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Memória U.Porto

Antecedentes da Universidade do Porto

Domingos Sequeira (1768-1837)

Retrato de Domingos Sequeira / Portrait of Domingos SequeiraDomingos António do Espírito Santo, segundo filho do algarvio António do Espírito Santo e de Rosa Maria Lima, natural de Lisboa, nasceu em Belém, a 10 de Março de 1768.

Foi baptizado na igreja paroquial da Ajuda, recebendo como padrinho o seu tio Domingos de Sequeira Chaves, tendeiro de profissão, de quem tomou o apelido que usou no seu percurso artístico.

Em Lisboa frequentou a Aula Pública de Desenho, regida por Joaquim Manuel da Rocha e sediada no convento dos Caetanos (actual Conservatório Nacional), onde se manteve como aluno ordinário até 1781.

Em 1784 alcançou o 1.º prémio com o desenho "Pirro e Glaucias". Dois anos depois terminou o curso e recebeu novo prémio com "Ismael expulsando Agar".

Aos 18 anos ingressou na Oficina de Francisco de Setúbal e, em 1788, partiu para Roma com uma pensão régia, obtida com a intervenção do Marquês de Marialva.

Em Roma, visitou pinacotecas, pintou retratos e copiou obras-primas. Foi protegido pelo encarregado de negócios da embaixada portuguesa, José Pereira Santiago, e pelos embaixadores D. João de Mello e Castro (1756-1814) e D. Alexandre de Sousa Holstein (1751-1803). Passou pela Academia Portuguesa das Artes e estudou com os professores António Cavallucci (1752-1795) e Domenico Corvi (1721-1803).

Auto-retrato de Domenico Corvi, 1803 (Uffizi, Florença) / Self-Portrait of Domenico Corvi, 1803 (Uffizi, Florence)No início do ano de 1789 obteve o 2.º prémio no concurso da Scuola del Nudo em Campidoglio e, logo a seguir, o 2.º prémio na classe de pintura do concurso Clementino, promovido pela Accademia di San Luca.

Nas cartas que trocou com João Pinto da Silva, guarda-jóias da rainha e seu interlocutor na corte portuguesa, queixou-se da sua pensão, que considerou diminuta. Em resposta a este desabafo foi-lhe sugerido que oferecesse obras à rainha. Aproveitou o conselho e enviou à monarca uma cópia de "Santa Maria Madalena", de Guido Reni e ofereceu a Pinto da Silva um "S. Sebastião".

Para a corte produziu outros quadros como "Moeda de César" e "Milagre de Ourique" quando se candidatou ao lugar de pintor régio. Para Pina Manique (1733-1805) realizou "Alegoria à Fundação da Casa Pia".

Em 1793 foi nomeado membro da academia romana de S. Lucas, com o grau de professor. A apresentação da "Degolação de S. João Baptista" deu-lhe vantagem sobre o seu adversário Vieira Portuense, que também se encontrava em Itália.

Entretanto, pensou deixar Roma para se juntar a Melo e Castro que fora nomeado embaixador de Londres, mas foi contrariado no seu intento pelo financiador Pinto da Silva. Numa outra missiva solicitou apoio para regressar a Portugal, voltando a lamentar-se da pensão que auferia e considerava ser inferior à dos alunos enviados para Roma por Pina Manique, assim como à de Vieira Portuense. O guarda-jóias da rainha insistiu para que se mantivesse em Roma, advertindo-o de que em Portugal não havia mercado para a sua arte, mas o artista só recebeu esta carta quando já se encontrava em viagem. No regresso, foi bem recebido nas cidades italianas por onde passou: Bolonha, Parma, Florença, Milão e Veneza.

Em Lisboa, em 1795, instalou-se em Belém e continuou a pintar. Por esses quadros cobrava preços elevados, o que o levou a procurar apoio em colegas de profissão como Cirilo Volkmar Machado e Pedro Alexandrino para, em conjunto, inflacionarem o valor monetário da pintura em Portugal.

Nesta fase da vida frequentava o Palácio de Arroios, de D. Rodrigo de Sousa Coutinho (Conde de Linhares), para o qual produziu obras e onde deu lições à condessa. Em simultâneo, executava encomendas, como o pano de boca do Teatro S. João, no Porto, no qual representou a "Volta de Vasco da Gama da Índia".

Fotografia da Cartuxa de Laveiras, em Caxias / Photo of Cartuxa de Laveiras, CaxiasO sucesso de que gozava não o impediu de cair num profundo estado de melancolia, supostamente atribuído à dimensão reduzida do mercado artístico nacional e a um desgosto amoroso que envolveu uma familiar da abastada família dos Cometti com quem se tinha relacionado em Roma. Este estado de espírito levou-o a uma clausura temporária na Cartuxa de Laveiras, em Caxias. Aqui, pintou obras dedicadas a S. Bruno de Colónia, fundador da Ordem dos Cartuxos, com fortes influências de Domenichino e Guido Reni.

Em 1802, depois de deixar a vida religiosa, foi nomeado "Primeiro Pintor de Câmara e Corte" juntamente com Vieira Portuense, passando a auferir um ordenado anual de 2 contos de réis, com direito a sege oficial. Os dois artistas ficaram encarregados de dirigir os trabalhos de pintura do Palácio da Ajuda e de proporem pintores para aquela obra e para o ensino numa escola instituída junto do palácio.

Nesse ano, Domingos Sequeira pintou um retrato do príncipe regente tendo o Palácio da Ajuda como pano de fundo e, meses depois, foi nomeado mestre de Desenho e Pintura da Princesa da Beira, da mãe desta (D. Carlota Joaquina) e das tias (D. Maria Francisca Benedita e D. Maria Ana).

Para o príncipe regente fez, também, um retrato equestre e para o novo palácio realizou os tectos, ocultados por obras posteriores, e várias telas. Entre elas, diversas passagens da vida de D. Afonso Henriques, as quais foram levadas para o Brasil e hoje se encontram desaparecidas.

Domingos Sequeira trabalhou igualmente no Palácio/Convento de Mafra, tendo feito esboços para composições parietais e telas, como "Duarte Pacheco combatendo o Samorim", para a Sala das Descobertas.

Após a morte de Vieira Portuense, em 1805, assumiu a direcção da Aula de Desenho e Pintura da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, entre 1806 e 1821.

Em 1808, regressou a Lisboa e aqui estabeleceu relações com o Conde de Forbin, oficial do Estado-Maior e pintor amador e com outros oficiais franceses, chegando a pintar a tela inacabada "Junot protegendo a cidade de Lisboa", a qual não agradou ao seu encomendador, que pretendia a representação de Lisboa como uma cidade confiante.

Em Dezembro, foi preso à saída de um jantar na casa do Marquês de Marialva, sob a falsa acusação de, num café, ter falado indecorosamente acerca do príncipe regente. Depois deste episódio ficou encarcerado no Limoeiro. O processo que lhe moveram acusou-o de colaboracionismo com os franceses e, especificamente, de ter convertido a sala de dossel do Palácio da Ajuda em ateliê, de nela ter colocado um cavalo para retratar o major Constant e de ter pintado uma alegoria a Junot.
Depois de libertado, em Setembro de 1809, manteve o cargo de pintor de Câmara e Corte, mas nunca mais voltou a trabalhar para o Palácio da Ajuda.

Durante os anos seguintes esforçou-se por exaltar Portugal e a sua coroa. Pintou telas como "Alegoria às Virtudes do Príncipe Regente", uma obra neoclássica destinada ao regente e encomendada pelo Barão de Sobral, "Génio da Nação Portuguesa" e "Lisboa, protegendo os seus habitantes", financiadas pelo Barão de Quintela. Trabalhou também na concepção artística, iconografia e direcção da baixela em prata oferecida a Wellington, como agradecimento pela expulsão dos franceses.

Em 1809 casou com Mariana Benedita Vitória Verde e, a partir de então, passou a juntar retratos de família aos seus muitos auto-retratos. Fez-se pintar com a mulher e com o irmão desta, o seu amigo João Baptista Verde, fez um ex-voto representando o difícil parto do seu primogénito e pintou os filhos.

Ficou viúvo quando nasceu o seu filho Domingos, que acabaria por morrer prematuramente em 1817.

Na obra "Retrato do conde de Farrobo" (Joaquim Pedro de Quintela, futuro barão e depois conde de Farrobo) e no retrato da sua filha anunciou a viragem para uma nova estética romântica.

Quadro Revolução de 1820 / Painting Revolução de 1820Depois da Revolução de 1820, a imprensa informou que Domingos Sequeira se encontrava a pintar "Alegoria à Constituição" e "Portugal à beira do Abismo". Em 1821, o pintor escreveu ao congresso oferecendo-se para representar os grandes feitos da época em dois quadros (a tal "Alegoria à Constituição" e uma representação do congresso), apresentou projectos para monumentos à Constituição, desenhou as primeiras notas do Banco de Portugal, de que foi accionista, figurinos dos ministros de Estado e diplomatas, medalhas comemorativas e foi autor do projecto do túmulo de Fernandes Tomás. Colaborou também na decoração da Sala das Cortes, para onde pintou um retrato do rei.

Em Janeiro de 1823, as cortes debaterem os ordenados dos "Pintores de Câmara" inscritos na verba do Palácio da Ajuda e a organização do Ensino das Belas Artes. O nome de Domingos Sequeira surgiu em vários discursos que evidenciaram tanto o seu mérito como a pouca dedicação ao ensino. Na sequência do debate foi nomeado sócio-fundador e presidente perpétuo do Ateneu das Belas-Artes e, mais tarde, professor de Pintura de História no Liceu das Belas-Artes.

Depois da Vilafrancada de 1823, os cursos de Belas-Artes criados no mês anterior foram encerrados, não se concretizou o monumento dedicado à Constituição a erguer no Rossio e ficou comprometida a finalização das telas para o congresso.

Temendo o seu futuro, Domingos Sequeira obteve um passaporte por intermédio do futuro duque de Palmela, então Ministro dos Negócios Estrangeiros, que lhe conseguiu garantir o vencimento de pintor régio (depois cancelado em 1831) e em Setembro embarcou com a filha para Plymouth, acompanhando o movimento de exilados liberais, em vésperas da guerra civil.

Ao chegar a Paris era aguardado pelo Marquês de Marialva, reempossado embaixador, que faleceu passado um mês e meio. O artista dedicou-lhe um retrato alegórico litografado, que foi a primeira de muitas litografias.

A morte de Camões - esboço / The death of Camões - SketchProcurou então a protecção de um velho conhecido, o conde de Forbin, na altura director dos museus franceses, que o acolheu bem e o apresentou a François Gerard, pintor que em 1871 ilustrara a edição d’"Os Lusíadas", do Morgado de Mateus. Por seu intermédio contactou com novas correntes artísticas e participou no "Salon" de 1824 onde expôs "Fuga para o Egipto" e "A morte de Camões", tela inaugural da pintura romântica portuguesa, já desaparecida e apenas conhecida através de esboços. Ainda em Paris, fez retratos do embaixador do Brasil, Barão de Pedra Branca, com a mulher e a filha, de Adrião Ribeiro das Neves e de D. João VI.

Com cerca de 60 anos radicou-se em Roma para fugir à inconstância do clima francês e à falta de saúde, ao mesmo tempo que procurava um meio artístico mais familiar. Foi bem acolhido pelo embaixador de Portugal, o Conde do Funchal, irmão de D. Rodrigo de Sousa Coutinho. E conseguiu ser nomeado decano e conselheiro da Academia de S. Lucas. Recebeu encomendas de pintura sacra para religiosos e aristocratas e deu início a quatro telas sobre a vida de Cristo e temas dos Evangelhos, que renovaram e coroaram a sua obra: "Descida da Cruz" (1827), "Adoração dos Magos" (1828), "Ascensão" (1828-1830) e "Juízo Final" (1828-1830).

Em 1833 foi acometido por ataques apoplécticos. Deixou, então, de pintar, vivendo mais quatro anos, embora privado das faculdades mentais. Não teve, assim, percepção das distinções atribuídas pelo governo setembrista, que o nomeou comendador da Ordem de Cristo e director honorário da Academia de Belas Artes.

Domingos Sequeira faleceu em Roma aos 69 anos de idade, sendo sepultado na Igreja de Santo António dos Portugueses.

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