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Aurélia de Souza 1866-1922 Pintora |
Maria Aurélia Martins de Souza nasceu no Chile, na cidade de Valparaíso, em 13 de Junho de 1866. Foi a quarta dos setes filhos (seis raparigas e um rapaz) do casal António Martins de Souza e Olinda Perez, emigrantes portugueses no Brasil e no Chile.
Em 1869 acompanhou o regresso da família a Portugal que, com o dinheiro amealhado na América Latina, comprou a Quinta da China, na margem norte do rio Douro, nas proximidades da cidade do Porto, onde passou a residir. Após a morte do pai, em 1874, a sua mãe voltou a casar-se, em 1880. O seu segundo irmão nasceu fruto deste casamento.
Aos dezasseis anos, Aurélia iniciou as suas aulas de desenho e pintura com António da Costa Lima, ex-discípulo de Roquemont, e em 1889 pintou o seu primeiro auto-retrato. Quatro anos volvidos, inscreveu-se, juntamente com a sua irmã Sofia de Souza (1870-1960), na Academia Portuense de Belas Artes, na Aula de Desenho Histórico. Com ela, efetuou exames dos dois primeiros anos, começando a frequentar regularmente a escola em Outubro de 1893, no terceiro ano.
Entre 1893 e 1896 integrou diversas exposições, tais como: as Exposições dos Trabalhos Escolares dos Alunos da Academia Portuense de Belas-Artes Considerados Dignos de Distinção (de 1893 a 1896), as Exposições de Belas-Artes do Atneu Comercial do Porto (de 1893 a 1895) e certames promovidos por António José da Costa, Marques de Oliveira e Júlio Costa.
No ano lectivo de 1896-1897, fez o primeiro e o segundo anos do curso de Pintura Histórica, na Academia de Belas-Artes do Porto. No ano de 1897-1898 completou o terceiro ano com a classificação final de dezasseis valores. Em Outubro de 1898 matriculou-se no quarto ano, contudo não chegou a completá-lo.
Em 1899, sem bolsa de estudo do Estado mas com o apoio monetário da sua irmã mais velha, Helena Souza Dias, casada com José Augusto Dias, rumou até Paris. Nos três anos em que aí residiu frequentou os cursos de J. P. Laurens e B. Constant na Academia Julien, expôs e vendeu trabalhos, enviou estudos ao mestre Marques de Oliveira para que este avaliasse a progressão da sua arte e viajou até à Bretanha. Em 1900 pintou o famoso auto-retrato, com casaco vermelho, hoje pertença do Museu Nacional de Soares dos Reis, obra que, ao contrário do primeiro que realizou, não se encontra assinado nem datado. Por esta altura, a irmã e artista Sofia de Souza, com o patrocínio de outra das suas irmãs, Maria Estela de Souza, casada com Vasco Ortigão Sampaio, juntou-se a ela em França, passando ambas a frequentar a já referida Academia em 1900-1901. Em 1902, antes do regresso a Portugal, as duas irmãs dedicaram-se a viajar pela Europa, visitando a Bélgica, a Alemanha, a Itália e a Espanha, aproveitando para frequentar museus, que firmaram em Aurélia o gosto pela pintura flamenga.
Em 1907, foi convidada por António Teixeira Lopes a presidir à Sociedade de Belas-Artes do Porto, mas declinou a oferta. Nos anos seguintes participou nas exposições anuais da Sociedade de Belas-Artes do Porto (de 1909 a 1911), expôs nas Galerias da Misericórdia (1908-1909 e 1911-1912) e do Palácio de Cristal (1917 e 1933), no Porto, e na Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa (de 1916 a 1921).
Em 1921, desistiu de ser sócia da Sociedade de Belas-Artes do Porto, protestando duplamente contra o aumento das quotas e contra o facto de esta instituição deixar de ter sala de exposições.
Para além da sua actividade de pintora, Aurélia fez ilustrações para a revista Portugália, Materiais para o Estudo do Povo Português (1899-1905), para Elegia Pantheista a uma Mosca de M. Duarte de Almeida (1874-1889), trabalhos estes que não chegaram a ser editados, e para o livro de contos Perfis Suaves de Júlio Brandão.
De saúde frágil, morreu na sua casa da Quinta da China, a 26 de Maio de 1922, com 55 anos, uma das poucas mulheres portuguesas que tem, por direito próprio, lugar na galeria dos grandes pintores portugueses da segunda metade do século XIX, a par de artistas de renome como Marques de Oliveira, Henrique Pousão ou António Carneiro, e cuja obra, embora não raras vezes reduzida por críticos do seu tempo à pintura de flores, é feita de temas diversos como o retrato, o seu género favorito (auto-retratos, retratos familiares, etc.); a paisagem, esboçada ou acabada, reflexo das suas viagens ou da sua casa e do Porto rural; e as cenas do quotidiano, representando, em interiores tenebristas, mulheres nas tarefas domésticas ou crianças.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)