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Augusto Santo 1869-1907 Escultor |
“Ismael, a estátua final do curso de Augusto Santo, tem a sua história prosaicamente triste como a poderia ter euforicamente alegre, porque saiu dum esforço interior e consagração humana. Comparam-na ao celebérrimo “Desterrado” de Soares dos Reis, pela imensa desolação e tortura psíquica que ambas as esculturas descrevem dos seus autores. Diogo de Macedo atreve-se a afirmar que são autobiografias de amargura amassadas no barro com o próprio sangue.”
(VILA, Romero, 1963, p. 8-10)
Augusto dos Santos, filho de João e Joana dos Santos, nasceu em Coimbrões, a 1 de abril de 1869.
Escultor naturalista e simbolista, que assinou as suas obras como Augusto Santo, teve uma carreira breve e atribulada. Homem constantemente insatisfeito, destruiu parte da sua produção escultórica.
Depois de estudar em Coimbrões cursou a Academia Portuense de Belas Artes entre 1882 e 1889. Foi condiscípulo e rival de António Teixeira Lopes (ambos se matricularam no dia 20 de outubro de 1882). Aluno rebelde, parece, contudo, ter sido compreendido pelos mestres Soares dos Reis e João António Correia.
Em 1890 concorreu à Exposição de Arte do Ateneu Comercial do Porto. No ano seguinte adquiriu a ferramenta do falecido mestre Soares dos Reis, antes de prosseguir os estudos em Paris, cidade onde se fixou durante três anos, usufruindo de uma subscrição particular do benemérito Joaquim Fernandes de Oliveira Mendes.
Em Paris, instalou-se na rua Denfert-Rochereau, onde residiam outros artistas portugueses como Teixeira Lopes, filho. Contactou com o artista parisiense Alexandre Falguière (1831-1900) e com vários compatriotas, entre os quais os escritores Eça de Queiroz (1845-1900) e António Nobre (1867-1900), os pintores Carlos Reis (1863-1940) e Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e o historiador e crítico de arte José de Figueiredo (1872-1937). Participou no Salon, onde apresentou um medalhão com o retrato de Júlio Ramos.
Em 1893, com o fim do apoio financeiro e a falta de resultados, viu-se obrigado a regressar a Portugal. Começou, então, a trabalhar no seu ateliê em Coimbrões e a frequentar os cafés portuenses da Praça Nova, onde conheceu intelectuais como Pádua Correia e Manuel Laranjeira, que o descreveu como um rosto triste, de misantropo sonâmbulo na multidão.
Entre as poucas obras que sobreviveram à destruição destaca-se a escultura Ismael, prova de final de curso na APBA, datada de 1889. O original, em gesso, conserva-se no Museu Nacional de Soares dos Reis. A obra fundida em bronze encontra-se naquele Museu e no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, em Lisboa.
O tema desta obra é a história do Génesis, do filho de Abraão e Agar, abandonado no deserto e salvo pelo arcanjo S. Miguel. Uma história de abandono e rejeição, traduzida na pose do personagem bíblico.
Augusto Santo, o escultor desventurado (como lhe chamou Diogo de Macedo), morreu no Hospital de Santo António, no Porto, em 26 de setembro de 1907, vítima de tuberculose. Foi sepultado no jazigo n.º 118, de D. Carolina Cândida da Conceição, no Cemitério da Ordem da Lapa, no Porto.
Desde 1915 que dá nome a uma rua em Coimbrões, Vila Nova de Gaia. Em 1998, durante a comemoração do 125.º aniversário do seu nascimento, foi homenageado pela Câmara Municipal e pelos Amigos de Gaia.
(Universidade do Porto Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2018)