Vários investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) juntaram-se para discutir “os desafios atuais do envelhecimento” e “identificar as oportunidades de investigação para promover a saúde e o bem-estar global”.
Elisa Keating, Paulo Santos, Fernando Osório, Luís Azevedo e Isabel Miranda, da FMUP, protagonizaram o workshop intitulado “Envelhecimento: Desafios atuais para o bem-estar global”, que decorreu no passado dia 5 de julho, na Alfândega do Porto, no âmbito do Encontro Ciência 2024.
Os desafios da longevidade avançada, o papel da prevenção no envelhecimento saudável, a terapêutica no idoso e a transformação digital na saúde foram alguns dos temas abordados neste workshop, que contou com a presença de Fernando Schmitt, professor da FMUP e coordenador do Laboratório Associado RISE, responsável pela organização.
Paulo Santos, professor da FMUP, falou sobre a importância da prevenção no envelhecimento e sobre o peso da solidão entre os mais velhos, particularmente acima dos 80 anos, sublinhando a questão da “fragilidade social”.
O investigador CINTESIS@RISE disse que é preciso apostar na educação, na literacia e na prevenção, o que, na prática, significa melhor prescrição, diagnóstico precoce de fragilidade e mais inovação, apelando ao papel do setor social, dos municípios e da estrutura política.
Um “tsunami cinzento” foi como Fernando Osório (FMUP e CINTESIS@RISE) classificou a incidência de cancro nos idosos, tendo alertado para a sub-representação dos mais velhos nos ensaios clínicos, para o risco de tratamentos inadequados nestas idades e para o subtratamento, que considerou uma forma de idadismo.
Para o docente, urge contrariar o “dogma” de uma biologia tumoral menos grave nos mais velhos, bem como apostar na oncogeriatria, na avaliação geriátrica global e na hospitalização domiciliária para diminuir a deterioração cognitiva associada ao internamento e à doença.
Por sua vez, Luís Azevedo (FMUP e CINTESIS@RISE) incidiu sobre os desafios e oportunidades da transformação digital para o acompanhamento da pessoa idosa com doença crónica, com o desafio da qualidade de vida.
O docente e investigador considerou que a saúde digital é a chave para empoderar os doentes e dar capacidade de resposta aos profissionais, com consequências nos resultados em saúde. Alguns dos desafios desta mudança de paradigma estarão, segundo disse, em aspetos como a qualidade dos dados e as iniquidades no acesso.
O microbioma no acidente vascular cerebral (AVC) no idoso foi o tema da intervenção de Isabel Miranda (FMUP e UnIC@RISE), que apresentou dados sobre um estudo que procura explicar aquela relação, numa coorte de doentes com média de idades superior a 70 anos.
Aos investigadores da FMUP juntaram-se Óscar Ribeiro (CINTESIS@RISE e Universidade de Aveiro) e Ana Carina Pereira (CI-IPOP@RISE). O primeiro sublinhou que “não é sobre como lá chegar, mas em que condições”, tendo chamado a atenção para os objetivos da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), para o combate aos idadismo e para a priorização do bem-estar, incluindo nos centenários e nos supercentenários (acima dos 110). Já Ana Carina Pereira (CI-IPOP@RISE) abordou os avanços no diagnóstico precoce do cancro, apresentando números e insistindo na necessidade de prevenir.
O workshop não chegaria ao fim sem uma discussão animada à volta de temas lançados por Elisa Keating (FMUP e CINTESIS@RISE), na qualidade de moderadora. Entre esses temas estavam, por exemplo, o microbioma, os ritmos biológicos e a programação fetal no contexto do envelhecimento, assim como o papel da criança no envelhecimento dos familiares e no seu próprio envelhecimento.
Considerado o maior evento anual de Ciência e Inovação em Portugal, o Encontro Ciência 2024 realizou-se entre os dias 3 e 5 de julho e teve como mote +Ciência para Uma Só Saúde e Bem-Estar Global. A organização foi da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, U.Porto e Ciência Viva.