Resumo: |
Desde os anos 70 que a investigação tem reportado alterações dos potenciais relacionados com acontecimentos (ERP) em pacientes com esquizofrenia, verificando-se frequentemente reduções ao nível do P50, da mismatch negativity e do P3 [1].\nUm componente importante, mas largamente ignorado, do ERP auditivo é o P2 (ou P200). Alguns grupos de investigação, incluindo o nosso, demonstraram amplitudes reduzidas de P2 em pacientes com esquizofrenia [PP4]. Apesar da consistência nas alterações no P2, há alguma controvérsia quanto ao valor destes dados, uma vez que existem demonstrações de P2 aumentado [2] ou mesmo resultados nulos [3].\nOs nossos estudos anteriores acerca do P2 na esquizofrenia convergem com os resultados de outros grupos, demonstrando que o componente poderá ser fundamental na caracterização electrofisiológica destes doentes. Foi sugerido que as anomalias no P2 podem ser específicas da esquizofrenia e estar presentes em familiares em primeiro grau saudáveis, constituindo um putativo endofenótipo para a doença [PP1,2]. O nosso projecto anterior, e ainda em curso [PP1], está a testar esta hipótese.\nApesar dos resultados recentes, poucos estudos se têm debruçado sobre este componente desde meados dos anos 80. A falta de interesse no P2 dever-se-á ao facto de este ser um componente pouco compreendido. Apesar da sua associação com a esquizofrenia, sabe-se pouco acerca do seu significado funcional, tornando difícil a sua integração num modelo neurocognitivo do processamento da informação na esquizofrenia.\nO estudo dos geradores neuronais do P2 poderá elucidar não apenas o significado funcional, mas também as implicações das anomalias cerebrais estruturais e funcionais encontradas em doentes com esquizofrenia, que se sobrepõem significativamente com os putativos geradores de P2 (e.g., [4]).\nUma dificuldade no estudo do P2 é a sua contaminação por outros componentes devido à soma de voltagens ao nível do escalpe. Este problema, que não é devidamente contempla |
Resumo Desde os anos 70 que a investigação tem reportado alterações dos potenciais relacionados com acontecimentos (ERP) em pacientes com esquizofrenia, verificando-se frequentemente reduções ao nível do P50, da mismatch negativity e do P3 [1].\nUm componente importante, mas largamente ignorado, do ERP auditivo é o P2 (ou P200). Alguns grupos de investigação, incluindo o nosso, demonstraram amplitudes reduzidas de P2 em pacientes com esquizofrenia [PP4]. Apesar da consistência nas alterações no P2, há alguma controvérsia quanto ao valor destes dados, uma vez que existem demonstrações de P2 aumentado [2] ou mesmo resultados nulos [3].\nOs nossos estudos anteriores acerca do P2 na esquizofrenia convergem com os resultados de outros grupos, demonstrando que o componente poderá ser fundamental na caracterização electrofisiológica destes doentes. Foi sugerido que as anomalias no P2 podem ser específicas da esquizofrenia e estar presentes em familiares em primeiro grau saudáveis, constituindo um putativo endofenótipo para a doença [PP1,2]. O nosso projecto anterior, e ainda em curso [PP1], está a testar esta hipótese.\nApesar dos resultados recentes, poucos estudos se têm debruçado sobre este componente desde meados dos anos 80. A falta de interesse no P2 dever-se-á ao facto de este ser um componente pouco compreendido. Apesar da sua associação com a esquizofrenia, sabe-se pouco acerca do seu significado funcional, tornando difícil a sua integração num modelo neurocognitivo do processamento da informação na esquizofrenia.\nO estudo dos geradores neuronais do P2 poderá elucidar não apenas o significado funcional, mas também as implicações das anomalias cerebrais estruturais e funcionais encontradas em doentes com esquizofrenia, que se sobrepõem significativamente com os putativos geradores de P2 (e.g., [4]).\nUma dificuldade no estudo do P2 é a sua contaminação por outros componentes devido à soma de voltagens ao nível do escalpe. Este problema, que não é devidamente contemplado em investigações anteriores, pode ser resolvido com o desenho de um paradigma ERP que permita a manipulação paramétrica do P2 sem afectar outros componentes. Este é o objectivo central do presente projecto.\nNa Fase 1 será desenhado de um paradigma ERP, baseado na literatura acerca da manipulação experimental de N1-P2, identificando os parâmetros que permitam uma discriminação destes componentes. Os dados ERP de alta densidade (128 canais) para o P2 obtido com este paradigma serão submetidos a algoritmos de estimação da distribuição da densidade de corrente, determinando que áreas cerebrais covariam com a manipulação. Estes foci são candidatos fortes a geradores de P2. Para validar as soluções de densidade de corrente, estas áreas servirão de restrição para modelação da fonte por equivalentes de dípolo de corrente, através da qual a solução que apresentar o melhor ajuste à voltagem obtida no escalpe será seleccionada (evitando o problema "garbage-in-garbage-out" das soluções não restringidas [5]).\nNa fase 2, o paradigma que melhor diferencia P2 e N1 será desenhado e utilizado na recolha de dados em doentes com esquizofrenia e controlos saudáveis. O uso deste paradigma permitirá uma comparação do P2 não contaminado nos grupos. Para além disto, através de procedimentos de estimação da fonte, as bases neuronais do componente serão estudadas nos dois grupos.\nNa Fase 3, o paradigma da Fase 2 será comparado ao paradigma oddball clássico com os mesmos sujeitos. A demonstração da correspondência do P2 obtido com os diferentes paradigmas assegurará que os nossos resultados são comparáveis com os da literatura, baseada fundamentalmente em paradigmas oddball. Estes desenvolvimentos vão suportar evidências futuras da importância do P2 na caracterização electrofisiológica dos doentes com esquizofrenia, bem como na determinação de endofenótipos nesta doença.\nAssim, as seguintes hipóteses serão testadas, em cada fase:\n- Fase 1:\n1. os componentes N1 e P2 apresentam diferentes funções para o efeito dos diferentes parâmetros na sua amplitude;\n2. N1 e P2 têm diferentes fontes neuronais, mesmo se parcialmente sobrepostas.\n-Fase 2:\n1. doentes com esquizofrenia apresentam amplitude de P2 reduzidas, independentemente das amplitudes de N1;\n2. a amplitude reduzida de P2 reflecte-se numa menor activação dos voxeis correspondentes às áreas relacionadas com o P2 na solução de distribuição de densidade de corrente;\n3. a localização dos geradores neuronais de P2 não difere entre os grupos.\n-Phase 3:\n1. doentes com esquizofrenia apresentam amplitudes de P2 reduzidas em relação a controlos na tarefa de oddball clássica;\n2. a amplitude reduzida de P2 reflecte-se numa menor activação dos voxeis correspondentes às áreas relacionadas com o P2 na solução de distribuição de densidade de corrente;\n3. a localização dos geradores neuronais de P2 não difere entre os grupos.\n4. os componentes P2 obtidos através dos dois paradigmas estão correlacionados e os seus geradores são similares. |