Resumo (PT):
A prática urbana encontra-se hoje inexoravelmente presa, num círculo vicioso, a
uma meta-narrativa que ignora muitas das tendências ou significados subjacentes
à modernidade e subentendidos pela mesma. A seguinte dissertação explora a
relação essencial entre correntes ou modelos ditos culturalistas e progressistas,
paradigmáticos da concepção urbana actual, cruzando referências provenientes
de diversos campos exteriores à arquitectura. Tal exercício tem como objectivo
a desmistificação de certos corolários em que as duas posturas aparentemente
antagónicas se baseiam. Estes modelos são, deste modo, interpretados como
processos de interpolação e de extrapolação na realidade contemporânea.
Enquanto que uns projectam os novos cenários do futuro como fragmentos do
passado, os outros generalizam as presentes condições urbanas projectando-as para
o futuro. Numa primeira instância, é analisada a progressão do urbanismo como
disciplina, com especial atenção à sua vertente materializante e paralelamente à
observação crítica da paisagem urbana contemporânea. Em seguida é exposta
uma série de oposições que se organiza em três categorias: teoria urbana, ficção
e materialização. As duas últimas são ilustradas por quatro casos de estudo:
dois filmes – The Truman Show e Blade Runner – e dois projectos concretos
– Jakriborg e Ørestad. O objectivo é o de uma definição progressivamente
maior do objecto em estudo. Finalmente, faz-se uma deambulação pela teoria
implícita aos discursos e à presente prática urbana, com base numa extensa
recolha bibliográfica com forte ênfase nas humanidades. Essencialmente, este
trabalho põe em causa as noções estabelecidas de rejeição e de fim eminente
relativamente às cidades e aos seus espaços. Isto, com o propósito de encontrar
as verdadeiras condicionantes da vulgarizada percepção urbana negativista e das
suas profundas raízes modernas. Espera-se que as desmistificações ambicionadas
por esta dissertação permitam o reposicionamento da tónica naquilo que
representa um dos maiores desafios do século XXI – a redefinição de um
paradigma espácio-temporal que há muito se mostra desadequado.
Abstract (EN):
The urban practice today is mercilessly trapped in a vicious circle, a meta-narrative
that ignores many of modernity’s undertones. The following paper explores
the essential relationship between the so-called “culturalist” and “progressive”
models, paradigmatic of today’s urban design, by cross-referencing from several
fields exterior to architecture. Such exercise aims at exposing certain corollaries
in which two seemingly conflicting positions are based upon. These models
are thus taken as interpolation and extrapolation processes that manipulate
contemporary reality. While some practitioners design the new future scenarios
as fragments of the past, others oversimplify the urban conditions of the present
time as projections to the future. First the progress of urbanism as a discipline,
with special attention to its compositional aspect, is subjected to an analysis in
conjunction with an observation of contemporary urban landscape or territory.
Following this analyses a set of opposed elements are explored within three
categories: general urban theory, fiction and materialization. These oppositions
are illustrated by four case studies: two films - The Truman Show and Blade
Runner - and two specific projects – Jakriborg and Ørestad. The aim here is to
clearly and progressively define the object being studied. Finally, the discussion
dwells in the implicit theory in urban discourse today by walking to the speeches
and the present urban practice, based on an extensive literature collection with
a strong emphasis on the humanities. This paper essentially challenges notions
of an imminent end and rejection in relation to cities and their spaces in order
to find the real conditions of this widespread negativity in urban perception
and its deep modern root. The aspired debunking is expected to allow the
repositioning of emphasis on what represents one of the biggest challenges of
the 21st century - the redefinition of a space-time paradigm which has now
shown its inadequacy for long enough.
Language:
Portuguese