Resumo (PT):
O território de São Tomé e Príncipe, profundamente marcado por uma colonização que incidiu na exploração agrícola extensiva, herdou as estruturas e mecanismos desenhados para esse propósito de optimização da produção: as empresas agrícolas - roças - constituíram não só laboratórios de experimentação de culturas e depuração de soluções técnicas, como também a base de estruturação da paisagem física e humana. Estas estruturas testemunham assim os progressivos passos da luta de manipulação do território, da experimentação e da procura da vanguarda tecnológica para superação de desafios entrepostos à acção humana.
Na actualidade, as Roças constituem a materialização de uma extensa memória, que abarca não só o projecto colonizador, mas principalmente todos os meios e relações mobilizados na sua concretização e na sua subsequente apropriação e readaptação: o contributo dos trabalhadores, a busca de estratégias de optimização para os problemas encontrados, as opções de configuração e desenho do espaço, ou os mecanismos da sua transformação no contexto de autonomia pós-colonial, configuram um extenso património físico e humano.
A independência e as estratégias políticas que marcaram os diferentes períodos da governação da nova Nação, introduziram alterações radicais na estrutura socioeconómica São-tomense, assim como na sua estrutura fundiária e no regime de propriedade. Da nacionalização das propriedades agrícolas operada no seguimento da sua independência, até à reforma agrária doze anos mais tarde que propõe a distribuição de terras pelos trabalhadores das extintas empresas (PNUD, 2008: 54), produzem-se mutações não só no uso do solo, mas também na forma como o espaço e as estruturas arquitectónicas são vividos. De complexos desenhados para a optimização da produção agrícola, as Roças passaram a aldeias improvisadas. Com a transição de empresas agrícolas com gestão centralizada e mão-de-obra extensiva, para as parcelas de exploração autónoma, alteram-se as relações sociais, as rotinas laborais e as necessidades habitacionais, de que são reflexo as adaptações e apropriações operadas no edificado. E essas alterações, processando-se num contexto de dificuldades económicas e escassez de recursos, têm assumido contornos de precariedade. Actualmente, quase oitenta porcento das habitações localizadas em meio rural, das quais grande parte se situa em contexto de roça, são consideradas “básicas”, ou seja, sem as condições mínimas de habitabilidade (INE, 2003: 10). A provisão e o acesso a infra-estruturas básicas ou a equipamentos de apoio são também frágeis, estando grande parte das estruturas herdadas em avançado estado de degradação.
De forma a identificar constrangimentos e capacidades, o trabalho de investigação em curso incide na análise das mutações sofridas pelas roças e dos mecanismos de apropriação dos edifícios herdados, no levantamento das características e estado de conservação do património arquitectónico, e ainda na sua interacção com relações sociais.
Assim, a presente comunicação tem como intuito apresentar parte dessa pesquisa, analisando a herança colonial, as mutações pós-independência e o seu impacto na actual conformação do território e do património arquitectónico, identificar necessidades contemporâneas e mecanismos para a sua colmatação e, por fim, lançar a discussão em torno desses desafios e potenciais para o desenvolvimento.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
Contact:
alfernandes@arq.up.pt
Notes:
http://coloquiostp.wordpress.com/abstracts/2patrimonio-e-organizacao-do-espaco/313-2/
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