Eis a Faculdade de Direito da Universidade do Porto
1. A origem: a faculdade imaginada, discutida e criada
Quatro anos após a fundação da Universidade do Porto, é apresentada à Câmara dos Deputados a criação da Faculdade de Direito. Estamos em 1915. Cinco anos depois, são elaboradas as linhas gerais do ante-projecto do “Bairro Universitário do Porto”. Nele está previsto o lugar para a edificação da Faculdade de Direito. Segue-se um longo período de hesitações, avanços e recuos. A Faculdade é discutida, pensada, concebida por comissões várias. Chega, mesmo, à forma de um decreto que só não é assinado devido a um incidente político: a queda do governo em 1987. Nova espera. Agora, até ao advento da autonomia universitária: é no seu legítimo uso que o Senado, a 12 de Dezembro de 1991, cria a Faculdade de Direito. A Universidade, a Cidade, o Norte do país aguardam mais três anos até ao despacho autorizatório do Ministério.
O ano lectivo 1994-1995 é consagrado à constituição da Comissão Instaladora, presidida pelo Reitor Professor Doutor Alberto Amaral, e à preparação do primeiro ano de funcionamento da Faculdade, o ano académico de 1995-1996. Abre-se o período instituinte da FDUP.
2. A estruturação: matriz e desenvolvimento
Uma matriz científica original
Esta não é mais uma de entre as várias escolas de direito que entretanto foram criadas noutras universidades. É, sim, uma Faculdade original. Que traço essencial a singulariza? Uma área científica inédita no país: a criminologia. A matriz estruturante da FDUP é bipartida. Aqui se ensina, aprende e investiga não apenas o direito mas também a ciência do crime. Como acontece, aliás, em muitas universidades estrangeiras como a Universidade de Lovaina- Bélgica cuja Faculté de Droit et de Criminologie cultiva este campo interdisciplinar desde 1929.
Fases de evolução estruturante
Três grandes etapas estruturam o seu desenvolvimento institucional. A primeira (1995-2000) caracterizou-se pelo ímpeto original que, através da “Comissão instaladora”, pôs em funcionamento a Licenciatura em Direito e o Mestrado em Criminologia, criou centros de investigação, elaborou os Estatutos da Faculdade. Em 2000 formaram-se os primeiros licenciados em Direito e entraram em funcionamento os órgãos normais de gestão. A segunda fase (2000-2009) caracterizou-se pela adaptação dos programas de estudo à Convenção de Bolonha, pela criação e início do funcionamento da Licenciatura em Criminologia (2006-2007) e do Mestrado em Direito (2008-2009). A terceira, que agora se inicia, é a fase da refundação da Faculdade. Entre outras, por duas razões centrais: a Universidade do Porto adoptou um novo estatuto jurídico (fundacional); define-se, por outro lado, como universidade de investigação.
3. Refundação e plano estratégico 2010-2015.
4.1.1.As ciências jurídicas são cultivadas através da actividade de três centros de investigação: o CIJE (Centro de Investigação Jurídico-Económica), primeiro centro de Direito do nosso país integrado na FCT; (nas três avaliações externas de que foi objecto obteve as classificações de bom, na primeira vez que foi avaliado, e de muito bom, nas duas avaliações subsequentes); o IJI (Instituto Jurídico Interdisciplinar) foi criado após o CIJE e desenvolve estudos que abarcam várias disciplinas, da filosofia e metodologia do direito à ciência política. Mais recentemente foi criado o Instituto de Direito Privado.
4.1.2. As ciência do crime desenvolve-se através da Escola de Criminologia. Esta sub-unidade orgânica da Faculdade estuda o fenómeno criminal nos planos internacional e nacional. Faz, nomeadamente, parte do conselho de gestão do maior consórcio europeu de investigação científica sobre crime e justiça, o GERN (Groupe Européen de Recherche sur les Normativités). Na América do Norte, é membro activo do mais antigo e dinâmico centro de investigação em criminologia, o International Center for Comparative Criminology da Universidade de Montreal, no Canadá. No plano nacional, desenvolve estudos sobre delinquência e segurança nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa.
4.2. A formação na FDUP
4.2.1. A oferta educativa
À semelhança da investigação, a formação estrutura-se em duas áreas: direito e criminologia. Em cada uma das áreas funcionam três ciclos de estudos: primeiro ciclo ( licenciatura em direito e em criminologia); segundo ciclo (mestrado em Direito e em criminologia); terceiro ciclo( doutoramento em direito e em criminologia).
Um número crescente de pós-graduações e de formação contínua tem vindo a ser oferecido a um vasto e diversificado número de profissionais.
4.2.2.Os estudantes
A FDUP, comparativamente às faculdades congéneres, acolhe, nos seus dois ciclos de formação inicial( direito e criminologia) os estudantes mais bem classificados do ensino secundário. As médias rondam, desde 2008, os 16 valores para os colocados em Direito e os 17 valores para os colocados em criminologia. Neste momento, a FDUP conta com 1317 alunos, dos quais: 932 nas licenciaturas; 271 nos mestrados;17 nos doutoramentos.
4.2.3 Internacionalização e mobilidade. O crescente número de acordos de cooperação com universidades estrangeiras constitui um indicador da internacionalização da FDUP. Assim, e ao nível da mobilidade, verifica-se, ao longo dos últimos anos, um significativo aumento( 2 a 3 vezes mais) da mobilidade in. Atrair mais e melhores alunos estrangeiros constitui um dos objectivos estratégicos da FDUP.
4.2.4. Elogio da abstracção: a formação universitária não é a continuação do ensino secundário.
Através da articulação entre a investigação e a formação a FDUP resiste à actual “secundarização” ou da formação universitária. A verdadeira formação universitária forma o pensamento no e pelo espírito científico; conduz o sistema cognitivo para os elevados e largos planos das operações abstractas. É aí, nas paragens insólitas do Pensar, situadas, as mais das vezes, nos antípodas da experiência comum, que os problemas se equacionam, na abertura à complexidade e ao poder crítico e criativo. Entendamo-nos: as universidades não têm que formar práticos ou mesmo profissionais (no sentido tradicional). Outras instituições de ensino e organizações profissionais estão vocacionadas para esse fim. Se práticos e profissionais a universidade têm de formar, são os práticos da teoria, os profissionais da abstracção, os especialistas da universalidade.
4.3.Os serviços de extensão universitária
A FDUP presta serviços à comunidade desde a sua fundação. Numa primeira fase, de modo espontâneo e informal. Em 2004 o Conselho Directivo criou formalmente estes serviços, tendo sido celebrados vários protocolos de colaboração com entidades públicas e privadas. Para o presente ano lectivo estão previstas várias iniciativas que irão imprimir uma nova dinâmica a este sector da actividade da FDUP. Entre outras, está previsto o alargamento das práticas designadas por “resolução alternativa de litígios”, iniciadas nesta faculdade em 2004 com a mediação penal.
5. Identidade: valores, atitudes e comportamentos
As organizações aspiram a uma identidade. Procuram- na, regra geral, em símbolos, retóricas, imagens sociais, rituais e crenças partilhadas. Essa identidade - espectáculo não deve, no entanto, ocultar a identidade autêntica: a que se constitui nos valores, nas atitudes, nos comportamentos. Os valores fundam a acção global de uma organização, as atitudes perspectivam-na, os comportamentos objectivam-na e revelam-na no espaço social.
Queremos saber da identidade da FDUP? Chegou o tempo da construção da identidade autêntica. Dediquemo-nos, desde já, à ampla discussão e escolha dos nossos valores.
10 de Agosto de 2011 e Universidade do Porto
O Director da Faculdade
Professor Doutor Cândido da Agra