![]() |
Júlio Xavier de Matos 1856-1922 Psiquiatra e professor universitário |
Júlio Xavier de Matos nasceu no Porto a 26 de Janeiro de 1856.
Era filho de Rita Xavier de Oliveira Barros e de Joaquim Marcelino de Matos (1824-1868), jornalista, escritor e advogado – que salvou da forca José Teixeira da Silva, mais conhecido por "Zé do Telhado", e tirou da Cadeia da Relação o escritor Camilo Castelo Branco. Era sobrinho de João Xavier de Oliveira Barros, lente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto e irmão de Eduardo, António e Maria do Carmo Xavier de Oliveira Barros.
Em 1865 ficou órfão de pai, tendo sido amparado pela família materna, nomeadamente pelos tios que muito contribuíram para a sua educação.
Em 1874, com quase 18 anos, brilhou na inauguração da associação estudantil "Aliança Académica", ao discursar e ler poesia.
Estudou medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo-se licenciado em 1880 com a defesa da tese inaugural intitulada "Patolhogenia das Hallucinações", que dedicou à mãe, aos tios João e Júlio Xavier de Oliveira Barros e ao Dr. José Carlos Lopes.
Durante o curso conheceu Teófilo Braga (1843-1924), que viria a casar com a sua irmã Maria do Carmo e com quem viria a colaborar cientificamente.
Júlio de Matos começou a trabalhar como médico-adjunto do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira (atual Centro Hospitalar Conde de Ferreira), pouco depois da abertura deste hospício, em 1883, o qual era propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Após a morte do seu primeiro diretor, António Maria de Sena (1845-1890), Júlio de Matos assumiu a chefia da instituição.
Em 1892 participou no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, por convite de Bernardino Machado, no qual apresentou uma comunicação subordinada ao tema "O ensino da Filosofia nos liceus portugueses".
Em 1908 assinou o programa da Liga de Educação Nacional e no ano seguinte assumiu a direção do curso de Clínica de Doenças Mentais.
Em 1911, com a fundação da Universidade do Porto, tornou-se o 1.º professor de Psiquiatria - cadeira introduzida pela reforma de 1911 - da Faculdade de Medicina. Na eleição do primeiro reitor obteve 3 votos.
Pouco depois transferiu-se para Lisboa para dirigir o Manicómio Miguel Bombarda (1911-1923) e ministrar a recém-instituída cadeira de Clínica Psiquiátrica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Mais tarde, lecionou Psiquiatria Forense no Curso Superior de Medicina Legal.
Em Lisboa, apesar de centrar a sua vida profissional na modernização da assistência psiquiátrica e na criação de um novo hospital com esta especialidade, foi, também, membro do Conselho Superior de Instrução Pública (eleito em 1911) e convidado a ocupar a pasta da Instrução Pública.
Júlio de Matos foi escritor e crítico afamado. Cofundador e diretor, com Teófilo Braga, da publicação periódica "Positivismo: revista de philosophia", foi membro do Conselho Médico-Legal, da Sociedade de Ciências Médicas, da Academia das Ciências de Lisboa, da Société Médico-Psychologique de Paris e da Société Clinique de Médecine Mentale.
Júlio de Matos, um dos primeiros leitores portugueses dos trabalhos de Darwin, foi autor de uma "Historia Natural Illustrada: compilação sobre os mais auctorisados trabalhos zoologicos", considerada hoje uma raridade bibliográfica, na qual compilou trabalhos de Buffon, Brehm, Figuier e Milne-Edwards. Entre as suas obras podem destacar-se o "Manual de Doenças Mentais" (1884, reeditado em 1911 sob o título de "Elementos de Psychiatria"), "A Loucura: Estudos Clinicos e Medico-Legaes" (1889), "Allucinações e Ilusões" (1892), "A Paranóia" (1898), "Estudos Clínicos e Médico-legais sobre a loucura" (1899), "A Questão de Calmon" (1900), "Os Alienados nos Tribunais" (3 vols., 1902-1907), "Assistance aux Aliénés" (1903) e "Amnésia Visual" (1906). Salientam-se igualmente as comunicações apresentadas ao XIV Congresso Internacional de Medicina (1903) sobre "Assistência aos alienados criminosos sob o ponto de vista legislativo" e ao XV Congresso Internacional de Medicina (1906) – "Contribuição ao estudo da amnésia visual".
Júlio de Matos foi casado com Júlia Carlota de Araújo Ramos e teve uma filha, Sara Xavier de Matos.
Este grande alienista, pioneiro do ensino da Psiquiatria e dos estudos clínicos e médico-forenses de Psiquiatria em Portugal, reformador da assistência psiquiátrica (por decreto de 11 de Maio 1911), morreu em Lisboa a 12 de Abril de 1922, vítima de tuberculose pulmonar crónica.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012)