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Inclusão...

É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança

Fotos e tradução LGP

“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” diz um provérbio africano. Esta foto trouxe-me à memória os ecos desse sábio provérbio! Eu diria: para que todo o potencial de uma pessoa se possa manifestar no mundo é preciso um coletivo com diferentes competências a trabalhar em conjunto.

O César Casa Nova, pessoa surdo cega, licenciou-se em Matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, defendendo a sua tese de Mestrado em Ensino e Divulgação das Ciências, também da FCUP, com o título “Ensino da Matemática e Inclusão: adaptações curriculares para alunos com necessidades educativas especiais” tendo obtido a classificação de 18 valores.

Foi com muito orgulho e muita alegria que no dia 16 de dezembro o NAI e o resto dos membros desta “aldeia” se juntaram, presentes e em pensamento, para assistir aos resultados do trabalho deste brilhante estudante, trabalho inovador e que abre múltiplas possibilidades de investigação para a melhoria das condições de ensino e aprendizagem das pessoas surdas.

Sem querer com isto retirar valor à inteligência, qualidades científicas, à resiliência, à alegria e generosidade do César para connosco, que resultou no excelente trabalho do estudante, não posso deixar aqui de falar sobre esta aldeia: - outras (muitas) pessoas surdas, agora docentes, técnicos em diferentes níveis de ensino que abriram caminhos, operaram como modelos aos que se seguiram… - os docentes, quer do ensino secundário e do ensino superior, aqui colegas da FCUP e outras Faculdades, que souberam ver “para lá da deficiência”, identificar a inteligência e potencial deste estudante, compreender a pessoa e construir com ele métodos de trabalho específicos que lhe conferiram as ferramentas para avançar no seu percurso académico; - os técnicos de acolhimento e acompanhamento da FCUP, dos Serviços de ação social, outros serviços e ainda os Mecenas da U.Porto para esta componente de ajudas técnicas, que souberam, quer ao nível administrativo, quer ao nível de apoios económicos e sociais, encontrar com o estudante, as soluções adequadas para dar resposta às necessidades logísticas específicas que permitiram ao estudante contar com adequados recursos para poder trabalhar… - a família, que nunca desistiu e nunca mediu esforços para o sucesso desta pessoa, acreditando fortemente e recusando aceitar o “não podismo” com que estas famílias sempre se enfrentam no seu esforço pelo acesso à educação em condições dignas para os seus filhos… - os intérpretes, que cumpriram o seu trabalho de forma exemplar e foram mais além, acompanhando o esforço, não conseguindo evitar a vivência das conquistas e as frustrações de quem acompanhavam, aprendendo sempre muito…

Face a estes resultados fica uma pergunta:
- qual o sentido dos individualismos esquizofrénicos tão em voga nestes tempos com que tropeçamos a cada passo na nossa atividade quotidiana?

A toda esta “aldeia” e todos os que pontualmente no caminho também foram determinantes, esta é a minha/nossa homenagem: a solução está no conjunto, na diversidade da composição que produz as mais belas obras que apontam o caminho e ganham a eternidade.

Gratidão César do NAI U.Porto por fazer parte!