| Resumo: | 
As alucinações têm sido uma preocupação duradoura quer para filósofos, quer
 para psicólogos. Por um lado, do ponto de vista do filósofo elas representam o
 caso mais emblemático de inquietudes epistémicas. Por outro lado,
 normalmente, a maioria dos psicológicos clínicos e experimentais que estudam
 desordens mentais confrontam-se com alucinações. Nos últimos anos, porém,
 o interesse pelo problema das alucinações tornou-se mais intenso que nunca.
 Em filosofia, o recente renascimento do realismo ingénuo sob a etiqueta
 "disjuntivismo" revitalizou o debate sobre as alucinações (ver [7], [16], [23]). De
 forma similar, a investigação empírica das alucinações tem sido uma tendência
 importante nas várias áreas da psicologia ao longo das duas últimas décadas
 [1], sobretudo graças ao impressionante desenvolvimento da técnicas de
 neuro-imagem, que permitiu ganhar um conhecimento muito mais profundo da
 base neuro-biológica desses fenómenos mentais. Infelizmente, só raramente
 filósofos e psicólogos empenhados na investigação dos fenómenos
 alucinatórios têm mostrado interesse no trabalho recíproco. Por um lado, a
 referencia a dados empíricos é escassa na discussão sobre o disjuntivismo.
 Por outro lado, os psicólogos dão pouca atenção ao trabalho conceptual
 desenvolvido pelos filósofos na tentativa de clarificar a natureza de tipos
 diferentes de eventos mentais. A falta de fertilização mútua entre as duas
 áreas é a motivação principal do presente projeto. Desta forma, a proposta
 geral aqui avançada consiste na promoção de uma abordagem multidisciplinar
 como sendo a mais adequada ao problema das alucinações. Esta ideia nuclear
 é articulada em três eixos principais:
 A) Problemas conceptuais para psicólogos: Devido aos diferentes paradigmas
 teóricos e metodológicos adotados na investigação dos fenómenos
 alucinatórios, tem sido muito difícil fornecer não só uma classificação
 universalmente aceite (ver [6] para as alucinações auditivas), mas até uma
 definiçã   | 
Resumo As alucinações têm sido uma preocupação duradoura quer para filósofos, quer
 para psicólogos. Por um lado, do ponto de vista do filósofo elas representam o
 caso mais emblemático de inquietudes epistémicas. Por outro lado,
 normalmente, a maioria dos psicológicos clínicos e experimentais que estudam
 desordens mentais confrontam-se com alucinações. Nos últimos anos, porém,
 o interesse pelo problema das alucinações tornou-se mais intenso que nunca.
 Em filosofia, o recente renascimento do realismo ingénuo sob a etiqueta
 "disjuntivismo" revitalizou o debate sobre as alucinações (ver [7], [16], [23]). De
 forma similar, a investigação empírica das alucinações tem sido uma tendência
 importante nas várias áreas da psicologia ao longo das duas últimas décadas
 [1], sobretudo graças ao impressionante desenvolvimento da técnicas de
 neuro-imagem, que permitiu ganhar um conhecimento muito mais profundo da
 base neuro-biológica desses fenómenos mentais. Infelizmente, só raramente
 filósofos e psicólogos empenhados na investigação dos fenómenos
 alucinatórios têm mostrado interesse no trabalho recíproco. Por um lado, a
 referencia a dados empíricos é escassa na discussão sobre o disjuntivismo.
 Por outro lado, os psicólogos dão pouca atenção ao trabalho conceptual
 desenvolvido pelos filósofos na tentativa de clarificar a natureza de tipos
 diferentes de eventos mentais. A falta de fertilização mútua entre as duas
 áreas é a motivação principal do presente projeto. Desta forma, a proposta
 geral aqui avançada consiste na promoção de uma abordagem multidisciplinar
 como sendo a mais adequada ao problema das alucinações. Esta ideia nuclear
 é articulada em três eixos principais:
 A) Problemas conceptuais para psicólogos: Devido aos diferentes paradigmas
 teóricos e metodológicos adotados na investigação dos fenómenos
 alucinatórios, tem sido muito difícil fornecer não só uma classificação
 universalmente aceite (ver [6] para as alucinações auditivas), mas até uma
 definição não controversa de tais fenómenos (ver [25], [19], [1], [5]). Além
 disso, a literatura psicológica não é capaz, frequentemente, de especificar
 critérios que permitam distinguir de forma clara as alucinações de outros
 estados sensoriais tais como percepções erradas, ilusões, fenómenos de
 imaginação e até sonhos.
 B) Problemas empíricos para filósofos: Comum às diferentes versões de
 disjuntivismo que se encontram na literatura é a ideia de que há uma
 descontinuidade fundamental entre perceções e alucinações: não há nenhum
 "fator comum" partilhado por estas duas classes de fenómenos mentais.
 Todavia, normalmente os modelos cognitivos e neuro-biológicos consideram
 perceções e alucinações como sendo realizadas pelos mesmos sistemas
 funcionais e anatómicos. Esta tese, pelo menos prima facie, contrasta com a
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 assunção de descontinuidade que é central para o disjuntivismo. Pode a visão
 sugerida pelos modelos cognitivos e neuro-biológicos ser articulada de forma
 tal a desafiar o disjuntivismo? E como podem os disjuntivistas defender a sua
 tese nuclear tendo em conta a convergência funcional e anatómica indicada
 pelo dados empíricos?
 C) O problema verdadeiro: a fenomenologia (ou carácter fenomenal) da
 experiência alucinatória continua obscura. Particularmente enigmático é o seu
 "caráter percetivo" [24], o seu enganador "sentido de realidade" [3]. Às vezes,
 este caráter é descrito em termos de Leibhaftigkeit [18], ou vividez. No caso
 das perceções verídicas, a vividez é considerada sinalizar o facto que há
 objetos presentes no espaço circundante. Por exemplo, a vividez da minha
 experiência visual da mesa sina |