Outros ficam em cadeira de rodas”.

Estes efeitos podem persistir mesmo para além do tratamento, de forma irreversível, resultando numa diminuição da qualidade de vida dos doentes e num aumento das despesas em saúde.

No modelo animal, o grupo de Isaura Tavares já havia demonstrado que a quimioterapia provoca ansiedade, independentemente do cancro. Os estudos, realizados no Instituto de Investigaciones Biomédicas Alberto Sols da Universidade Autónoma de Madrid, em Espanha, indicam que este tratamento ativa áreas cerebrais associadas ao controlo da dor, como o hipotálamo e a PAG (substância cinzenta periaquedutal). Além disso, apontam para a existência de alterações metabólicas que carecem de ser investigadas.

Estas alterações funcionais e estruturais no cérebro dos doentes estão já a ser comprovadas em exames de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, mas, para já, no âmbito do diagnóstico. Os investigadores defendem que esses exames deverão ser cada vez mais utilizados na investigação e na clínica.

O futuro poderá passar pela estratificação dos doentes oncológicos com recurso a exames imagiológicos antes de iniciar a quimioterapia, à semelhança do que já se faz, por exemplo, em Ortopedia.  

Além de Isaura Tavares, que é também responsável pela formação de médicos no âmbito da Cátedra de Medicina da Dor da FMUP, a investigação de que este estudo é corolário contou com a participação de vários investigadores e estudantes desta Faculdade, designadamente Rita Oliveira, Joana Oliveira, Carolina Bacalhau, Mário Cunha, Isabel Martins, Paula Serrão e José Tiago Costa Pereira.

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