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Memória U.Porto

Salão Nobre da Universidade do Porto - Galeria de Retratos


Vitorino Damásio
Combatente liberal, professor, fundador da AIP e pioneiro da telegrafia elétrica

Retrato da autoria de João Marques de Oliveira
Retrato de José Vitorino Damásio, pintado por João Marques de Oliveira / Portrait of José Vitorino Damásio, painted by João Marques de Oliveira

Biografia de Vitorino Damásio (1807-1875)

José Vitorino Damásio, filho de José António Damásio e de D. Maria Madalena Damásio, nasceu na Vila da Feira a 2 de novembro de 1807.

Passou a infância entre Aveiro e Coimbra e foi nesta cidade que se matriculou nas faculdades de Matemática e Filosofia, no ano letivo de 1826-1827.
No segundo ano letivo, em 1828, interrompeu os estudos para se juntar ao movimento liberal no Porto, tendo integrado o Corpo de Voluntários Académicos como cabo da 2.ª companhia, a 20 de maio.

O insucesso político da Junta do Porto conduziu-o ao exílio como a muitos outros, primeiro na Galiza, depois em Plymouth e, por fim, nos Açores, onde, pelo decreto da regência da Ilha Terceira, de 10 de novembro de 1831, foi nomeado segundo tenente do primeiro Batalhão de Artilharia.
No ano seguinte regressou ao continente com as tropas liberais de D. Pedro, que desembarcaram nas praias de Pampelido. Como oficial combateu no Cerco do Porto (1832-1833). As qualidades que demonstrou durante a guerra valeram-lhe, entre outras distinções, o elogio do Marechal Saldanha e o posto de 1.º tenente.

Depois da pacificação política, Vitorino Damásio voltou à Universidade de Coimbra onde se tornou bacharel em 1837. Neste ano, na Academia Politécnica do Porto, foi nomeado lente da 3.ª cadeira – Geometria Descritiva, Mecânica Racional, Cinemática das Máquinas, que lecionou até 1869. Tomou posse no ano seguinte.
Nesta Academia lecionou, também, de forma graciosa, a 6.ª cadeira – Artilharia e Tática naval e construções públicas a partir de 1840 e substituiu temporariamente os colegas António Luís Soares (lente da 1.ª cadeira – Geometria analítica no plano e no espaço; Trigonometria esférica, Álgebra Superior), quando este se ausentou para o estrangeiro, e Diogo Kopke (lente da 5.ª cadeira – Astronomia e Geodesia), quando ficou gravemente doente.

José Vitorino Damásio acompanhou a edificação da Ponte Pênsil do Porto (concluída em 1842) e chegou a colaborar com o seu autor, Stanislas Bigot, nos cálculos de resistência e equilíbrio.
Logo de seguida colaborou com a Companhia das Obras Públicas, ficando associado à construção da estrada do Alto da Bandeira aos Carvalhos, em Vila Nova de Gaia. Nos trabalhos que então realizou aplicou o sistema de cilindragem de Polonceau e criou o primeiro cilindro de ferro coado em Portugal. Em 1845 foi-lhe confiada a missão de estudar os sistemas telegráficos em França e Inglaterra e de adquirir instrumentos para serem aplicados na futura rede telegráfica nacional.

Em 1846 voltou ao combate político, no âmbito da Junta do Porto. Seguidamente foi nomeado chefe do Estado-Maior General, sendo-lhe confiada a direção dos trabalhos militares do Cerco de Viana, bem como o comando das operações do Alto Minho como general de brigada.

Por essa altura, cofundou o jornal “O Industrial Portuense”, periódico publicado entre 1845 e 1846 e que esteve na origem da publicação da Associação Industrial Portuense (atualmente Associação Empresarial de Portugal, instituição que fundou em 1849, a que presidiu entre 1855 e 1856 e onde instituiu a Escola Industrial do Porto, em 1852.

Em 1847, José Vitorino Damásio deixou a vida militar para se dedicar à docência e à investigação. No ano seguinte, fundou a Fábrica de Fundição do Bolhão, juntamente com Joaquim Ribeiro de Faria Guimarães (1807-1879) e Joaquim António da Silva Guimarães. Nesta empresa, onde assumiu a direção técnica, introduziu o fabrico de louça de ferro fundido, esmaltada e estanhada a banho, coordenou a construção da primeira draga de Portugal, com "ferragem obrada à forja", a maquinaria da pioneira fábrica de cordoaria mecânica do Porto e introduziu a primeira máquina a vapor nesta cidade, na Fundição da Rua do Rosário.

Nos primeiros tempos da Regeneração manteve-se como docente na Academia Politécnica do Porto, ao mesmo tempo que colaborava com a indústria portuense. Porém, pouco depois regressou à vida política, ao lado do duque de Saldanha, que louvou o seu desempenho pelo decreto de 29 de abril de 1851.

Durante esse ano, e por motivos de saúde, passou uma temporada na ilha da Madeira, onde levou a cabo uma comissão científica, de nomeação governamental. Ao regressar ao continente, em 1852, ficando muito impressionado com o naufrágio do Vapor Porto ocorrido na barra do Douro a 29 de março, sentiu-se compelido a estudar uma forma de, a partir de terra, lançar um cabo de salvação a um navio em risco. Assim nasceram os Socorros a náufragos na barra do Douro, tendo sido Vitorino Damásio o seu primeiro comandante. Dessas experiências terá resultado a descoberta de que o ferro fibroso se transforma em granular por efeito de uma explosão instantânea.

Ainda em 1852, Vitorino Damásio foi nomeado membro do Conselho Geral das Obras Públicas e Minas, onde trabalhou 23 anos, de 1853 até 1876, como membro desse Conselho e mais tarde como vogal da Junta Consultiva.

Em 1853, Vitorino Damásio associou-se às primeiras experiências da telegrafia elétrica em Portugal, as quais decorreram no Porto e resultaram na substituição do telégrafo semafórico usado até à Foz do Douro por este sistema elétrico. A Associação Industrial Portuense montou, então, um primeiro circuito entre a sua sede e o Palácio da Bolsa. O sucesso inicial parecia promissor, mas, rapidamente, o alegado amadorismo dos aparelhos utilizados trouxe algumas dificuldades. Na realidade, a linha só começou a funcionar três anos mais tarde.

Em 1854, Vitorino Damásio foi incumbido pelo Conselho das Obras Públicas de (re)estudar as companhias de telegrafia francesas e inglesas. Após esta nova estadia no estrangeiro (estivera em França e em Inglaterra em 1845), foi nomeado primeiro responsável pela Direção Geral dos Telégrafos do Reino, criada em 1864. Em 1865 representou Portugal na Conferência Telegráfica Internacional de Paris, onde foi assinada a convenção que fundou a União Telegráfica Internacional e, em 1866, concluiu a rede telegráfica entre o Porto e Barca d’ Alva.

Vitorino Damásio também foi lente e reitor do Instituto Industrial de Lisboa entre 1853 e 1859) e Diretor-geral da Companhia das Águas, fundada em 1868.

Na Associação dos Engenheiros Civis Portugueses (atual Ordem dos Engenheiros), assumiu os cargos de vogal da comissão responsável pela redação do projeto de estatutos e de presidente da direção por duas vezes e publicou diversos artigos, nomeadamente sobre o cálculo da resistência das pontes metálicas e os caminhos-de-ferro económicos, na "Revista das Obras Públicas e Minas", da mesma Associação.

Ao longo da sua multifacetada carreira, Vitorino Damásio desempenhou muitos outros cargos públicos. Foi vogal de uma comissão destinada a examinar o estado da indústria do Porto (1851), da Comissão Central de Máquinas a Vapor, foi membro da Comissão Central de Pesos e Medidas (1853), vogal da Comissão de Estudo das diferentes Artes e Ofícios na Exposição de Paris (1855), presidente da comissão incumbida de formular os regulamentos relativos à reforma da Instrução Pública (1857), vogal do conselho de aperfeiçoamento da Escola Politécnica, presidente da Comissão de Administração do Caminho-de-Ferro de Leste (1858), membro do Conselho de Minas (1859), inspetor das Obras Públicas, vogal da comissão encarregada de examinar o material circulante da linha férrea de Leste (1861), vogal da comissão designada para apresentar um projeto de reforma para o Arsenal do Exército (1863), vogal da Comissão encarregada de propor a classificação e graduação do pessoal técnico do Ministério das Obras Públicas, engenheiro-chefe de 1.ª classe do Corpo de Engenharia Civil (1864), vogal da comissão encarregada de reorganizar os serviços dos faróis (1865), presidente da comissão de classificação dos condutores de Obras Públicas e presidente da avaliação do Caminho-de-Ferro do sueste.

Para além de ser oficial da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, Vitorino Damásio foi distinguido com o grau de comendador da Ordem de Avis em 1859 e, em 1865, foi-lhe atribuída a carta do Conselho de Sua Majestade, distinção inerente ao cargo de diretor geral dos Telégrafos.

No final da vida publicou um livro de memórias. Faleceu em Lisboa a 19 de outubro de 1875, deixando viúva D. Maria Teresa Ripamonte Damásio.

Após a sua morte, a Associação dos Engenheiros Civis Portugueses dedicou-lhe uma sessão solene, durante a qual foi inaugurado o seu retrato numa das salas da Associação. O sócio Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado leu o "Elogio Histórico de José Victorino Damásio lente da Academia Polytechnica do Porto.".

Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012. Revisão científica de Jorge Fernandes Alves (FLUP)

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