Saltar para:
Logótipo SIGARRA U.Porto
This page in english A Ajuda Contextual não se encontra disponível Autenticar-se
Você está em: U. Porto > Memória U.Porto > Antigos Estudantes Ilustres U.Porto: Francisco José Resende

Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

Francisco José Resende

Auto-retrato de Francisco José Resende Francisco José Resende
1825-1893
Pintor e professor



Francisco José Resende de Vasconcelos nasceu no Porto a 9 de Dezembro de 1825. Era filho de Alexandre José Resende de Vasconcelos e de Maria do Carmo de Meireles Brandão.

Vendedeiras de Francisco José ResendeDurante a meninice frequentou a Aula de Primeiras Letras do Professor Francisco Pereira Leite e, com dezasseis anos de idade, inscreveu-se na Academia Portuense de Belas Artes.
Nesta Escola cursou Desenho (1841-1845) e Pintura Histórica (1845-1849), tendo sido aluno na disciplina de Desenho de Francisco António da Silva Oirense e de Tadeu Maria de Almeida Furtado e na disciplina de Pintura de Joaquim Rodrigues Braga e de Domingos Pereira Carvalho.

Na exposição trienal da APBA, de 1848, onde expôs alguns dos seus trabalhos, Francisco José Resende enamorou-se das paisagens minhotas do pintor suíço Auguste Roquemont (1804-1852), o qual viria a tornar-se seu mestre e sob cuja influência abandonou a pintura academista, aderindo antes aos temas populares.

Em 1849 juntou-se à "Sociedade Académico-Dramática", agremiação onde viria a granjear fama como ator amador, fez o pano de boca do Teatro Camões e, depois de concluídos os estudos, concorreu, com sucesso, à cadeira de Pintura Histórica da APBA.
No ano seguinte instalou um atelier na Rua de Santo António e pintou "Fogueira de Rapazes" para a porta do fogão de sala do palacete do Conde do Bolhão.

Em 1851 tomou posse da Substituição da Cadeira de Pintura Histórica na APBA e participou na trienal da Academia, com 10 telas, entre as quais se notabilizou "Vareira vendendo sardinhas", que foi muito bem acolhida pela crítica.

Retrato de Auguste RoquemontNo início de 1852, após a morte de Roquemont, Resende fez-se representar de joelhos, junto à sua campa, chorando. Não obstante, a perda do seu mentor não o fez descurar a carreira. Aproveitando a passagem da família real pelo Porto, foi apresentado a D. Fernando II no dia 4 de Maio, no Palácio das Carrancas, conhecido mecenas e colecionador de arte. Nessa ocasião ofereceu-lhe várias obras, entre as quais se contava a "Vareira", e do rei português recebeu elogios sobre o seu talento e a promessa de apadrinhar a continuação dos seus estudos no estrangeiro.

Efetivamente, depois da exibição pública de "Camponesa dos Carvalhos" no Museu Allen, em Setembro daquele ano, o rei cumpriu a sua promessa ao conceder ao pintor a tão desejada pensão.

Em 1853, Resende regeu ainda as cadeiras de Modelo Vivo e de Pintura Histórica (Fevereiro a Junho), pintou o retrato de José Vitorino Damásio, fundador da Associação Industrial Portuense a pedido desta instituição e, finalmente, a 12 de Julho partiu para Paris.
Durante a viagem visitou o Museu de Marselha. À chegada a Paris procurou um bom professor de Pintura, tendo optado por Adolphe Yvon (1817-1893), reputado pintor que o aceitou como discípulo. Infelizmente, a estadia na capital francesa foi de curta duração pois uma nevralgia cerebral obrigou-o a regressar ao Porto em Novembro de 1853.

Autoretrato de Adolphe Yvon

Restabelecida a saúde voltou a Paris, a 11 de Maio de 1854. Durante esta segunda estada parisiense prosseguiu as aulas de desenho com Yvon, copiou quadros do Louvre, em particular do pintor flamengo Rubens, e viajou até Londres.

Em Setembro de 1855 regressou ao Porto, para retomar o seu lugar na APBA e continuar a pintar. Porém, o seu estilo mudara e o pintor parecia sem rumo. Sem a orientação de um mestre, entregou-se a duvidosas experiências pictóricas.

Durante o ano de 1857 regeu a Aula do Nu na APBA e voltou a expor pinturas na trienal da APBA e, pela primeira vez, esculturas ("Mendigo" e "Auto-retrato").

Em Abril de 1858 partiu para Lisboa. Na bagagem levava os quadros "Miséria" e "Tasso no Hospital", para o seu mecenas. D. Fernando, imune à polémica gerada em torno de algumas obras do pintor, recebeu-o efusivamente e ofereceu-lhe um botão de camisa com um brilhante.

No ano seguinte, Francisco José Resende pintou os retratos do Conde de Ferreira, de D. Pedro V e de D. Fernando e publicou a sua primeira crítica de arte na edição de 25 de Julho do "Eco Popular".

Durante os anos sessenta participou em diversos certames artísticos, como na Exposição Industrial Portuense (1861), nas exposições trienais da APBA (1860, 1863 e 1866), no Salão da Promotora (1866 e 1868) e na Exposição Internacional do Porto (1865) e esteve representado na Exposição Universal de Paris de 1876. Visitou Lisboa no primeiro trimestre de 1861, onde expôs "Castanheira do Reimão", obra destinada a D. Pedro V, e a "Vareira", a D. Fernando. Este, ao receber a pintura, felicitou o artista, afirmando tratar-se do seu melhor trabalho, e beijou a sua filha Claire, que o acompanhava.

Francisco José Resende viajou por Londres, pela Alemanha, França e Bélgica durante o ano de 1862. Regeu a Aula de Pintura (1869), pintou, entre outros, o elogiado retrato de D. Luís I, para a Tribuna do Teatro de S. João, e a "Lavradeira dos Carvalhos", que ofereceu ao príncipe Humberto de Sabóia, em 1862. Escreveu sobre as exposições que visitou e nas quais participou e para os jornais "Comércio do Porto" e "Diário Mercantil".

Apesar de ser um artista algo controverso, Resende era indiscutivelmente uma figura popular, distinta pelo seu aspeto romântico e que, estranhamente, se assumia como um abnegado pai solteiro, muito bem cotado, sobretudo na cena artística do Porto.

Nos anos setenta continuou a pintar retratos e cenas populares, esteve associado a certames artísticos no país e no estrangeiro (Exposição da Sociedade Promotora de 1870, Exposição de Belas-Artes de Madrid, Exposição Universal de Londres de 1872, XI Exposição Trienal da Academia de 1874 e Exposição Universal de Paris de 1878, sobre a qual escreveu para "O Primeiro de Janeiro", destacando a obra de William-Adolphe Bouguereau), vendeu obras suas para ações de caridade e regeu a Aula de Escultura na Academia Portuense (1879).

Na década seguinte escreveu sobre a exposição de Belas-Artes no salão camoniano (1880), participou na Exposição de Belas-Artes de Madrid (1881) e na Exposição Universal de Paris de 1889, que relatou para "O Comércio do Porto" e para "O Primeiro de Janeiro". Viajou de novo pela Europa, onde conheceu Bouguereau em Paris (1881), pintou o retrato do príncipe real de Nápoles, em Roma, em 1888, o qual ofereceu à rainha e lhe valeu um relógio de ouro do rei Humberto. Pintou inúmeros retratos, nomeadamente de D. Luís I, de D. Carlos, de D. Maria Pia, do Marquês de Pombal, de D. Antónia Adelaide Ferreira, do fotógrafo Carlos Relvas e de Pasteur para a Escola Médico-Cirúrgica do Porto (1886); e ainda uma monumental tela intitulada "A Apoteose de Hahnemann", dedicada ao pioneiro da Homeopatia e encomendada pelo médico lisboeta António Monteiro Rebelo da Silva, que o artista executou entre Paris e o Porto (1885-1887); para além de quadros de costumes para ilustrar o "Portugal Pittoresco". Leiloou quadros para ajudar os pescadores do Furadouro (1881) e fez telas para auxiliar as famílias das vítimas do incêndio do Teatro Baquet.

Jubilou-se em 1882, no final de três décadas na Academia.

Camponesa de Ilhavo de Francisco José ResendeNo início de Setembro de 1891 procurou, no Gerês, as melhores para a dispepsia, doença que já há algum tempo o preocupava, bem como à sua filha Claire, e vendeu o quadro do clínico alemão ao Conde de Leopoldina, um brasileiro de origem escocesa. No Verão de 1892 tentou em vão restabelecer-se na Casa da Família Negrão, em Mosteirô. Faleceu no Porto a 30 de Novembro de 1893.

Francisco José Resende havia sido um pintor popular e conservador, sempre fiel à pintura romântica, e que, ironicamente, apesar de não gostar de pintar retratos, o fez com muita frequência durante toda a sua carreira para encomendadores privados e instituições religiosas e públicas (misericórdias, irmandades, escolas e paços dos concelhos). A sua preferência recaíra sempre em quadros de costumes, mais prestigiantes, mas muito menos rentáveis.

Seis anos após a morte do artista, Claire, sua filha, doou a tela "Amai-vos uns aos outros" à Academia Portuense de Belas Artes, quadro que hoje integra o acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2010)

Recomendar Página Voltar ao Topo
Copyright 1996-2024 © Universidade do Porto Termos e Condições Acessibilidade Índice A-Z Livro de Visitas
Última actualização: 2016-06-22 Página gerada em: 2024-11-08 às 22:59:54 Denúncias