Resumo (PT):
A experiência de sensações tais como a de aceleração do tempo ou de eliminação do es-paço vulgarizou-se na vida moderna cada vez mais organizada segundo o ritmo do “tempo real”, instituído pelos média digitais. Neste artigo, partindo do conceito de compressão espaço-tempo de Harvey (1999), confrontamos perspetivas situadas nas correntes do determinismo tecnoló-gico com outras que defendem a relação dialógica entre tecnologia e sociedade. Abordam-se noções como as de desterritorialização e destemporalização que permitem compreender o sur-gimento de um espaço de dados fragmentado e intemporal, correspondendo a uma “nova geo-grafia”, na qual já não é possível estabelecer uma fronteira clara entre o mundo físico e o digital. O texto estrutura-se tendo como suporte teórico o conceito de flâneur ciberespacial, explorando as semelhanças com o flâneur novecentista, tal como descrito por Baudelaire. A análise de um conjunto de intervenções artísticas e experimentais centradas sobre questões como a hiperloca-lização ou a ubiquidade e a pervasividade permite-nos recorrer a esta figura do flâneur ciberespa-cial num duplo sentido, como sinal da tendência para a aceleração técnica, mas também como símbolo da força de resistência a essa mesma aceleração. Conclui-se que a evolução exponencial e a crescente “naturalização” da tecnologia nos obrigam a considerar o seu papel determinante nas dinâmicas sociais, designadamente, a partir da transformação da nossa relação com as di-mensões do espaço e do tempo.
Abstract (EN):
The experience of sensations such as time acceleration and space elimination has become common in modern life, which is increasingly organised in tune with the “real time” imposed by digital media. Throughout this article and starting with the concept of “time compression” presented by David Harvey (1999), the authors contrast technological determinism with other perspectives that suggest there is a dialogue-based relationship between technology and society. The text discusses notions such as deterritorialisation and detemporalisation that make it pos-sible to understand the emergence of a fragmented and timeless data space, which corresponds to a “new geography”, in which it is no longer possible to establish a clear boundary between the physical and the digital world. The text is theoretically underpinned by the concept of the cy-berflâneur, exploring the similarities with the 19th century flâneur described by Baudelaire (1996). Analysis of a set of artistic and experimental interventions addressing issues such as hyperlo-calisation or ubiquity and pervasiveness enables us to use the character of the cyberflâneur in a twofold sense – as a sign of technical acceleration and also as a symbol of resistance to such acceleration. The authors conclude that the exponential evolution and increasing “naturalisa-tion” of technology obligates us to consider its determining role in social dynamics, namely by transforming our relationship with the dimensions of space and time.
Idioma:
Português
Tipo (Avaliação Docente):
Científica