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Joaquim Gomes Ferreira Alves 1883-1944 Médico e benemérito |
Joaquim Gomes Ferreira Alves nasceu no Porto, a 9 de Abril de 1883, no seio de uma destacada família da burguesia financeira portuense, proprietária da casa bancária Luiz Ferreira Alves & C.ª, e associada ao Clube dos Fenianos do Porto.
Cursou Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo concluído a licenciatura em 1911, com a defesa da tese A Heliotherapia no tratamento da tuberculose cirúrgica. Este estudo surgiu no contexto da reforma republicana do ensino médico, que enfatizou o ensino prático e defendeu as potencialidades terapêuticas do Sol e a sua importância no tratamento das expressões extra pulmonares da tuberculose, consubstanciadas nas terapias de Arnold Rikli (1823-1906), tido como o pioneiro da fototerapia moderna, e nas teorias do médico Auguste Rollier (1874-1958), adepto da helioterapia.
A sua carreira médica iniciou-se na Foz do Douro, onde se associou à Colónia Sanatorial Marítima, instituída em 1916, que combatia o raquitismo e a escrofulose nas crianças e onde Ferreira Alves verificou experimentalmente as suas teses helioterapêuticas.
Por esta altura, editou uma brochura sobre a "necessidade dos Sanatórios Marítimos do Norte de Portugal", viajou com o arquiteto Francisco de Oliveira Ferreira até à Suíça, para visitar as clínicas do Dr. Rollier, em Leysin, conhecidas pelas técnicas inovadoras de Helioterapia, e lançou o projeto do Sanatório Marítimo do Norte, em Vila Nova de Gaia.
Há muito de pessoal e de vivência familiar nesta sua acção. O hospital tinha como objectivo disponibilizar assistência a doentes que, tal como o filho de Joaquim Ferreira Alves, padeciam de tuberculose (no seu caso, de Escrofulo-tuberculose), e tratá-los com as modernas terapias solares. Projetado por Francisco de Oliveira Ferreira, o edifício foi construído numa zona quase desabitada, entre a praia de Valadares e o pinhal de Francelos, e a sua primeira enfermaria foi inaugurada a 19 de Agosto de 1917 e batizada com o nome da benemérita Helena Dias. Dispunha de uma inovadora "galeria de cura", descoberta e projetada para o exterior da construção, dotada de equipamentos modernos, como um aparelho de raio X e a "cama-modelo" do sanatório suíço de Leysin.
Neste sanatório existiu uma Escola Primária, frequentada por crianças doentes e das imediações, e editou-se o jornal "O Girassol", dirigido desde a sua fundação, em 1924, e até 1928, pelo paciente Oliveira Guerra. Institucionalizou-se a prática da procura de emprego para os doentes reabilitados, enquanto os mais ilustrados auxiliavam os menos instruídos a frequentar cursos por correspondência. Foram promovidos espetáculos infantis, por norma em colaboração com a Rádio Clube Infantil, coordenados por D. Emília Resende.
Era o tempo áureo do fascínio e do temor exercidos por esta doença, a qual tem uma expressão literária ímpar na obra "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, que retrata o mundo dos sanatórios suíços, que inspiraram este tipo de realizações.
Com o passar tempo, o edifício foi-se degradando até que, em 1977, foi integrado no Centro Hospitalar de Gaia, ficando agregado ao Sanatório D. Manuel II e ao Hospital Distrital de Gaia. Na década de 80, a Ministra da Saúde, Leonor Beleza, entregou o edifício ao Sindicato dos Enfermeiros, que nele montou a Casa de Repouso do Enfermeiro.
Nas proximidades do Sanatório Marítimo do Norte foi edificada a Clínica Heliântia, ou Sanatório Novo, traçada pelo mesmo arquiteto que elaborou os primeiros estudos, em 1926. Esta obra modernista em betão, inaugurada em 1930, foi erguida numa duna entre o mar e o pinhal de Francelos, apresentando como principal motivo decorativo o girassol (helianthus em grego), que ainda hoje se pode ver moldado nas guardas das varandas, nas molduras das portas de entrada, nas guardas metálicas da caixa de escada, em elementos de proteção dos elevadores, em mosaicos e nalguns candeeiros. Durante os anos 70, a clínica foi comprada pelo BPA à Família Pinto de Azevedo e readaptada pelos arquitetos Manuel Magalhães e F. Abrunhosa de Brito para albergar o IESF (Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais).
Joaquim Gomes Ferreira Alves, médico visionário, maçon, e benemérito, muito querido da população gaiense, morreu de forma trágica no dia 10 de Novembro de 1944, num acidente viário resultante da colisão do seu automóvel com um comboio de mercadorias, na passagem de nível de Francelos. O acidente também vitimou Pedro Vitorino, colaborador e amigo do médico desde os tempos da Academia Politécnica, que com ele viajava, quando ambos se dirigiam à Clínica Heliântia.
Para além dos dois sanatórios que se encontram em vias de classificação pelo IGESPAR, Joaquim Ferreira Alves deixou um enorme arquivo fotográfico composto por milhares de chapas de vidro.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2009)