Conferência | A descoberta do Sul
Rui Tavares, Sergio Fernandez, Duarte Belo
_FAUP 40 anos . Viagem

22 de maio de 2021, Sábado, 17h30, videoconferência

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O ciclo de conferências 'Viagem' constitui um primeiro momento das acções relativas à reflexão sobre o tema da viagem na construção da escola e da aprendizagem de arquitectura, desafio lançado pelo Comissariado das Comemorações dos 40 Anos da FAUP aos professores Rui Tavares e Ana Sofia Silva.

A consciência da viagem como momento especial de aprendizagem em Arquitectura nasce na Escola de Belas Artes do Porto e transita com naturalidade para prática da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, nesta revelando já uma maturidade que se transforma em tradição. [...]
Rui Tavares e Ana Sofia Silva

A viagem no início da viagem...
Na terceira sessão, sábado, 22 de maio, 17h30, a longa tradição da viagem ao Sul, que perdura até hoje, agora como viagem que remata o primeiro ano do curso, será o ponto de partida para os testemunhos de Rui Tavares, Sergio Fernandez e Duarte Belo.

Mãe de Água do Convento de Bom Jesus de Valverde © Duarte Belo, 1987


Partíamos quando ainda não estava calor, por volta da Páscoa, em viagem de estudo anunciada e ansiosamente aguardada, como uma verdadeira descoberta de um Portugal a sul, quente e já colorido pelas paisagens floridas em verde, amarelo e vermelho das papoilas. Em busca de uma arquitectura diferente, de um tempo histórico muito especial na concepção e construção dessa arquitectura, branca, azul, chã, impressionante pela sua resistência e carácter, onde se reconhecia tão facilmente as mãos populares de quem a tinha ajustado às suas necessidades de vida e a tinha usado em honra de todos os que antes destes que nós víamos e com quem falávamos com imensa curiosidade de um acento que não nos era familiar e que, indubitavelmente, nos cativava e nos influenciava – os outros, antes destes, que lhes tinham deixado em herança um território estável, grandioso, consistente e, sobretudo, profundamente significativo. Era assim, em direcção ao Alentejo, centrando em Évora, mas com paragem quase obrigatória em Tomar, no Convento de Cristo, onde o Mestre de tantos e de todos os alunos que nos acompanhavam, Távora, lia uma mensagem de outro Mestre de muitos séculos antes, revelando ao rei que haveria de ser difícil terminar a obra que dirigia por lhe faltarem “pedreiros de obra grave”. Víamos mais, com olhos de ver e mãos de registar em cadernos de viagem que ficaram com todos, um testemunho dessa descoberta, um início de formação como arquitectos que, em VIAGEM, continuariam a desenvolver, olhando, vendo, desenhando…para sempre nas suas vidas.
Voltávamos cheios, ampliados e satisfeitos nas ânsias de mais saber…de mais ouvir…de mais descobrir… de mais viajar… a VIAGEM como um contínuo formativo. Isso ficava impresso na formação do aluno da FAUP.
Rui Tavares


Terra, Mapa, Arquitetura
As paisagens amplas são a sedução das primeiras saídas de campo. O conhecimento do espaço está para além de uma ideia de arquitetura. Com o passar dos anos, numerosas viagens, vamos paulatinamente desenhando um mapa. Juntamos fragmentos, desenhos, fotografias, palavras. Quando queremos falar da grande viagem da vida há uma cidade imaginária que se ergue no nosso pensamento. A arquitetura vai ser um lugar-síntese a partir do qual reinventamos a condição de observação do real, as possibilidades de existirmos. Impermanências, contradições, movimento.
Duarte Belo

   

Rui Tavares
Professor Auxiliar da FAUP, Doutor em História da Arte pela Universidade do Porto; historiador pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Docente da FAUP, desde 1980, primeiro Assistente de Fernando Távora em Teoria e História I e na sua sucedânea Teoria Geral da Organização do Espaço, do 1º ano. Foi sempre Assistente de Fernando Távora. Investigador do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo – CEAU / grupo PACT (Património da Arquitectura, da Cidade e do Território) e grupo AMH (Arquitectura e Modos de Habitar) – CIAMH (Centro de Inovação em Arquitectura e Modos de Habitar.




Sergio Fernandez
Nasce em 1937, no Porto. Arquitecto, diplomado pela Escola de Belas Artes do Porto, em 1965. Professor Emérito da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Docente naquela faculdade desde 1974 e, simultaneamente durante vários anos, na Escola de Arquitectura da Universidade do Minho. Exerce actividade profissional como arquitecto. Tem bibliografia publicada em revistas da especialidade portuguesas e estrangeiras.
Da sua vasta obra, premiada e em grande parte publicada, sobressaem os Edifícios Residenciais da Pasteleira, Porto (1965), uma obra em parceria com Pedro Ramalho, a Casa de Caminha ou Casa Alcina (1971-1973), a Operação SAAL do Bairro Leal, na Rua das Musas, Porto (1974-1978), o Complexo Turístico de Moledo (1980), o Jardim Infantil de Moledo (1988), a Residência de Estudantes Lisboa, Expo'98 (1996-1998); e obras em co-autoria com Alves Costa, como o Estudo de Recuperação e Valorização Patrimonial da Aldeia de Idanha-a-Velha, o restauro do Cine-Teatro Constantino Nery em Matosinhos (inaugurado em 2008), o Complexo Residencial de Viana do Castelo (2005) e a intervenção no Convento de Santa Clara-a-Velha, de Coimbra (inaugurada em 2009).
Em Março de 2009 recebeu o Prémio AICA 2008 na categoria de Arquitectura, juntamente com Alexandre Alves Costa (1939-), atribuído pela qualidade das suas intervenções no património construído e dos novos projectos, bem como pela excelência da actividade pedagógica que ambos desenvolveram na FAUP.   




Duarte Belo
Duarte Belo (Lisboa, 1968). Formação em arquitetura (1991). Desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquiteturas em Portugal. Este trabalho continuado sobre o território deu origem a um arquivo fotográfico de mais de 1.750.000 fotografias. Publicou vários livros sobre o tempo e a forma do território português, de que se destacam: Portugal — O Sabor da Terra (1997-1998); Portugal Património (2007-2008); Portugal Luz e Sombra (2012); Caminhar Oblíquo, Depois da Estrada e Viagem Maior (2020). Expõe desde 1987 e participa regularmente em conferências e mesas redondas. É editor do blog Cidade Infinita.

   

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