Arménio Losa 1908-1988 Arquiteto e urbanista |
Arménio Taveira Losa nasceu em Braga, a 28 de Outubro de 1908. Era filho de José Gonçalves Losa, republicano e oficial do exército, afastado na sequência do 28 de Maio de 1926, e de Maria Rosa Taveira Losa.
Em 1925 matriculou-se no primeiro ano do curso preparatório para vir a frequentar Pintura na Escola de Belas Artes do Porto. Depois de obtida a aprovação nos três anos deste curso, inscreveu-se no Curso Especial de Arquitetura, em 1928, que finalizou em 1931. De seguida, ingressou no Curso Superior, cujas provas escolares concluiu em 1933 com a defesa do "Projecto de construção geral".
Em 1935 foi aprovado com 17 valores nas provas de concurso ao Diploma de Arquitecto. No mesmo ano casou com Ilse Lieblich, uma alemã de origem judaica exilada no Porto, que se dedicou à escrita em Português (autora de uma vasta obra, nomeadamente juvenil, e colaboradora na imprensa) e à tradução (de e para alemão) e que ficou conhecida pelo nome de Ilse Losa.
No ano seguinte, Arménio Losa requereu o Diploma de Arquiteto que apenas lhe foi concedido em 1941.
Durante a sua formação académica, foi aluno do mestre Marques da Silva, com quem trabalhou, ainda estudante, e conheceu Cassiano Barbosa (1911-1998), o colega com quem discutia arte moderna e veio a construir uma profícua e duradoura relação profissional.
No início da sua prática profissional colaborou com José Coelho Freitas e Aucíndio dos Santos.
Em 1939 integrou o Gabinete de Estudo do Plano Geral de Urbanização da Câmara Municipal do Porto e iniciou uma parceria laboral com o arquiteto Cassiano Barbosa, mantida, com algumas interrupções, até aos anos 60. No seu escritório de arquitetura, juntos projetaram obras marcantes na cidade do Porto e nos seus arredores, destinadas unicamente a clientes privados (CUFP, José Soares, Ângelo Vieira Pinto, António Neves e Paulo Vallada), uma vez que a sua conotação com a oposição ao regime os afastou das obras públicas. Ambos ensinaram muitos estudantes da ESBAP e estagiários de arquitetura, como Adalberto Dias, Alcino Soutinho, António Serafim Machado, António Cândido Abreu e Lima, Rogério Barroca, Rogério Ramos, Renato Sampaio, Raul José Hestnes Ferreira, Augusto Amaral, Vasco Cunhas, Vasco Mendes.
Em 1945, por proposta de Carlos João Chambers Ramos (1897-1969), professor de arquitetura na ESBAP, foi convidado a integrar o corpo docente desta Escola, a fim de lecionar a cadeira de Urbanismo do Curso de Arquitetura. Porém, e apesar de ter tomado posse do lugar, a sua integração foi inviabilizada por informação negativa da polícia política.
Losa, admirador confessor do influente arquiteto e urbanista Le Corbusier (1887-1965), procurou sempre acompanhar as evoluções internacionais do Movimento Moderno. Em 1947 integrou o grupo de arquitetos que fundaram no Porto a ODAM (Organização dos Arquitetos Modernos), uma organização profissional que juntou arquitetos progressistas do norte do país e difundiu as teses dos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna). Em 1948 participou no I Congresso dos Arquitetos Portugueses. Em 1953 visitou Aix-en-Provence e, de volta a Portugal, participou no III Congresso da UIA (União Internacional de Arquitetos), realizado no Porto, no qual apresentou uma comunicação sobre o habitat, o alojamento, e o urbanismo.
O Urbanismo foi outra das suas áreas de interesse. Neste âmbito, foi responsável pelo referido primeiro gabinete de urbanização da Câmara Municipal do Porto (1939-1945), elaborou vários estudos, Anteplanos e planos, entre os quais se destacam os estudos para a zona da Sé do Porto, em 1940; os Anteplanos de Urbanização para Vila Nova de Gaia, entre 1944 e 1949, com Bonfim Barreiros; os estudos para Macedo de Cavaleiros, entre 1945 e 1951, bem como diversos estudos para Carrazeda de Ansiães, Famalicão, Guimarães e Viana do Castelo. De salientar a sua ligação a Matosinhos, município para o qual, nos anos sessenta e setenta, realizou, entre outros, o Plano Regulador do Concelho (1964-1965) e os estudos dos Planos de Pormenor para Gondivai (1976-1977).
Em 1985 retirou-se da atividade profissional e, passados três anos, veio a falecer no Porto.
Arménio Losa, autor e co-autor de mais de uma centena de títulos de projetos, foi um homem simples e modesto, dotado de fortes convicções políticas e profissionais, que nos deixou uma vasta obra arquitetónica de cariz predominantemente modernista, pioneira no campo do Urbanismo. Legou-nos, ainda, o exemplo de um combatente antifascista.
Desde 1992 que grande parte do seu arquivo profissional se encontra em depósito no Centro de Documentação da FAUP. Este arquivo tem sido constantemente enriquecido com a incorporação de documentos relativos às atividades arquitetónica e urbanística de um dos maiores arquitetos portugueses do século XX.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2010)