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Rita de Moraes Sarmento 1872–1931 1.ª engenheira portuguesa |
Rita de Moraes Sarmento era a mais nova das irmãs Moraes Sarmento, quarta filha de Anselmo Evaristo de Moraes Sarmento, negociante e natural de Aveiro, e de D. Rita de Cássia de Oliveira Moraes, natural do Porto, moradores na Rua do Bonjardim, Porto. Aqui nasceu na madrugada de 11 de fevereiro de 1872. Com cerca de dois meses foi batizada na Igreja Paroquial de Santo Ildefonso, tendo como padrinhos Duarte Mendes Corrêa da Rocha, escrivão de Direito em Coimbra, e uma tia, D. Firmina Augusta de Moraes e Costa.
Rita passou a infância e a juventude no Porto. Para além de um irmão, teve três irmãs, todas mais velhas: Laurinda, Aurélia e Guilhermina. Enquanto a Mãe se encarregava da educação dos cinco filhos, o Pai exercia a atividade de negociante com a Tipografia "Imprensa Portuguesa" e a de jornalista, dirigindo os periódicos "Gazeta Literária do Porto" e "A Actualidade", assim como, mais tarde, a "A Ideia Nova – diário democrático".
A sua formação moral e ética foi fortemente influenciada pelo espírito liberal do Pai, descendente dos Moraes de Aveiro, acossados durante o reinado absolutista de D. Miguel. Esta influência familiar também terá contribuído para realçar a importância da educação como fator de promoção pessoal e social.
Para além dos ideais liberais defendidos pela família, Rita também recebeu a influência de pessoas que se relacionavam com o Pai por razões profissionais e de amizade. Entre estas contam-se figuras de prestígio como Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Teófilo Braga. A casa dos Moraes Sarmento era um espaço privilegiado para a proliferação dos ideais liberais e das ideias que então grassavam, enquanto no País se procurava construir uma cultura e uma mentalidade democráticas.
Não é alheio a esse ambiente familiar o facto, inédito na altura, de os cinco irmãos terem obtido diplomas no ensino superior. Tanto Rita como as irmãs diplomaram-se no Porto ainda antes da viragem do século XIX.
No ano letivo de 1887-1888, quando Rita tinha 15 anos, matriculou-se na Academia Politécnica do Porto juntamente com a irmã Guilhermina. A sua escolha diferiu da das irmãs, que frequentaram os cursos preparatórios da Academia Politécnica para, depois, ingressarem na Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Do plano de estudos constavam as cadeiras de Geometria Analítica, Desenho de Figura, Paisagem e Ornato e Química Inorgânica Geral. Todas elas integravam o plano curricular do 1.º ano do curso de Engenheiros Civis de Obras Públicas. Rita concluiu a frequência desse ano aprovada a todas as disciplinas e com a menção de distinção na cadeira de Química Inorgânica. Ainda na companhia da irmã, frequentou no ano letivo seguinte as cadeiras de Cálculo Diferencial e Integral, Física Geral e Desenho de Arquitectura e Aguadas. O resultado obtido nesta última disciplina valeu-lhe uma menção de distinção. No ano letivo de 1889-1890, cindiu-se o percurso académico das duas irmãs, quando Guilhermina se inscreveu na Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Durante os anos letivos de 1890-1891 e 1891-1892, Rita de Moraes Sarmento era a única senhora entre os estudantes da Academia Politécnica. No ano letivo seguinte, Rita já pôde contar com uma presença feminina como sua colega, mas, durante o 5.º ano do curso voltou a ser a única mulher entre os alunos matriculados, que eram apenas três. No 6.º e último ano do curso, foi colega de Victor Machado e de Luís Couto dos Santos, futuro professor da Faculdade Técnica e, depois de 1926, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O último exame fê-lo à cadeira de Construções e Vias de Comunicação, disciplina do 2.º ano, no dia 30 de junho de 1894. Assim ficou concluído o curso de Obras Públicas, com aproveitamento final de 12,5 valores (média das classificações de 12,18 valores no curso preparatório, no qual foi a melhor aluna dos três finalistas, e de 12,88 valores obtidos no curso especial).
Esta graduação não passou despercebida na imprensa periódica pelo seu ineditismo a nível nacional. Rita de Moraes Sarmento foi a primeira senhora a conquistar um diploma em Engenharia Civil, em Portugal.
Já habilitada a requerer a "Carta de Capacidade" para o exercício da profissão de engenheira civil, Rita apenas o fez com 24 anos, tendo-a recebido a 30 de julho de 1896. Dois anos mais tarde, em 25 de setembro de 1898, casou na Igreja de Cedofeita, Porto, com António dos Santos Lucas, Doutor em Matemática pela Universidade de Coimbra e Tenente de Engenharia. Em 1900, o casal fixou residência em Lisboa, após um convite feito a António dos Santos Lucas para lecionar na Escola Politécnica. Rita viveu em Lisboa até falecer, em 28 de março de 1931, apoiando o marido numa longa carreira profissional. Para além de professor catedrático e Diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa foi, também, embora durante pouco tempo, Ministro das Finanças (1914).
Ao funeral de Rita compareceram representantes do Ministério da Instrução Pública e da Universidade de Lisboa. Foi sepultada em jazigo de família, dos Moraes Sarmento.
Seria preciso aguardar mais uns anos para que o percurso académico de Rita Moraes Sarmento fosse secundado por outra mulher portuguesa. Essa mulher foi Virgínia Moura, a primeira licenciada em Engenharia Civil no contexto da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2011)