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José Domingues de Oliveira 1865-1925 Médico, pioneiro da curieterapia |
José Domingues de Oliveira Júnior, filho de José Domingues de Oliveira, natural de Matosinhos, e de Rosa Carolina dos Santos Araújo, de Leça da Palmeira, nasceu em Leça da Palmeira, concelho de Matosinhos, a 17 de fevereiro de 1865.
Frequentou o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde foi condiscípulo de João Lopes da Silva Martins Júnior. Diplomou-se em 1888 com a defesa da dissertação inaugural A medicação marítima no tratamento da escrófula.
Prosseguiu os estudos nos hospitais de Paris e em 1889, quando regressou a Portugal, deu início à atividade clínica.
Em 1891 começou a trabalhar na área da Sanidade Marítima. Em 1892 era delegado da Estação de Saúde do Porto e, no ano seguinte, subguarda-mor-chefe da delegação de Leixões. Em 1900 foi nomeado guarda-mor da Estação de Saúde de Leixões e, mais tarde, passou a exercer funções como guarda-mor-chefe da 2.ª Circunscrição Sanitária Marítima, sedeada naquela Estação de Saúde. Foi aqui que, a partir de 5 de fevereiro de 1904, começou a funcionar o Posto Marítimo de Desinfeção de Leixões, que levou José Domingues de Oliveira a desenvolver investigação no estrangeiro.
Entre 7 e 30 de março de 1919 esteve preso no Aljube por questões políticas, tendo sido destituído do cargo de guarda-mor-de-saúde-chefe da 2.ª Circunscrição Sanitária Marítima. Em resposta ao seu despedimento, publicou um folheto de 30 páginas intitulado O Meu Protesto contra a minha demissão de guarda-mor de saúde-chefe da 2.ª circunscrição.
Depois de libertado, prosseguiu os estudos médicos em Curieterapia (tratamento por aplicação de radio, cujo nome homenageia Pierre e Marie Curie), em Paris. Aqui adquiriu equipamento de ponta que ofereceu ao Hospital Geral de Santo António, no Porto, e que permitiu a criação de um serviço pioneiro de Curieterapia numa das enfermarias do hospital.
Os últimos anos de vida (1923-1925) foram passados entre Leça da Palmeira e Paris.
Oliveira Júnior foi autor das obras Sanidade Marítima (1911) e Os cancros e o Radio (1923). O produto da sua comercialização reverteu em favor do Asilo de Nossa Senhora da Conceição de Matosinhos e da Associação das Viúvas de Médicos, respetivamente. Escreveu, ainda, o Manual do Sócio Activo das Corporações Humanitárias (1900), A Tuberculose nos Sanatórios (1901), O Grande Professor Tuffier (1921), Curieterapia Ginecológica (1921) e Centenário da Academia de Medicina de França (1921). Publicou também artigos nas publicações periódicas Medicina Moderna, Medicina Contemporânea e Portugal Médico.
Ao longo da sua carreira integrou a organização da secção de Higiene e Epidemiologia do XV Congresso Internacional de Medicina (Lisboa, 1906). Foi delegado do governo no XVI Congresso Internacional de Medicina (Budapeste, 1909) e delegado da Associação Médica Lusitana no primeiro centenário da Academia de Medicina de França (1920). Fez parte da comissão dedicada ao combate ao cancro e à proteção dos doentes oncológicos, nomeada no Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências (Porto, 1921). Esta comissão integrou personalidades da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto como Alberto Aguiar e Carlos Ramalhão.
José Domingues de Oliveira foi agraciado em 1896 pelo governo português com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo e, em 1900, com o da Ordem de Santiago da Espada – em apreço estava a obra desenvolvida na Estação de Saúde de Leixões. Em 1918 foi condecorado com a cruz da Legião de Honra do governo francês pelos serviços prestados à esquadrilha francesa ancorada no porto de Leixões durante a I Guerra Mundial.
Em 1907 foi eleito deputado franquista. Presidiu à Cruz Vermelha do Porto e foi membro da Academia de Medicina de Paris e da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa.
Foi casado com Adelina Leite Nogueira Pinto de Oliveira (1876-1951), filha de José Nogueira Pinto e de Adelaide da Rocha Leite, irmã de José Leite Nogueira Pinto (conde de Leça) e de Joaquina da Rocha Nogueira Pinto Meireles.
Entre os seus amigos contam-se o arquiteto José Marques da Silva, que projectou a decoração e o mobiliário da sua casa (n.º 15 da rua Pinto de Araújo, em Leça da Palmeira), o escultor António Teixeira Lopes e o pintor José Maria Veloso Salgado, autor de vários retratos seus e de sua mulher, nomeadamente os existentes na galeria de benfeitores da Misericórdia de Matosinhos.
Faleceu em Paris no dia 23 de maio de 1925 e foi a sepultar no jazigo-capela da família em Leça da Palmeira.
A notícia da sua morte foi recebida com consternação pelas instituições matosinhenses que havia ajudado em vida - a Confraria do Bom Jesus, os Bombeiros Voluntários, a Associação de Classe União dos Trabalhadores Marítimos de Leixões e o Asilo de Nossa Senhora da Conceição.
Em sua memória, a Associação Médica Lusitana instituiu, em 1925, o Prémio de José Domingues de Oliveira, para distinguir anualmente o melhor trabalho português sobre o cancro. A Câmara Municipal de Matosinhos deu o seu nome a um arruamento - rua Doutor José Domingos de Oliveira - e erigiu um monumento com pedestal da autoria de Marques da Silva (1926-1927) e busto da autoria de Teixeira Lopes, implantado no largo da Capela do Corpo Santo (1929), em Leça da Palmeira. Na cerimónia de inauguração do monumento, descerrado pela viúva, estiveram presentes, entre outras individualidades, o Dr. Augusto Cardia Pires, médico de Leça da Palmeira e amigo do homenageado, o Dr. Forbes de Bessa, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, o Dr. Carlos Lima, Vice-reitor da Universidade do Porto e representante da Faculdade de Medicina, o Dr. Américo Pires de Lima, em representação da Associação Médica Lusitana, o conselheiro Luís Magalhães e o Dr. António de Oliveira da Rocha Leite em nome da família.
(Universidade Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2015)