Basílio Teles 1856-1923 Político, escritor e filósofo |
Basílio Teles nasceu no Porto, na freguesia de Massarelos, a 14 de Fevereiro de 1856.
Após a conclusão dos estudos preparatórios, ingressou na Academia Politécnica e, em 1875, na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, instituição que abandonou devido a eventuais conflitos com o mestre Antunes Lemos e com o mestre Vicente Urbino de Freitas, este último protagonista do tristemente célebre episódio da "Tragédia da Rua das Flores", o qual constou da tentativa de envenenamento dos sobrinhos da sua mulher, Maria das Dores, para herdar a fortuna do sogro, um rico comerciante de linhos.
No entanto, os seus problemas académicos tinham começado antes. Durante o terceiro ano de frequência da Escola Médico-Cirúrgica foi censurado pelo diretor por ter sido encontrado no corredor a soprar a lição, através da frincha da porta, a um aluno que estava a ser chamado a Anatomia, na aula do Dr. Lebre, que era surdo.
Após o abandono dos estudos universitários ministrou, no ensino liceal, as disciplinas de Literatura, Filosofia e Ciências Naturais e colaborou em jornais políticos e literários, nomeadamente no Intransigente.
De seguida, envolveu-se nas discussões políticas do tempo. Filiou-se no Partido Republicano, cooperou em jornais republicanos, do Porto e de Lisboa, integrou o Clube de Propaganda Democrática do Norte e o Directório do Partido Republicano (de 1897 a 1899 e de 1909 a 1911) e envolveu-se na Revolta de 31 de Janeiro de 1891. Esta intentona, que ocorreu na cidade do Porto, conduziu-o ao exílio e motivou a escrita Do Ultimatum ao 31 de Janeiro, uma obra de cariz patriótico e exaltadora dos ideais republicanos.
Na sequência da concessão de uma amnistia, regressou ao país, deixando definitivamente a vida política activa, sem, no entanto, renunciar aos ideais democráticos e perder o interesse pela actividade dos seus antigos correligionários.
Aquando da formação do Governo Republicano de 1910 recusou assumir a Pasta das Finanças. No entanto, enviou a Teófilo Braga uma revolucionária proposta governativa.
Em 1911 publicou Ditaduras, um opúsculo onde compilou os artigos publicados no diário portuense "A Voz Pública" e recebeu quatro votos na eleição do 1º Reitor da Universidade do Porto, ganha pelo Matemático Francisco Gomes Teixeira.
Em 1912, depois da queda do governo de Augusto Vasconcelos, foi convidado pelo presidente da República a organizar um ministério, mas uma vez mais declinou o convite, alegando motivos de saúde, e aconselhando a entrega da chefia do ministério a Afonso Costa.
Durante a I Guerra Mundial editou diversos opúsculos sobre o conflito ou inspirados por ele (Na Flandres, O nó dos Balcãs, A França e a guerra de 70, A situação militar europeia, A Inglaterra pacifista, O Imperialismo germânico, entre outros).
A 15 de Maio de 1915 rejeitou mais um cargo político, desta vez a Pasta da Guerra.
Vivia para escrever e estudar. E, numa atitude de cidadania ativa, não deixou de apontar os defeitos que encontrava no instável regime republicano que sempre defendera.
Era um homem respeitado e admirado nos círculos intelectuais e políticos, apesar de ser um solitário. Em Matosinhos, onde habitava, convivia com Afonso Cordeiro, Pedro Sousa e, em especial, com Guerra Junqueiro. Foi sobretudo com eles que conviveu até morrer, no Porto, no dia 23 de Março de 1923.
Basílio Teles foi uma reputada figura do seu tempo, o que se deveu à intervenção política, à atividade de publicista crítico da Iª República (1910-1926) e, também, às reflexões económicas, sociais, políticas, históricas e filosóficas (centradas nos temas da teoria da ciência e da metafísica do mal).
Da sua obra escrita podem destacar-se: O Problema Agrícola (1899), Estudos Históricos e Económicos (1901), Introdução do Problema do Trabalho Nacional (1902), Figuras Portuenses - livro resgatado do esquecimento pela sua viúva Teles e publicado em 1961 - e Memórias Políticas (obra póstuma, publicada em 1969, com introdução de Costa Dias).
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)