Resumo (PT):
As doenças cardiovasculares representam, atualmente, um problema grave de saúde
pública. Apesar de os estilos de vida constituírem um fator frequentemente invocado
como causa do surgimento destas doenças, têm surgido cada vez mais provas de que as
condições em que se trabalha podem, de igual forma, ser preditoras destes problemas de
saúde. O objetivo deste estudo consiste em conhecer e compreender a prevalência de
doenças cardiovasculares e os seus fatores de risco em profissionais que exercem
atividade em contexto hospitalar, considerando as condições de trabalho em que exercem
atividade. A amostra foi constituída por 157 trabalhadores do Centro Hospitalar São João
(CHSJ), incluindo enfermeiros, médicos, técnicos superiores e assistentes operacionais.
Os dados foram recolhidos a partir de um questionário de autopreenchimento, concebido
no âmbito deste estudo. À semelhança das características da população do CHSJ, a
maioria dos participantes era do sexo feminino (76%) e 58% tinha menos de 45 anos. Os
dados foram explorados através de estatística descritiva, e também com recurso à
regressão logística, com o intuito de analisar a associação entre as características do
trabalho e a existência de doença/risco cardiovascular, considerando as características
individuais dos trabalhadores (sexo, idade e antecedentes familiares para doença
cardiovascular). Os resultados aparentaram revelar um efeito paradoxal, na medida em
que foram encontradas associações entre a realização do trabalho aos fins de semana, por
turnos rotativos, e mistos, e um menor risco de hipertensão. Estes resultados são
compreendidos quando ajustados aos fatores individuais de cada um, nomeadamente, a
idade: são os trabalhadores mais jovens que estão mais expostos, por exemplo, a horários
de trabalho mais exigentes, contudo, sabendo que o seu impacto na saúde não é imediato,
mas sim diferido no tempo, apresentam menos probabilidade de um diagnóstico de
doença cardiovascular. Contrariamente, junto dos trabalhadores mais velhos, menos
expostos a horários mais exigentes, há uma maior prevalência deste tipo de doença.
Considera-se, assim, a possibilidade de se observar, neste contexto, um exemplo concreto
do “efeito do trabalhador saudável”, uma vez que estamos perante uma amostra
relativamente jovem e o efeito destas características laborais poderá ainda não ter surtido
efeito. Assim, a discussão de medidas de intervenção sobre as condições de trabalho
revela-se pertinente, tendo em vista a prevenção destas doenças no futuro.
Language:
Portuguese
No. of pages:
66