Madeira Nivel II
Ocorrência: 2005/2006 - A
Objetivos
Introdução
Esta disciplina pretende que o aluno seja sensibilizado para a importância da matéria na produção escultórica, contudo não se deve entender que a matéria está sujeita a imposições, ou que valerá unicamente por si; ela é apenas um veículo decisivo para formar e expressar ideias.
A tecnologia de Madeira, é uma disciplina onde os alunos aprendem a fazer escultura por processos subtractivos e construtivos, sem excluir outros possíveis. A utilização de diversos métodos e processos de corte, desbaste, torção, aglutinação, encaixe, colagem e outros processos de união ou montagem, significam, para além do processo em si, uma forma de construir específica da escultura que se exprime através deste tipo de matéria prima.
O processo subtractivo de dar forma plástica a uma matéria prima como a madeira, impõe ao escultor que assuma uma atitude em que a consciência das intenções e da sua forma tem de ser total, para não se retirar matéria para além da necessária, mas permite a exploração de factores específicos e de outros processos de corte e desbaste. A madeira possui características e exige métodos que põem questões formais específicas, que em muito contribuem para uma formação mais completa do escultor.
O objectivo desta disciplina define-se assim, globalmente, no sentido de permitir desenvolver no aluno a capacidade técnica de conceber a escultura em geral e, em particular a da madeira, ajudando a que permita encontrar uma perfeita sintonia da matéria com os propósitos e um caminho próprio de pesquisa e actuação no âmbito da escultura, não excluindo a intervenção na actividade artística em geral.
O desenvolvimento desse processo deverá ter em atenção a evolução da pesquisa, a eleição adequada dos materiais e processos tecnológicos que formarão fluxos permanentes de informação e debate com os docentes que acompanharem o trabalho.
Objectivos
Para além dos principais objectivos já referidos no programa da disciplina de Atelier II, esta área de opção pretende retirar da matéria prima que a elege, potencialidades plásticas que sirvam não só como um corpo experimental de ideias e formas mas, fundamentalmente, como berço conceptual e técnico da escultura em madeira.
O desenvolvimento dos trabalhos a realizar deverão apurar ao máximo não só as características físicas e técnicas da matéria prima mas, principalmente, as expressivas e formais.
O fundamento que a elege, deve ter em conta a exaltação da matéria como um propósito específico e não aleatório.
O espírito que preside a todo o processo, será por isso duma concepção escultórica, em que a matéria não se ausenta da concepção, pelo contrário, torna-se cúmplice ou mesmo mola real duma cultura estética assente na sua expressividade.
Os procedimentos tecnológicos e formalmente tradicionais, tendo em conta o seu legado cultural, devem constituir uma base de conhecimentos para os alunos, mas nunca se devem fixar como objectivo principal.
A descoberta de novas atitudes estéticas, devem gerar novos procedimentos conceptuais e tecnológicos, de forma a sustentar, legitimar e constituir, respostas às solicitações da arte actual.
Sempre que possível deverá ser organizada uma visita de estudo a uma serração com o objectivo de oferecer ao aluno conhecimentos relacionados com a produção industrial da madeira e das várias potencialidades técnicas da indústria para operar, muitas delas passíveis de se emprestar à realização de escultura.
Por fim o encontro com um escultor a trabalhar metais deve traduzir-se numa aproximação a tudo que constitui um atelier desse género
Programa
1ª Parte:
Higiene e segurança no trabalho; conhecimentos básicos da matéria prima; manuseamento de maquinas e ferramentas manuais
A primeira parte, apesar de ser ministrada no nível 1, deve repetir-se no nível 2 uma vez que, não havendo precedência nesta cadeira, torna-se esta matéria imprescindível ao aluno que a frequenta pela primeira vez e quando funciona em bloco com a cadeira de Atelier II.
No que se refere aos conhecimentos básicos da matéria prima, é fornecida ao aluno informação que possibilite uma posterior investigação acerca das suas características e das qualidades físicas, químicas e mecânicas bem como das principais variedades existentes.
2ª Parte:
Elaboração de um exercício escultórico em que a matéria prima se apresente fundamental do ponto de vista expressivo e conceptual
Os conhecimentos técnicos aqui iniciados, não devem encerrar todos os potenciais processos de operar nesta matéria. Ela terá que ser sentida não somente ao nível conceptivo de linguagens já experimentadas na escultura em que esta matéria esteve presente, até à concepção formal e técnica de novas linguagens
As técnicas a apreender não são por isso somente as que têm servido aos escultores, ou ao trabalho na madeira de uma forma geral, mas principalmente, a concepção individual de técnicas, que cumpram a finalidade conceptual do objecto escultórico de cada aluno
Os trabalhos a realizar poderão ser ou não integralmente propostos pelos alunos
Uma postura experimental, quando orientada pelos docentes, também pode vir a constituir legitimidade neste processo, porque a finalidade será sempre a realização de trabalho escultórico em madeira, podendo este, incorporar outras matérias
3ª Parte:
Desenvolvimento de experiências e apuramento de finalidades que sirvam o projecto individual do aluno
O projecto individual do aluno, pressupõe a presença desta matéria, sendo essa a razão principal da sua opção
Se na segunda parte o aluno é mais sensibilizado a retirar potencialidades escultóricas levando as suas ideias ao encontro da matéria, agora a situação dá-se em posição inversa. A proposta é da inteira responsabilidade do aluno, portador de um projecto individual, cuja concepção projectada na madeira vai fazer com que a encaminhe no sentido das suas ideias
Contudo, não se deve entender que a matéria está sujeita a imposições, ou que valerá unicamente por si; ela é apenas um veículo decisivo para formar e expressar ideias
Competências
Formar capacidades técnicas para operar com máquinas e ferramentas manuais
Conhecer e respeitar a matéria prima no seu essencial para a escultura
Conhecer e desenvolver os processos operativos das principais formas tradicionais do trabalho escultórico nesta matéria (processos de corte manuais e mecânicos, processos de talhe directo, seccionamento da madeira tendo em conta o correr dos veios, malhetagem, cavilhação, colagem, aglutinação e assemblage, infusão e tratamento, patines, dobragens, contorções e tratamento de superfícies)
Desenvolver um espírito activo e participante que ajude a formar o atelier de trabalho nas Madeiras
Explorar novos procedimentos e novas técnicas, no sentido de conceptualizar novas linguagens para a escultura em Madeira
Desenvolver um espírito crítico cujo fundamento, alicerce e defesa ajude a impor o seu trabalho
Acentuar os poderes de concretização, realização e resolução
Desenvolver capacidades para expor no espaço físico e mental o seu trabalho escultórico
Documentar de forma profissional o trabalho realizado
Bibliografia Principal
Baudry, Marie-Thérèse - La sculptura méthode et vocabulaire, 1984 Ed. Imprimerie Nationale, Paris
Clérin, Philippe - La sculpture toutes les techniques, 1995 Ed. Dessain et Tolra, Paris
Lewroi Gourhan, André - Evolução e técnicas / O homem e a matéria, 1971 Ed. 70, Lisboa
Lewroi Gourhan, André - Evolução e técnicas / O meio e as técnicas, 1971 Ed. 70, Lisboa
Pirson, Jean François ? La estructure y el objecto, 1988 Ed PPU, Barcelona
Rich, Jack - The materials and methods of sculpture, 1988 Ed. Dover, NY
Schodek, Daniell - Struture in sculpture, 1993 Ed. Institute of Technology, Massachussetts
Bibliografia Complementar
Albrecht, Hans Joachim - Escultura en siglo XX, 1981 Ed. Blume, Barcelona
Blühm, Andreas ? The Colour Of Sculpture 1840-1910, 1996 Ed. Van Gogh Museum and Henry Moore Institute
Krauss, Rosalind ? Caminhos da Escultura Moderna, 1998 Ed. Martins Fontes, São Paulo
Manzanares, Mª Luísa - Escultura Contemporánea en el espacio urbano, 1999 Ed Electa, Espanha
Marchán Fiz, Simón ? Del Arte Objectual al Arte de Concepto, 1997 Ed. Akal, Madrid
Marchán Fiz, Simón - La história del cubo. Minimal art y fenomenología, 1994 Ed. Rekalde,SL, Bilbao
Rowell, Margit - Qu'est-ce que la sculptura moderne, 1986 Ed. Centre Georges Pompidou, Paris
Catálogos e obras e Monografias de escultores contemporâneos
Bibliografia própria, de apoio específico a cada projecto individual de trabalho
Métodos de ensino e atividades de aprendizagem
Metodologia
No início do ano lectivo, os alunos deverão apresentar um portfolio com uma proposta individual de pesquisa anual que documente, e fundamente, a natureza do trabalho pretendido.
A realização do trabalho prático que consubstancie as ideias expressas na proposta que o aluno apresentou, deverá ser objecto de acompanhamento por parte do docente encarregado da tutoria, tendo em consideração os seguintes factores:
- O desenvolvimento prático da proposta deve ser feita através da execução de desenhos à mão levantada, esbocetos ou maquetas e, ou, se necessário, de projectos rigorosos desenhados e detalhados, que deverão constituir o apoio necessário ao trabalho e à realização definitiva.
Caso a concretização, em tamanho definitivo, da proposta de trabalho apresentado justifique a opção, este pode ser concretizado directamente sem o recurso a exercícios preparatórios.
- Adequação tecnológica para a feitura objectual das formas com que o aluno irá dar corpo às intenções que propõe, de modo a conseguir a melhor prestação e os efeitos desejados.
- Especial incidência à análise que o aluno faz relativamente ao processo de trabalho de concretização que realiza, em função da pesquisa que se pretende ser tendente à definição de uma linguagem autêntica e individualizada.
Deverá incutir-se nos alunos a importância de se realizar uma mostra final do trabalho efectuado durante o ano lectivo, com o objectivo de apreenderem a necessidade de:
- Concretizar o trabalho de escultura finalizando-o de modo a poder ser exposto.
- Analisar o resultado final de um processo de trabalho, efectuado muitas vezes em conjunto com colegas, verificar e discutir antagonismos e afinidades, concluir da necessidade ou intenção de prosseguir ou abandonar a pesquisa e realizar autocrítica.
- Verificar a coerência do trabalho ou conjunto dos trabalhos e proceder à selecção das peças, com vista à exposição daquelas que, de mais autênticas e significativas se identifiquem mais com o autor e correspondam à pesquisa efectuada.
- Confrontar a análise crítica dos colegas e docentes com uma opinião pública mais generalizada e eventualmente especializada.
- Abordar os aspectos organizativos essenciais à promoção de eventos deste tipo, como gestão dos espaços disponíveis, transporte e montagem das peças, produção, selecção e coordenação de textos e de imagens para publicação e organização de um catálogo.
Sempre que os docentes considerem oportuno e importante para o desenvolvimento da qualidade de um trabalho, deverão permitir a execução de peças com vista à sua colocação em local exterior ao espaço escolar e a procura de locais públicos que permitam a implantação do trabalho realizado.
No futuro exercício da profissão a opção pela prática da escultura implica também, numa significativa parcela, o estudo dos problemas relacionados com a feitura de peças de exterior de grandes dimensões e com os factores inerentes à sua implantação em espaços públicos, pelo que a sua aprendizagem deverá ser, caso se justifique, uma condição importante a eleger na programação de um ano terminal do curso de escultura.
Obtenção de frequência
No final do ano a avaliação, não só resulta da apreciação que os professores farão ao trabalho realizado e apresentado, exposto, mas também da frequência e da dedicação ao trabalho durante o ano e do resultado das conclusões que retirem das conversas e discussões feitas durante o ano lectivo.