Resumo (PT):
Esta investigação encontra-se inserida no projeto europeu Drug Use Recovery,
Environment and Social Subjectivity (DURESS), financiado pelo Serviço de Intervenção
nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), que tem como objetivo
compreender a influência dos fatores contextuais na recuperação do uso de substâncias
ilícitas, recorrendo à metodologia qualitativa e valorizando as perspetivas das pessoas que
vivem o fenómeno.
O presente estudo foca-se apenas num fator contextual, o estigma, e tem como
principal objetivo compreender a sua influência na recuperação. Para isto, ouvimos as
opiniões, perspetivas e experiências de 18 pessoas residentes no distrito do Porto e
inseridos num programa de substituição opiácea acerca dos seus percursos de recuperação
e da influência do estigma nos mesmos, em que contextos é que emerge e quais as
potenciais soluções para lidar com este fenómeno. A estratégia metodológica utilizada
foram os diários de saúde, que foram escritos, em média, durante 7 meses.
Os dados foram analisados através de uma análise de conteúdo categorial temática.
Os resultados demonstram que existem vários motivos para o estigma, sendo o uso de
substâncias ilícitas o mais mencionado, e que o estigma está presente em diversos
contextos de vida, sendo estes: sociedade; autoridades; cuidados de saúde; técnicos;
família; relações proximais; trabalho; mercado da droga; e zona residencial. Ademais, o
estigma internalizado é mencionado por um grande número de sujeitos. Os resultados
sugerem, também, que o estigma tem um impacto negativo na recuperação, evidenciando-
se a sua relação com a permanência no tratamento, com a vontade e a frequência dos
consumos, o impacto emocional negativo, o isolamento, a reintegração, e o bem-estar
geral. São, ainda, reportados resultados relativos à manipulação da identidade, e referentes
a potenciais soluções para diminuir o estigma.
Em suma, sugere-se que estigma é um fator contextual com influência na vida e no
percurso de recuperação, devendo, por isso, ser tido em conta no desenho das intervenções
e das políticas de drogas.
Idioma:
Português
Nº de páginas:
56