Resumo: |
A escrita é uma das ferramentas mais eficazes para promover a riqueza mental de uma nação. Por riqueza mental entende-se o capital e bem-estar mentais. Actualmente, esta riqueza é uma chave para a prosperidade económica e social das nações[1]. Os governos democráticos de hoje, não só têm de gerir o capital material das nações, como devem cuidar dos recursos cognitivos e emocionais das suas populações. A riqueza mental é um bem crucial na configuração que as sociedades actuais estão a tomar. Como notam os autores citados, um meio de capitalizar esse bem é através de intervenções precoces dirigidas a competências chave como a literacia. As sociedades letradas actuais têm na base a escrita e a literacia. A escrita desempenhou um papel crucial em todas as sociedades que a inventaram, ou em que foi introduzida. Mais ainda, a escrita contribui para o sucesso de cada cidadão que a aprendeu e a utiliza eficazmente. Por isso, ela é uma competência adaptativa nas sociedades modernas. Primeiro, porque, através da construção e partilha de objectos de conhecimento, promove a assunção de um papel activo na vida cívica[2]. Segundo, porque as profissões mais prestigiadas, e melhor remuneradas têm habitualmente como requisito uma competência elevada nela. De facto, a escrita é actualmente um passaporte para o emprego e a progressão profissional[3]. Reconhecendo este seu papel crucial na sociedade, a União Europeia está a apoiar o desenvolvimento de uma rede de investigação para tornar mais eficiente a aprendizagem da escrita[2]. O problema da escrita é que muitas crianças acham-na difícil, desistem, e não a desenvolvem até ao nível necessário para assumirem um papel activo na sociedade. Graham e Harris[4] sugeriram que uma possível razão para este panorama está no facto do ensino da escrita não estar a ser o que devia ser. Em certo sentido, isto é lamentável, pois estão actualmente disponíveis práticas pedagógicas que já foram cientificamente estudadas e validadas[3, 4]. Sem subs |
Resumo A escrita é uma das ferramentas mais eficazes para promover a riqueza mental de uma nação. Por riqueza mental entende-se o capital e bem-estar mentais. Actualmente, esta riqueza é uma chave para a prosperidade económica e social das nações[1]. Os governos democráticos de hoje, não só têm de gerir o capital material das nações, como devem cuidar dos recursos cognitivos e emocionais das suas populações. A riqueza mental é um bem crucial na configuração que as sociedades actuais estão a tomar. Como notam os autores citados, um meio de capitalizar esse bem é através de intervenções precoces dirigidas a competências chave como a literacia. As sociedades letradas actuais têm na base a escrita e a literacia. A escrita desempenhou um papel crucial em todas as sociedades que a inventaram, ou em que foi introduzida. Mais ainda, a escrita contribui para o sucesso de cada cidadão que a aprendeu e a utiliza eficazmente. Por isso, ela é uma competência adaptativa nas sociedades modernas. Primeiro, porque, através da construção e partilha de objectos de conhecimento, promove a assunção de um papel activo na vida cívica[2]. Segundo, porque as profissões mais prestigiadas, e melhor remuneradas têm habitualmente como requisito uma competência elevada nela. De facto, a escrita é actualmente um passaporte para o emprego e a progressão profissional[3]. Reconhecendo este seu papel crucial na sociedade, a União Europeia está a apoiar o desenvolvimento de uma rede de investigação para tornar mais eficiente a aprendizagem da escrita[2]. O problema da escrita é que muitas crianças acham-na difícil, desistem, e não a desenvolvem até ao nível necessário para assumirem um papel activo na sociedade. Graham e Harris[4] sugeriram que uma possível razão para este panorama está no facto do ensino da escrita não estar a ser o que devia ser. Em certo sentido, isto é lamentável, pois estão actualmente disponíveis práticas pedagógicas que já foram cientificamente estudadas e validadas[3, 4]. Sem subscrever um intervencionismo iluminado, pois o problema da escrita nas escolas transborda para lá das práticas pedagógicas, sentimos, em todo o caso, que mais pode ser feito pelo ensino da escrita. Estamos num momento crítico para o fazer. Os novos curricula da Língua Portuguesa serão introduzidos no ano lectivo de 2010/11[5]. Estes introduzem uma visão processual da escrita, o que será uma mudança pedagógica importante, e que segue mais de 30 anos de desenvolvimento de uma perspectiva cognitiva da escrita. O projecto de investigação, que aqui propomos, tem uma vertente aplicada. Um dos nossos objectivos é desenvolver e testar empiricamente duas intervenções, implementadas por professores, para crianças do 1ºciclo do ensino básico. Há uma altura própria para intervir em cada um dos processos cognitivos da escrita[6]. Por isso, promoveremos competências de transcrição nos alunos do 1º ano e de auto-regulação nos do 4º. Há forte evidência empírica[7-11] e sustentação teórica[12-15] para seleccionar a transcrição e a auto-regulação como ingredientes críticos para promover a competência na escrita. Tanto quanto se sabe actualmente, o segredo para melhorar a escrita está em automatizar a transcrição e auto-regular os processos cognitivos mais elevados. Uma das forças deste projecto é que ele vai permitir estudar ambos os fenómenos no grupo de crianças em que eles são mais cruciais, no 1ºciclo. Como resultado deste projecto, iremos disponibilizar os manuais e actividades que validarmos empiricamente. Adicionalmente, construiremos também uma acção de formação creditada para os professores. No lado básico da investigação, usaremos técnicas de registo online, retrospecção dirigida, questionários e aleatorização dos grupos para dar conta das diversas questões de investigação. Além dos estudos de intervenção, planeámos um estudo inicial com crianças do 1º ao 6ºano, nas quais estudaremos os períodos de execução (períodos de actividade motora que ocorrem entre duas pausas). Em experiências com adultos, verificámos que a automatização da transcrição torna os períodos de execução mais longos, possibilitando, por isso, que os escritores sejam mais fluentes e operem com blocos de informação maiores[16, 17] Os primeiros anos da escola são um contexto natural onde ocorre a automatização da transcrição, logo esperámos encontrar também aí um crescimento dos períodos de execução. Mais ainda, se a transcrição desempenha este papel, uma intervenção focada nela deverá também aumentar os períodos de execução. Além disso, é plausível que uma melhor auto-regulação contribua também para períodos de execução mais longos[18, 19] Este é um projecto de investigação que surge no momento certo. Irá promover a compreensão científica da dinâmica da escrita em tempo real, e de como as intervenções eficazes operam e influenciam os processos cognitivos da escrita. Contribuirá também para estabelecer práticas empiricamente validadas que irão aumentar a riqueza mental daqueles a quem envolver |