João Marques de Oliveira 1853-1927 Pintor e professor |
A 23 de Agosto de 1853, nasceu no Porto, nos nºs 92 a 94 da Rua de Santo António, João Marques da Silva Oliveira, terceiro dos sete filhos de Joaquim Marques de Oliveira e de Margarida Souza Loureiro, naturais de Valongo.
A vocação para o desenho expressa desde a infância levou-o, com onze anos de idade, a ingressar na Academia Portuense de Belas Artes, durante o ano letivo de 1864-1865, nas aulas de Desenho Histórico, Arquitetura Civil e Perspetiva. Frequentou, com bom aproveitamento, os cinco anos do curso de Desenho, obtendo menções honrosas na Disciplina de Desenho Histórico, nos 3º e 4º anos, e o primeiro prémio na mesma disciplina no final do curso.
Entre 1866 e 1869 expôs os primeiros trabalhos na 9ª e 10ª Exposição Trienal da Academia Portuense de Belas Artes. Em 13 de Outubro de 1869 matriculou-se no curso de Pintura Histórica, no qual se distinguiu como um dos melhores alunos de João António Correia. Fez os quatro anos do curso com boas classificações e no último ano prestou provas no Concurso de Pensionista do Estado no Estrangeiro, tendo sido aprovado com a classificação de dezoito valores. Iniciava, assim, o seu percurso internacional.
Em 1873, partiu para Paris com o colega Silva Porto, nesta qualidade de pensionista na classe de Pintura Histórica, enquanto o seu irmão Joaquim Marques da Silva Oliveira também enveredava por uma carreira artística, ao inscrever-se na Academia Portuense de Belas Artes.
Na cidade luz, Marques de Oliveira prosseguiu os estudos na Escola Nacional de Belas Artes com os professores Alexandre Cabanel e M. Yvon e teve oportunidade de contactar com alguns movimentos pictóricos, como o naturalismo da Escola de Barbizon e o Impressionismo, e de efetuar visitas de estudo à Holanda, à Bélgica e à Itália. As suas obras deste período foram, por diversas vezes, agraciadas com medalhas e menções honrosas. Como prova final do pensionato apresentou o quadro Céfalo e Prócris.
No regresso ao país em 1879, numa época conturbada no meio artístico portuense, dominada pelo aceso debate sobre a reforma académica e do ensino das Belas-Artes, Oliveira e Silva Porto introduziram a Pintura de Ar Livre em Portugal e foram nomeados Académicos de Mérito da APBA. Neste contexto, surgiu no Porto, em 1880, o Centro Artístico Portuense, uma associação de artistas que buscavam o progresso das artes em Portugal, tal como em Lisboa pretendia o Grupo de Leão de Silva Porto. Na primeira eleição para a direção desta instituição, o escultor Soares dos Reis assumiu a presidência e Marques de Oliveira a vice-presidência, integrando também o conselho técnico. Nessa qualidade, organizou uma aclamada exposição, intitulada “Bazar do Centro Artístico Portuense”, que decorreu no antigo e já desaparecido Palácio de Cristal, entre 27 de Março e Abril de 1881.
Ainda nesse ano, aconteceu a primeira reforma das Academias de Belas Artes, do Porto e de Lisboa, que se traduziu num acréscimo de cursos e na distinção entre a Academia, destinada a promover a arte e a arqueologia e proteger o património dos museus, e a Escola de Belas Artes, vocacionada para o ensino. Nesta altura, Marques de Oliveira foi nomeado professor interino de Desenho Histórico da Escola de Belas Artes do Porto, ao passo que no campo da sua produção artística integrou a Exposição Geral de Belas-Artes de Madrid e participou na 13ª Exposição Trienal da APBA. Em 1882, com Caetano Moreira da Costa Lima, prestou provas no concurso para professor.
Daí em diante, além da APBA e do CAP, o artista e professor expôs as suas populares e premiadas obras, daí em diante, nas exposições da Comissão Promotora do Visconde da Trindade, da Sociedade Promotora das Belas Artes em Portugal, no Grémio Artístico, no Instituto Portuense de Estudos, nas Conferências e Fotografia União e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Pelo decreto de 26 de Maio de 1911, as Academias de Belas Artes deram lugar a três Conselhos de Arte e Arqueologia, ficando a Circunscrição do Porto (a 3ª) a tutelar o Museu Portuense que passou então a denominar-se Museu Soares dos Reis e o ensino artístico dividiu-se em dois cursos, o Preparatório e o Especial, sendo excluído do curso de desenho a cópia de estampas, preterida pelo maior enfoque dado ao desenho do modelo vivo. Marques de Oliveira, diretor da APBA desde 1906, e com influência nestas reformas, foi nomeado presidente da mesa e membro da Comissão Executiva do Conselho de Arte e Arqueologia do Porto.
Em 1913 deixou o cargo de director da Escola de Belas Artes do Porto para assumir o de diretor do Museu Soares dos Reis, mantendo, no entanto, os seus cargos no Conselho de Arte e Arqueologia. Em 1926 foi compelido a abandonar a docência, por ter excedido a idade limite permitida pela nova lei, mas também por motivos de saúde.
A 9 de Outubro de 1927 morreu, no n º 237 da Rua Formosa, este notável professor e insigne artista, que introduziu no Porto o Naturalismo. Dele recordamos a sua luta pela modernização da Escola de Belas Artes do Porto e pela renovação artística nacional, a sua longa e frutífera carreira de docente e a sua inovadora obra, na qual se dedicou essencialmente à Pintura de Paisagem (paisagens nortenhas de Matosinhos, da Aguda, da Póvoa de Varzim), à Pintura decorativa (por exemplo, as telas de cânhamo do Gabinete da Presidência do Palácio da Bolsa, no Porto), à Pintura Religiosa (os painéis da Sagrada Família e do Coração de Jesus das igrejas dos Congregados e de São Lourenço, no centro histórico do Porto), bem como à Ilustração.
A 24 desse mês de Outubro, Henrique António Guedes de Oliveira, em sessão ordinária da Escola de Belas Artes do Porto, prestou uma sentida e merecida homenagem ao falecido mestre. Dois anos mais tarde, em 1929, Marques de Oliveira foi mais uma vez homenageado no Porto, através da inauguração de um busto em bronze no Jardim de São Lázaro, perto da escola onde lecionou durante 45 anos, obra projetada por Marques da Silva e com escultura de Soares dos Reis, e da organização de uma exposição de quadros seus, no Ateneu Comercial do Porto, lugar onde muitas vezes havia exposto.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)