António Luís Ferreira Girão 1823-1876 Lente da Academia Politécnica do Porto e do Instituto Industrial do Porto, fidalgo da Casa Real, militar e político |
António Luís Ferreira Carneiro de Vasconcelos Teixeira Girão nasceu na casa do Carregal, no Porto, a 13 de junho de 1823. Seu pai era António Ferreira Carneiro de Vasconcelos, 16.º Senhor da Honra do Paço de Avioso, Senhor de Ferreira, Morgado do Carregal e Taipas, coronel das milícias da Vila da Feira, fidalgo miguelista que participou na Vila-Francada (1832). Sua mãe era D. Maria Aurélia Ferreira Teixeira Lobo de Barbosa Girão, irmã de António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão (1785-1863), apoiante do liberalismo e 1.º visconde de Vilarinho de S. Romão. António Luís teve como irmão Álvaro Ferreira Carneiro de Vasconcelos Girão (1822-1879), 2.º visconde de Vilarinho de S. Romão.
Em 1832, depois da morte do pai, a mãe instalou-se com os filhos na quinta duriense do Boialvo, onde veio a falecer em 1835 ou 1836.
Em 1834, após a guerra civil, o tio materno, tornado então par do reino, prefeito da Estremadura e visconde de Vilarinho de S. Romão, patrocinou a educação dos sobrinhos, em Lisboa.
António Luís Girão estudou no Colégio dos Nobres e depois em Coimbra, entre 1840 e 1843, de onde saiu para assentar praça no Regimento de Infantaria n.º 6, sedeado no Quartel da Torre da Marca, no Porto, a 26 de julho de 1843. Nesse ano foi promovido a cabo e a furriel e, no ano seguinte, a segundo-sargento, primeiro-sargento e sargento-ajudante. Em 1846, quando rebentou a revolta da Maria da Fonte, ocupava o posto de sargento de brigada. A Junta do Porto, à qual aderira o seu regimento, promoveu-o a alferes. Com a derrota das forças setembristas do conde do Bonfim na batalha de Torres Vedras, a cuja divisão pertencia, foi aprisionado no Forte de S. Julião da Barra e embarcado de seguida na fragata "Diana", que serviu de prisão a muitos oficiais derrotados nesse confronto.
Depois de amnistiado, em 1847, teve baixa do serviço militar, ocupando o posto de alferes reformado, adido ao 2.º Batalhão de Veteranos. Em 1848 ingressou nas faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra, onde se formou em 1852 e 1855, respetivamente.
Após a conclusão dos estudos foi viver com o irmão, no Porto. Foi então que, por nomeação da Sociedade Agrícola deste distrito, integrou a comissão promotora da I Exposição Agrícola do Porto, certame realizado em 1857 no campo da Torre da Marca, e no qual fez parte do conselho e do júri da 3.ª e 5.ª divisões. Mais tarde, foi vogal da Exposição Internacional do Porto, de 1865.
Em novembro de 1856 foi candidato às eleições pelo círculo de Sabrosa (Vila Real), tendo sido eleito por maioria absoluta para a legislatura de 1857-1858. Depois desta experiência não voltou a candidatar-se, embora não tenha deixado de se interessar pela política. Foi frequentador assíduo do café "Águia d'Ouro" ("Café Piolho", nos dias de hoje), onde nasceu o clube político "Patriota", que também se reunia na casa do Carregal e que engendrou o movimento revolucionário da "Janeirinha" (1868).
Camilo Castelo Branco, seu amigo pessoal, foi de opinião que o tédio da política e a vontade de recuperar o tempo perdido é que levaram António Girão a enveredar por uma carreira académica, na área das Ciências Naturais, encetada em 1859. Foi neste ano que concorreu, com sucesso, ao lugar de professor substituto da Secção de Filosofia da Academia Politécnica do Porto. Provido neste lugar por decreto de 22 de novembro de 1859 e carta régia de 24 de janeiro de 1860, assumiu funções como Lente Proprietário da 9.ª cadeira - Química Inorgânica e Orgânica –, em 1872 (decreto de 2 de maio e carta régia de 18 de julho desse ano), sucedendo a Joaquim de Santa Clara de Sousa Pinto.
Nesta Academia também ficou associado ao regulamento do curso de preparatório para a Escola do Exército e à melhoria do Laboratório de Química.
António Girão foi também professor do Instituto Industrial do Porto. Aqui lecionou a 7.ª cadeira – Arte de Minas, Docimasia e Metalurgia - e organizou o Gabinete de Mineralogia e de Geologia onde fez investigação e sobre o qual escreveu uma memória histórica destinada à Exposição Universal de Viena de Áustria (1873), intitulada "L' Institut Industriel de Porto: histoire, organisation, enseignement" e que foi reeditada em 1878.
António Ferreira Girão, possuidor de uma vasta biblioteca, foi autor de obras científicas e literárias. Escreveu a biografia de seu tio, o 1.º visconde de Vilarinho de S. Romão, artigos para o "Jornal da Sociedade Agrícola do Porto" e para o "Ecco Popular", folhetins e opúsculos humorísticos sob o pseudónimo de "João Gorilha", para além de poemas publicados no "Cancioneiro Alegre", sob o título "Viva o Progresso".
Foi membro do Instituto de Coimbra, sócio da Academia Real das Ciências (desde 1857) e cavaleiro da Casa Real. Com fama de bondoso, passava férias em Trás-os-Montes. Camilo dizia que era "o rapaz mais engraçado do seu tempo".
Morreu solteiro em Vila Nova de Famalicão, a 2 de agosto de 1876, junto do amigo José Augusto Vieira e do irmão, que postumamente publicou o livro "A theoria dos atomos e os limites da sciencia" (1879), com prefácio do conde de Samodães.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012)