'No passado mês de setembro, resolvi arrumar a minha caixa de brinquedos e deparei-me com um pequeno soldadinho metálico (puro metal?) que me intrigou por não ser do género que eu teria por vontade própria — devido ao seu aspeto e cheiro- e perguntei à minha mãe sobre a história daquele brinquedo, bem distinto dos restantes. A minha mãe contou-me que quando eu era pequenino fomos visitar um museu de soldadinhos e que eu, como era fascinado por brinquedos, fiquei maravilhado com aquelas pequenas figuras ornamentadas. Recordou-me ainda que eu queria tanto ter uma delas que, ao saber que não podia levar nenhuma, fiz uma pequena birra e sentei-me num canto: era o meu maior desejo. O curioso é que, de repente, apareceu um senhor mais velho, que estendendo a mão, deu-me um pequeno soldadinho. E o que fiz? Esqueci-me dele. Senti que, por o ter abandonado, devia dar-lhe a importância que nunca fui capaz de lhe dar. Como podia eu ter-me esquecido daquele gesto e de algo que já foi tão importante para mim um dia? É deste modo que o torno protagonista do romance que envolve o meu projeto. Ainda este ano, também, li um livro chamado What’s Love Got to Do with It. Estava completamente lançado na decisão de trabalhar teoricamente sobre o Amor, e os seus possíveis significados. Li autoras como Bell Hooks, Simone Weil, entre outras. Tudo isto para perceber que… todas as copias em cera, todas as flores roubadas, todos os cavalos que usei para te procurar, não eram sobre o amor, mas sim sobre o romance, o imaginário e o delírio presente na minha cabeça de escudeiro. O romance é tido como algo pouco eclético, desprezado pelos artistas elitistas conceptuais, talvez por ser tão... popular? Mas há algo poderoso na sua previsibilidade: a audiência sabe com o que pode contar e com isso sabe que deverá sentir algo. Que o herói vai conquistar o par ideal. Que deve haver, provavelmente, um final feliz. O Romance é um estilo literário, muitas vezes ficcional, e que tem me ajudado a desenvolver uma visão fantasiosa que marca o meu percurso e projeto artístico durante este 1º ano em Escultura, no MAP. Irei até ao fim, pois abandonei a procura pela verdade absoluta. Agora só quero viver um bom romance.’ Martim Novais
A exposição fica patente até dia 04 de julho 2025, no Amparo 99.
Org.: Mestrado em Artes Plásticas - Escultura [FBAUP]
Martim Novais, artista plástico natural do Porto. Licenciado em Artes Plásticas, com especialização em Multimédia, pela Faculdade de Belas Artes do Porto. Atualmente frequenta o Mestrado de Belas Artes em Escultura e desde cedo, desenvolveu uma paixão pelas artes performativas, algo que herdou das suas origens do teatro. Esta paixão levou-o a integrar a multimédia e a escultura na sua arte, especialmente na performance, onde cria desde adereços e roupas até cenários completos. A sua ligação ao cinema influenciou-o na criação de pequenos vídeos que complementam as suas performances. Uma das vertentes artísticas que mais o fascina é a arte de Clown, onde encontro a liberdade de brincar com a arte e explorar novas formas de expressão. Tem uma tendência natural para romantizar e contemplar o mundo ao seu redor , esta visão romântica é um fio condutor no seu trabalho, onde procura criar e transformar temas sociais e pessoais em autênticas narrativas dramáticas e exageradas, frequentemente com um pequeno toque irónico.