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Memória U.Porto

Projectos e Obras de Construção do Edifício da Reitoria da U.Porto

Baltazar Guedes (1620-1693) e o Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça

Retrato do Padre Baltazar Guedes / Portrait of Baltazar GuedesBaltazar Guedes, filho do mercador Luís da Costa Rosa e de Lourença Guedes, nasceu no Porto, na Rua Nova (atual Rua do Infante D. Henrique), a 6 de Fevereiro de 1620. Foi batizado no dia 11 pelo tio paterno, o licenciado Pantaleão da Costa e Vasconcelos, tendo como padrinhos Domingos de Moura Coutinho e D. Brites Leite.

Baltazar, o mais velho de quatro irmãos - Pantaleão, Maria e Luís -, ficou órfão de mãe em 1627 e de pai em 1637. Passou a infância em casa de um tio e cedo mostrou vocação para a vida espiritual e para a proteção dos órfãos.

Uma vez concluídos os estudos viu-se confrontado com a falta de fundos para se ordenar. Suplicou, então, a intercessão de Nossa Senhora da Graça na velha capela portuense daquela invocação, um modesto templo de origem mal conhecida, que se dizia ter sido mandado erigir por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, ou por D. Catarina ou, então, edificado em tempos de peste e que guardava sepulcros no interior, assim como as imagens de Santo António e do Santo Cristo nos altares colaterais e de S. Sebastião e de Nossa Senhora da Esperança no altar-mor.
Imagem da Senhora da Graça / Image of Senhora da GraçaAs preces foram atendidas, tal como contou o próprio Baltazar Guedes: era dia de Santo António e, ao abandonar a capela, encontrou um financiador.

Depois de ordenado presbítero, em 1644, procurou cumprir o sonho antigo de fundar um estabelecimento que acolhesse os desfavorecidos, que eram muito numerosos na cidade do Porto. A 29 de Outubro de 1649 obteve permissão da Câmara do Porto para habitar junto da Capela, tendo-lhe sido também concedido uma porção de terra. A partir de então passou a viver na companhia de um estudante pobre que veio a ingressar na Ordem de S. João de Deus e prosseguiu o trabalho com que se propunha criar um colégio para acolher órfãos da cidade e do bispado do Porto. Obteve licença para pedir esmola por todo o país, prática que era frequente naqueles tempos.

Às esmolas que angariou pelo reino na companhia de dois órfãos juntou o produto das missas celebradas, a herança deixada por um tio, os ganhos resultantes dos livros que imprimiu e de objetos sacros que produziu.

Foi assim que nasceu o Real Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto. Esta denominação ficou a dever-se à existência de uma ermida nas proximidades do Colégio da invocação de Nossa Senhora da Graça, assim como aos objetivos assistenciais da instituição, fundada por Alvará Régio de D. João IV, datado de 30 de janeiro de 1650.

Capa dos Estatutos do Colégio de 1739 / Cover of the Statutes of the College, 1739A cerimónia de inauguração do Colégio ocorreu a 25 de Março de 1651, no dia de Nossa Senhora da Encarnação, e a primeira pedra foi lançada a 21 de Novembro do mesmo ano, numa celebração presidida pelo Chantre da Sé, Fernão de Freitas de Mesquita. Os estatutos começaram a ser elaborados pelo fundador em Junho de 1652. Primeiro, mereceram a aprovação da Câmara do Porto, em 20 de Agosto de 1653, depois, a aprovação da Corte, a 11 de Outubro de 1655. Por fim, receberam a confirmação papal, pela Bula de Clemente XI, em 1712.

Em 1659 ficou pronto o dormitório grande. Em 1674, estavam concluídos os 3 corpos do edifício, mantendo-se a ermida no quarto corpo e deu-se início à construção da nova igreja, obra do Gregório Fernandes.

Além de muito piedoso, Baltazar Guedes era um homem com vários talentos. Tinha fama de ser um bom orador e de ser dotado para os trabalhos manuais, sendo capaz de compor vestimentas, paramentos e ornamentos. Traduziu obras ascéticas e foi autor dos opúsculos a "Memória das Águas que vêm para as fontes da cidade" e "Breve relação da fundação do Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, sito fora da Porta do Olival desta Cidade do Porto, em a qual se contém tudo o que na fundação dele sucedeu". Colaborou em obras públicas da cidade, como a reparação e regularização de percurso "do cano da água de Paranhos" e, possivelmente, terá sido o autor do projeto da Fonte da Arca, na antiga Praça Nova.

O padre Baltazar Guedes faleceu no Porto a 6 de Outubro de 1693, em circunstâncias tão misteriosas que deram origem a uma lenda veiculada por Frei Fernandes da Soledade. Segundo esta história, foi sepultado dois dias após o óbito, pelo facto de, estranhamente, o seu corpo permanecer quente e flexível e as faces coradas. Esta situação só se terá alterado depois de os físicos que dele tratavam terem ordenado aos meninos órfãos que rezassem a S. João de Deus. Por esta altura, um deles terá reparado que uma das fitas empunhadas por Baltazar Guedes se movimentava. Colocou-se um peso na extremidade da fita que, no entanto, não se imobilizou. Puseram-na, então, na cabeça do defunto, que só nesta altura terá deixado escapar os dois derradeiros suspiros.
Ao terceiro dia, o corpo foi colocado no esquife e sepultado na igreja do Colégio dos Meninos Órfãos. O Senado da Câmara providenciou exéquias grandiosas, as quais foram acompanhadas por portuenses de todos os estratos sociais. Baltazar Guedes foi enterrado junto à porta que ligava o Colégio ao claustro, numa campa rasa sem qualquer inscrição. Na parede mais próxima colocou-se uma lápide de mármore com o seguinte epitáfio:
      "AQUI JAZ O PRIMEIRO REITOR E
        FUNDADOR DESTE COLLEGIO DOS OR-
        PHÃOS BALTAZAR GUEDES A SEIS
        DE OUTUBRO DE MIL SEISCENTOS
        NOUENTA E TRES
"

Por testamento datado de 1693 (o terceiro e último dos que redigiu), Baltazar Guedes considerou como seus herdeiros os meninos órfãos. O mesmo documento nomeou o Padre Manoel de S. Bento para sucessor de Baltazar Guedes e o Padre João de S. Pedro para vice-reitor do Colégio.

Projecto da Academia, de Carlos Amarante / Project of the Academy, by Carlos AmaranteO dia 4 de Novembro de 1803, data em que foram solenemente inauguradas as aulas da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto nas casas do Colégio dos Meninos Órfãos, marcou o fim de uma era nesta instituição.

O plano da Academia, da autoria do engenheiro-arquiteto Carlos Amarante, previa a atribuição do piso superior para habitação dos órfãos e para instalação da igreja colegial.
Desenho da Academia Polytechnica (lado da igreja do Colégio dos Meninos Órfãos) / Drawing of the Polytechnic Academy (side of the church of the College of Orphan Children)Contudo, as condições de habitabilidade destes espaços vieram a revelar-se muito más. À medida que a obra ia avançando, as dependências do Colégio iam sendo tomadas pela Academia mediante algumas compensações. Assim, por exemplo, no relatório camarário de 1873, o vereador representante da administração do Colégio queixou-se de que os órfãos viviam desprovidos de luz e de ar fresco. O vereador que se lhe seguiu, o industrial José Carneiro de Mello, apresentou novas reclamações nos seus relatórios, conseguindo obter diversas benesses para os órfãos, tal como o pagamento das matrículas e a concessão de subsídios aos alunos que frequentavam o Liceu e os estudos superiores, para além da criação de prémios escolares.

Academia Polytechnica (Lado da Graça; desenho de Joaquim Vilanova) / Polytechnic Academy (side of Graça; Drawing of Joaquim Vilanova)Durante a administração do vereador Alfredo Menéres, foi projetada a transferência do Colégio para uma nova casa e a trasladação dos despojos do fundador para um túmulo mais nobre.

A compensação a pagar pelo Estado pela apropriação do património do Colégio foi negociada pela Câmara do Porto. A instituição foi temporariamente transferida para a rua dos Mártires da Liberdade, n.º 237 e, em 1899, durante as sessões da Câmara do Porto, foi sugerida a deslocação do Colégio para o edifício arruinado do antigo Seminário do Porto, fundado em 1803 e abandonado dois anos depois. A planta da nova obra foi apresentada a 30 de Novembro de 1899 e o projeto aprovado a 13 de Setembro de 1900. Apesar de algumas vozes discordantes, as obras tomaram o seu curso normal e no dia 17 de Setembro de 1903 os órfãos já estavam instalados na nova casa, no Monte do Prado. A igreja foi benzida a 31 de Agosto de 1906 e inaugurada a 28 de Outubro do mesmo ano com uma festa dedicada a Nossa Senhora da Graça.

Busto de Baltazar Guedes / Bust of Baltazar GuedesTrezentos anos após a publicação do alvará régio que criou o Colégio, organizou-se no Porto um encontro de antigos alunos. Nessa ocasião festiva ficou deliberada a construção de um monumento e a criação de uma lápide alusivas à memória do Padre Baltazar Guedes, para além da publicação de uma monografia sobre o Colégio.

A lápide foi colocada a 7 de Abril de 1951 no edifício que hoje é ocupado pela Reitoria da U.Porto e que, na altura, também albergava a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e outros estabelecimentos universitários. Nela podia ler-se a seguinte inscrição:
"Neste lugar foi fundado, pelo benemérito Padre Baltazar Guedes, em 25 de Março de 1651, o Real Colégio dos Meninos Órfãos, junto da Ermida de Nossa Senhora da Graça, erigida, segundo a tradição, por voto da primeira rainha de Portugal. No edifício desse Colégio funcionaram as primeiras aulas da Academia Real de Marinha e Comércio, antecessora da Academia Politécnica. A Câmara Municipal do Porto – 25 de Março de 1951."

Nesse ano foi inaugurada uma escultura de Baltazar Guedes, modelada por José Fernandes de Sousa Caldas e implantada no Largo do Padre Baltazar Guedes, defronte do atual edifício do Colégio dos Meninos Órfãos. Na mesma ocasião foi lançada uma publicação comemorativa do III centenário deste asilo, com o título "Breve relação da fundação do Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, sito fora da Porta do Olival desta Cidade do Porto, em a qual se contém tudo o que na fundação dele sucedeu pelo Padre Baltazar Guedes". A introdução é da autoria de Artur de Magalhães Basto e a edição ficou a cargo da Câmara Municipal do Porto.

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