António Sampaio 1916-1994 Pintor e professor |
António de Assunção Sampaio nasceu no n.º 3 da Rua Luís de Camões, em Vila Nova de Gaia, a 19 de Agosto de 1916. Era filho de Armando Sampaio e de Zélia de Assunção Sampaio e irmão de Armando Artur, Vítor, Maria Lígia e José Heitor.
O pai foi oficial do exército e Administrador de Caconda, em Angola e quando regressou a Portugal desenvolveu a atividade de comerciante, tendo sido o proprietário da Pensão Aviz, no Porto.
Durante a infância, António Sampaio frequentou a "Escola das Palhacinhas", situada na Rua Direita, em Vila Nova de Gaia (1923-1927) e também estudou no Colégio Universal (1928-1929), no Porto.
Com 14 anos de idade inscreveu-se no curso Preparatório da Escola de Belas Artes do Porto, sem o conhecimento do pai, para cursar Pintura.
Nesta Escola conviveu com outros futuros artistas plásticos e arquitetos como Abel Moura, Guilherme Camarinha, Januário Godinho, Fernando Távora, Nadir Afonso e Dominguez Alvarez.
Em 1932 ingressou no Curso Especial de Pintura da ESBAP. Durante a licenciatura realizou decorações murais para estabelecimentos comerciais e equipamentos culturais, assim como obras oficiais, nomeadamente os trabalhos em parceria com Abel Moura para a Exposição Colonial do Porto.
Terminado o percurso académico, António Sampaio ingressou no Curso Superior de Pintura (1937-1944), também na ESBAP, no qual foi discípulo de Dórdio Gomes e de Joaquim Lopes; nesse tempo, conciliou os estudos com o trabalho na "Cerâmica Lusitânia" (1937-1944).
Em 1938 vendeu as suas primeiras pinturas a destacadas personalidades portuenses.
No ano seguinte, associou-se a uma tertúlia cultural de oposição política ao Estado Novo, que reunia no Café Majestic, na Rua de Santa Catarina, Porto, e era frequentada por gente como Eduardo Santos Silva, Virgínia Moura, Artur Vieira de Andrade e Januário Godinho.
Em 1940, fundou com outros tertulianos a Sociedade Editora Norte, que publicou um jornal clandestino. Continuou os estudos como pensionista do legado Ventura Terra e venceu o primeiro de vários galardões: o Prémio Rodrigues Soares.
Em 1941 estreou-se a expor de forma individual, no Salão Silva Porto, no Porto. Desde essa data até 1993 não deixou mais de o fazer. Fez-se representar em numerosas exposições individuais em Portugal (Porto, Vila Nova de Gaia, Amarante, Viana do Castelo, Braga, Póvoa de Varzim, Ofir, Vila Praia de Âncora e Leiria), em Londres e Nova Iorque.
Entre 1943 e o início dos anos 90 participou, com frequência, em exposições coletivas, patentes ao público em instituições como a Sociedade Nacional de Belas Artes, o Secretariado Nacional de Informação, o Museu Nacional Soares dos Reis e o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso e associou-se às mostras dos "Independentes" e às Bienais de Cerveira.
Entre 1944 e 1947 partilhou ateliê com os arquitetos Paulo Alijó, Moura da Costa e Sequeira Braga.
Entretanto, em 1945 apresentara a tese na ESBAP, casara com Marie Thérèse Beyer de quem teve duas filhas (Maria Antónia, 1949 e Maria Teresa, 1951) e iniciara uma longa carreira de docente do ensino secundário.
Em Dezembro de 1947 partiu para Paris, cidade onde se manteve até ao verão de 1948. Durante esse período frequentou as academias La Grande Chaumière e Julian, os ateliês dos pintores André Lhote e Fernand Léger e o ateliê de fresco de Duco de La Haix, assim como gravura na Escola de Belas Artes. Conviveu com Júlio Resende, Nadir Afonso, com o poeta André Figueiras. Passou pelo atelier de Vieira da Silva e Arpad Szenes e fez gravura, estudos de nus, cenas de interior e vistas citadinas, para além de pequenos trabalhos (assinados "Jean Luc" e "AS") que enviou para serem vendidos em Portugal.
Durante os anos cinquenta, instituiu a Academia Alvarez com Jaime Isidoro, no n.º 171, 1.º andar, da Rua da Alegria, no Porto (1954), organizou as atividades culturais do Carnaval para o Clube Nacional de Montanhismo (1957), criou um Atelier Livre na Rua Formosa (1954) e ajudou a criar o efémero grupo "Ceramistas Modernos" (1961).
Durante os cerca de 30 anos de ensino trabalhou em diversas escolas, como na Escola Industrial Infante D. Henrique e na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis, no Porto, na Escola Industrial de Viana do Castelo, na Escola Industrial de Oliveira de Azeméis, na Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo, em escolas da Covilhã, de Faro e de Lisboa e na Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo, onde se reformou em 1986.
No decurso da sua carreira artística ilustrou a obra "Sede" de António Ramos de Almeida (1942), livros escolares de Pedro Homem de Melo e postais de sabor etnográfico (1944). Com o arquiteto António Neves desenhou brasões para ornar reposteiros de solares (1938). Decorou casas comerciais da baixa portuense, tendo, entre outros, pintado os frescos da pastelaria Bocage, na Rua de Santo Ildefonso, e um fresco para o Cinema Batalha. Em 1954, realizou trabalhos de motivos alentejanos (cerâmica, aguarelas e desenhos). Retratou figuras da sociedade como Joaquim Carvalho, benemérito do Coliseu (1941), Maria José Mariani (1944) e a sobrinha-neta de Teixeira de Pascoaes (1950). Explorou as potencialidades artísticas da cerâmica, tendo, por exemplo, executado painéis cerâmicos para uma fábrica (1964) e para um hotel (1972) em Espinho. Pintou e desenhou paisagens, designadamente de Sintra, do Minho, do Marão e lugares sossegados e enigmáticos, numa fase de afastamento da vida pública (1975). Foi autor de telas naïf e associou-se ao Instituto de Apoio à Criança, nos anos 90. Produziu cartões para tapeçarias executadas na "Manufactura de Tapeçarias Muro" e para o Hotel Praia-Golfe de Espinho.
António Sampaio teve muitas moradas. Depois do casamento trocou Vila Nova de Gaia pela Quinta do Mirante, em Águas Santas, propriedade dos seus sogros. Entre 1950 e 1952 alugou casa em Ofir, onde passou várias temporadas. Dois anos depois transferiu-se para Viana do Alentejo. Em 1955 voltou ao Porto e, em 1958, depois da venda da quinta na Maia, alugou uma casa na Rua de S. Crispim. Em 1961 mudou-se para a Rua do Seixal. No ano seguinte edificou a "Casa do Rio", em Gondomar, riscada por Fernando Tudela e para a qual se mudou em 1963. Mais tarde, em 1978, adquiriu uma casa em Gouvim, Gondarém, nas proximidades de Vila Nova de Cerveira, que começou a restaurar em 1979, numa altura em que residia simultaneamente em Gondomar e Afife. Aí se veio a fixar na década de oitenta.
Em todos os locais onde estudou, trabalhou e habitou, ao longo da sua vida, rodeou-se sempre de amigos, como os pintores Dominguez Alvarez e Carlos Carneiro, o escultor Arlindo Rocha, os poetas Pedro Homem de Melo, Teixeira de Pascoaes, Sebastião da Gama, Júlio/Saúl Dias e António Porto-Além, o violinista Herberto de Aguiar, a escritora Luísa Dacosta, os irmãos Ernesto e Eduardo Veiga de Oliveira, Alexandre e Júlia Babo e o mestre ceramista Lagarto. Entre os anos 60 e o 25 de Abril de 1974 recebeu gente das artes e do jornalismo no seu ateliê da casa de Gondomar.
António Sampaio foi também um curioso viajante. Conheceu profundamente o Minho e, após o casamento, visitou S. Pedro do Sul, Lisboa, Sintra, Arrábida e o Algarve. Deslocou-se aos grandes museus de Espanha e da França. Percorreu a Alsácia, terra natal da sua mulher, a Bélgica, a Itália e a Inglaterra, e regressou várias vezes a Espanha e a França.
Morreu na sua casa de Gouvim, a 27 de Março de 1994.
Em 2016 foram-lhe dedicadas duas exposições póstumas: 100 anos do nascimento de António Sampaio, patente no Fórum Cultural de Cerveira (Vila Nova de Cerveira), e António Sampaio: do Douro ao Mar, no Museu do Vinho do Porto (Porto).
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2009)